Superintendente do Senar fala de ações para o futuro do agronegócio
Foto: Divulgação
Bruno Faustino
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O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/ES) atua na formação, no apoio e desenvolve diversas ações em prol da agricultura do Espírito Santo. Falando sobre o futuro da agricultura capixaba, a superintendente do Senar, Letícia Toniato Simões, citou que a tecnologia e a capacitação são importantes ferramentas para que o setor agrícola capixaba avance ainda mais. Ela citou o serviço de assistência técnica e os cursos de capacitação oferecidos pela entidade, e a importância das agroindústrias para atrair os jovens ao campo.
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Revista Negócio Rural – Como está a agricultura/agronegócio capixaba hoje?
Letícia Toniato Simões – Eu vejo uma grande força no agronegócio capixaba. A maior parte da economia dos municípios é agrícola, uma das principais fontes de geração de emprego e renda. No Espírito Santo, temos um agronegócio diversificado. O carro chefe é o café, mas estamos despontando na exportação de frutas, inovando na produção de pimenta do reino, na floricultura.
Vemos uma agricultura que pensa cada vez mais na qualidade como agregação de valor e renda, por exemplo, com a identificação geográfica do café e a busca dos produtores em produzir cafés de qualidade. Alcançar alta produtividade nós já conseguimos, mas estamos em uma nova era, a do agronegócio 4.0. Vejo também uma agricultura sustentável, preocupada com a preservação ambiental.
O que precisamos é trabalhar mais a gestão dentro das propriedades, para que seja economicamente sustentável. Falta o produtor conhecer quanto custa o seu produto e por quanto poderia vender para ter lucro. A dificuldade financeira é o que gera insatisfação no campo, muitas vezes. Uma grande parcela dos produtores precisa entender que não possui uma propriedade, mas uma empresa, que tem que produzir, gerar receita e lucro.
E, para isso, elesprecisam conhecer os custos da atividade. É importante ter um olhar forte sobre as novas tecnologias, mas também se preocupar com a gestão do seu negócio. Pensando nisso, o Senar-ES oferece o serviço de assistência técnica e gerencial para mais de 800 produtores rurais do Estado gratuitamente.
Como manter a juventude rural no campo?
Esse é um grande desafio. Já temos a facilidade de acesso às tecnologias no campo, por exemplo, a maioria dos produtores e de seus filhos possui celular, com acesso à internet. Isso facilita que os jovens não fiquem tão isolados, como era visto antigamente.
A chegada da internet dentro das propriedades possibilita também a migração de jovens que foram para a cidade e estão agora vendo no campo uma oportunidade, enxergando que você pode viver muito bem, ter qualidade de vida, conectados com o mundo, sem sair do agronegócio.
Esse é um dos atrativos para a juventude. O que precisamos melhorar são as oportunidades para a agregação de valor e renda. O negócio tem que ser financeiramente sustentável. Assim, o jovem tem condição de comprar seu carro próprio, viajar, qualificar-se, buscar novas formações. Hoje, até a faculdade está na palma da mão, ele pode assistir às aulas a distância, como na Faculdade CNA, no Curso Técnico em Agronegócio, do Senar-ES.
Ou seja, o jovem não precisa sair da propriedade nem para estudar mais. Anos atrás, ele não tinha interesse em permanecer no campo porque faltavam também essas facilidades. Tudo acontecia fora da propriedade, mas, nesse novo modelo de ensino, a formaçãonão é mais impossível de acontecer, estando dentro do campo.
Qual o papel atual da mulher na agricultura familiar?
O papel da mulher está ganhando força a cada dia, em todos os sentidos. Não com a intenção de querer se valer da prerrogativa de ser mulher e ser diferenciada. Ela é uma parceira do seu cônjuge, do filho, porque isso já é natural da mulher. Ela consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo, consegue empreender com garra. Nãocom intuito de competir, mas de ser parceira.
Apesar de ainda termos maioria masculina, issojá está caindo por terra. No agronegócio capixaba vemos muitas mulheres fazendo a diferença, a frente de propriedades rurais, ocupando cargos públicos voltados para o agro, comandando lavouras e empreendendo.
Há desenvolvimento agrícola sem tecnologia?
Dificilmente há desenvolvimento sem tecnologia, porque você fica estagnado. Hoje, as propriedades capixabas já estão usando equipamentos avançados. Temos uma agricultura moderna, com produtores capixabas já utilizando trator guiado via satélite, drone, a própria agricultura de precisão.
Quando estivemos recentemente na Agrotec, em São Paulo,percebemos muitas startups, aplicativos, modelos de gestão que podem ser feitos através do celular para facilitar a vida do homem no campo. O Espírito Santo já tem produtores que implantam essas tecnologias.
Você falar em tecnologia não é necessariamente falar que está trazendo um robô para dentro da propriedade, você pode ter uma mudança no manejo da lavoura, melhoria de processos, melhoramento genético, novas formas de utilização de equipamentos, tudo isso é tecnologia.
Para onde vamos? Qual o futuro esperado para a agricultura do Espírito Santo?
Acredito que as agroindústrias são um bom caminho para que produtores permaneçam no campo, tenham cada vez mais interesse em produzir, agregando valor aos seus produtos com o beneficiamento e o processamento. Se não tivermos um atrativo, quem irá produzir nossos alimentos?
Temos que trabalhar mesmo a consciência de quem vive no campo para que a agricultura tenha sucessores. Então, comofazer sucessores?Tornando o agronegócio atrativo. Para ser atraente, tem que ter viabilidade econômica. Deveríamos ter mais políticas públicas para incentivar as pessoas a empreenderem no campo. Temos muito incentivo, por exemplo, para micro e pequenas empresas.
E para o produtor? Precisamos de projetos e ações voltadas para as famílias rurais ou até mesmo para executivos que não querem mais ficar na cidade e podem empreender no campo. Se é lucrativo, se é atrativo, por que não? Temos muito trabalho para empregar pessoas na cidade, mas precisamos de um projeto consistente para empregar pessoas também nas propriedades rurais.
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