Estudo mostra que indústria de carne tem alto risco de novas pandemias
Foto: ABr
A maior parte (73%) dos gigantes das carnes apresenta alto risco pandêmico, aponta relatório da FAIRR Initative, rede de investidores que somam mais de US$ 20 trilhões sob gestão. Diante do enorme choque econômico e da crise de saúde causados pela Covid-19, a FAIRR organizou informações sobre as 60 líderes globais do setor para avaliar o seu risco pandêmico e elaborou um ranking. A avaliação se apoiou em sete critérios críticos para prevenção de pandemias zoonóticas, incluindo segurança de trabalhadores e alimentar, desmatamento e gestão da biodiversidade, bem-estar animal e uso de antibióticos.
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O baixo desempenho das companhias, já que nenhuma atingiu a faixa de “baixo risco”, demonstra que a produção intensiva de animais apresenta alto risco de criar e espalhar uma nova pandemia, conclui o estudo.
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As 44 companhias classificadas como de “alto risco” pandêmico somam mais de US$ 200 bilhões, mas seu valor é ameaçado por situações como o caos econômico que a Covid-19 causou na indústria pecuária.
A pesquisa da FAIRR, intitulada “Um setor infectado”, alerta os investidores de que provavelmente as empresas serão pressionadas a adotar rígidos protocolos de biossegurança. Isso envolve o desenvolvimento de infraestrutura, treinamento e segurança em biossegurança, práticas de vigilância e abordagens proativas de doenças, como vacinar animais e trabalhadores. Muitos desses protocolos não se encaixam em modelos intensivos de criação.
O estudo frisa a necessidade de reduzir, urgentemente, o uso rotineiro de antibióticos, prática comum na maior parte do mundo e que é responsável por mais de 70% do uso global do medicamento. A resistência aos antibióticos já foi um desafio no tratamento de pacientes na pandemia de Covid-19.
O ‘Ranking Pandêmico’ usa os dados coletados pelo Coller FAIRR Protein Producer Index e tem como objetivo ser uma ferramenta na integração ESG e estratégias de propriedade ativa, a fim de identificar fraturas em elos da cadeia alimentar global para mitigar desastres futuros.
CADEIA DE NEGÓCIOS TRINCANDO – No final de maio, os preços das ações dos quatro maiores processadores de carne dos EUA caíram 25%, contra 9% do mercado. Uma previsão indicava perdas financeiras superior a US$ 13 bilhões para o setor no país, e o Goldman Sachs apontou o gado, junto com o petróleo, como um dos piores ativos para os investidores. O fechamento de plantas levou a Tyson Foods a publicar um anúncio, no “Washington Post”, afirmando que a “cadeia de negócios do setor está trincando”.
Mas, para Jeremy Coller, fundador da FAIRR e CIO da Coller Capital, a cadeia da carne já estava exaurida muito antes disso. “A Covid pode ser a gota que faltava para o copo do setor transbordar. Para não causar a próxima pandemia, a indústria deve adotar padrões de segurança para alimentos, trabalhadores, animais confinados e uso de antibióticos. Isso impactará numa cadeia de fornecimento que já está se exaurindo devido a restrições de terra, água e emissões”, alerta.
Para Peter van der Werf, especialista sênior em engajamento da asset Robeco, associada à FAIRR, o setor precisa assumir um papel de liderança diante dos novos riscos. “O processamento de carne está no centro da pandemia, com mais de 15 mil trabalhadores nos EUA já tendo contraído a Covid-19. A pandemia demonstra claramente que a indústria de carne precisa inovar no seu modelo operacional para evitar crises como a atual, com grandes quantidades de funcionários contraindo a Covid-19. Três em cada quatro doenças infecciosas emergentes são provenientes de animais; portanto, os pecuaristas devem se tornar parte da solução, não parte do problema. A Robeco trabalha com empresas do setor de carnes desde 2016 para discutir normas trabalhistas, bem-estar animal, qualidade e segurança de produtos e desmatamento. Embora um bom progresso tenha sido alcançado com algumas empresas, o setor em geral ainda precisa fazer progressos substanciais”, alerta.
A pesquisa da FAIRR também reflete sobre oportunidades no setor de proteínas alternativas, após um forte crescimento nas vendas de produtos à base de plantas. Nos EUA, em uma semana de abril, as vendas de alternativas à base de carne aumentaram 200%, e as ações da Beyond Meat subiram mais de 80% este ano.
Jeremy Coller conclui que os resultados do Ranking Pandêmico deixarão um sabor amargo para os investidores da indústria desse setor de US$ 1,5 trilhão, que abrange a produção de carnes, peixes e laticínios.
Metodologia – O “Ranking Pandêmico” da FAIRR avalia o desempenho em sete áreas, com base nos dados coletados para o Coller FAIRR Protein Producer Index 2019. Os sete critérios usados no Ranking Pandêmico são: administração de antibióticos, gerenciamento de desmatamento e perda de biodiversidade, condições de trabalho, bem-estar animal, resíduos e poluição, segurança alimentar e investimento em proteínas alternativas. Todas as empresas recebem uma classificação geral de “baixo”, “médio”, “alto risco” ou “melhor prática”.
Sobre a FAIRR – A FAIRR Initiative é uma rede de investidores colaborativa, estabelecida pela Jeremy Coller Foundation. Sua missão é construir uma rede global de investidores focados e envolvidos nos riscos associados à produção intensiva de animais dentro do sistema alimentar mais amplo. O FAIRR ajuda os investidores a exercer sua influência como administradores responsáveis de capital para envolver e salvaguardar o valor a longo prazo de suas carteiras de investimento. Este é o segundo ano do Coller FAIRR Protein Producer Index, que foi selecionado pelos Princípios para Investimento Responsável, apoiados pela ONU, como Relatório de Pesquisa ESG do Ano.
Fonte: FAIRR Initiative
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