Covid-19 preocupa contratações de trabalhadores para colheita do café no ES e MG

Foto: Reprodução/Internet

Nos próximos meses, o Espírito Santo recebe um grande número de trabalhadores vindos de outros estados para atuarem na colheita dos grãos

Bruno Faustino / Julio Huber

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Café, soja, milho, trigo e tantas outras culturas do agronegócio brasileiro empregaram, em 2019, 14,366 mil postos de trabalho com carteira assinada, de acordo com o Cadastro Nacional de Empregados e Desempregados (Caged), da Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia. O número é superior ao registrado em 2018, quando o setor encerrou o ano com saldo positivo de 3,245 mil vagas formais.

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No Espírito Santo, o mercado de trabalho registra grande movimentação, todos os anos, a partir deste mês. Para alguns produtores a colheita de café já começa nesta segunda quinzena de março. A fase de colheita precoce inicia, principalmente, no Norte do Espírito Santo, onde o clima é mais quente. A quantidade de café colhido ainda é pequena, mas já aquece o mercado cafeeiro.

Entretanto, os cafeicultores estão apreensivos com a disseminação do coronavírus (Covid-19), que tem afetado a economia global. Como boa parte dos funcionários que atuam na colheita de café são de outras cidades e até de outros estados, há a preocupação sobre as medidas que devem ser adotadas pelos produtores de café ao contratar a mão de obra.

A safra 2020 prevista pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é estimada em 62,02 milhões de sacas beneficiadas. A produção de café arábica está prevista entre 43,2 milhões e 45,93 milhões de sacas. Já a produção de conilon pode alcançar entre 13,95 milhões e 16,04 milhões de sacas. 

No Espírito Santo, a primeira previsão indica para a variedade conilon uma produção entre 9,01 e 10,67 milhões de sacas e para a arábica entre 4,01 e 4,77 milhões de sacas, o que resulta em uma produção total entre 13,02 milhões e 15,44 milhões de sacas.

O produtor Magno Vieira Mendes, 35, possui 100 mil pés de café arábica em São José do Geronidio, município de Durandé, na região das Matas de Minas, em Minas Gerais. Por lá, os grãos ainda estão em fase de maturação, já que o café está localizado numa altitude que varia entre 780m a 940m acima do nível do mar.

Todos os anos, ele contrata mão de obra para colher os grãos de arábica na propriedade. Em média, 10 pessoas – vindas de Teófilo Ottoni, outra cidade mineira. Os “apanhadores” ficam instalados numa casa na propriedade por 70 dias, mas, este ano, o cafeicultor está preocupado com a pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

O cafeicultor Magno Vieira Mendes, 35, possui 100 mil pés de café arábica em São José do Geronidio, Durandé, região das Matas de Minas

“Já fiz contato com os trabalhadores que me ajudam na colheita do café aqui na propriedade. Por aqui, o trabalho só começa em junho, mas estou preocupado com a disseminação desse vírus. Sei que vou ter que tomar mais cuidado, já que eles dormem na mesma casa. A casa é grande, arejada e eles vão ter que ter mais atenção com os cuidados pessoais, principalmente a lavagem das mãos”, relata o cafeicultor.

As dúvidas quanto ao trabalho e alojamentos das pessoas que atuam na colheita do café são muitas. O Caparaó, região que engloba o Sul do Espírito Santo e as Matas de Minas, concentra uma grande produção de café arábica. É onde está localizada a propriedade do Magno. Somente a Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé), que atende produtores capixabas e mineiros, possui 9.500 cooperados. E, em época de pandemia de coronavírus (Covid-19), a Coocafé criou um comitê com membros de diversas áreas para tomar medidas preventivas contra a doença.

“O nosso café é manual, artesanal. Esse é o nosso marketing. Não temos máquina para colher os grãos, por isso, temos que pensar nas pessoas”, lembra Pedro Antônio Silva Araújo, diretor de produção e comercialização da Coocafé.

A Coocafé possui 9500 cooperados no Espírito Santo e em Minas Gerais

Segundo ele, os cuidados durante a pandemia do novo coronavírus devem ser tomados não só por quem é contratado para o período da colheita, mas também por quem contrata. “A cidade de Lajinha está vazia. Está todo mundo em casa, mantendo quarentena. A maioria dos trabalhadores que vem para a região colher café vem de fora, por isso, todos precisam redobrar a atenção. Ninguém sabe se esses trabalhadores tiveram contato com alguém que esteja infectado”, alerta.

A cooperativa vai recomendar que os cooperados sigam todas as orientação passadas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde quanto aos cuidados para evitar o contágio do Covid-19. “Temos que seguir as regras de lavar bem as mãos e/ou usar álcool gel na higienização. Além disso, evitar locais com aglomeração. Vamos sugerir aos cooperados que utilizem apenas 50% da capacidade do transporte oferecidos aos trabalhadores durante a “palha” do café. Também pretendemos orientá-los que tomem a vacina contra a gripe, já que não existe ainda nenhuma referente ao novo coronavírus”, finaliza Pedro.

A Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha preparou uma cartilha com as principais orientações de prevenção ao Covid-19. Baixe aqui.

Mão de obra familiar é a maioria em cooperativas

Diferente de grandes fazendas de café, que precisam contratar funcionários de outras cidades e estados, nas cooperativas do Estado, a maioria da mão de obra é familiar, já que as propriedades dos cooperados são de pequeno porte. Devido a esse fator, quando é necessário ajuda para a colheita do café, moradores da região auxiliam no trabalho.

Na Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi), a maior parte do quadro social da cooperativa é formada por agricultores familiares, sendo 70% dos cafeicultores com a família participando diretamente da colheita, por isto impactará menos no quadro social da cooperativa. Segundo a cooperativa, não será tomada decisão em relação à colheita do café, prestes a ser iniciada em todo o Estado, pois isto fica a cargo do produtor associado.

Carlos Renato Theodoro é presidente da Cafesul

Já na Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul), segundo o presidente Carlos Renato Theodoro, a maioria dos cooperados é de agricultores familiares. “Eles colhem com a família ou trocam serviços. Não vem gente de fora. No máximo contratam pessoas da própria cidade”, informou. A sede da cooperativa fica em Muqui, mas agrega cafeicultores de municípios da região.

Governo estuda medida de apoio aos agricultores

Preocupado com o setor agrícola capixaba, o governo do Estado deve se reunir, ainda nesta quinta-feira (19), para debater assuntos de apoio aos agricultores. A preocupação dos cafeicultores quanto aos trabalhadores que atuarão na próxima colheita também estará na pauta.

A Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), informou que se reunirá com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) para discutir medidas relacionadas a agricultura capixaba. Essas medidas serão anunciadas gradativamente pela Sala de Situação criada pelo Governo do Estado.

A ministra Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, afirmou ontem (18) que a agropecuária brasileira segue produzindo com êxito e abastecendo o mercado. “O Brasil é um grande celeiro, produtor de alimentos, e não precisamos ter nenhuma expectativa negativa de que não teremos alimentos para nosso povo”, afirmou, referindo-se às mudanças na rotina dos brasileiros, impostas pela pandemia do coronavírus.

A ministra Tereza Cristina elogiou o trabalho dos agricultores brasileiros

A ministra ressaltou, durante evento no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), que a população deve se manter tranquila em relação à oferta de produtos alimentícios no varejo e elogiou os produtores rurais. “São os nossos heróis, que neste momento estão lá (no campo) dando duro, produzindo e realizando a maior safra colhida neste país, batendo recorde um sobre o outro para alimentar nossa população”, afirmou.

MPT pede rigor na contratação de trabalhadores durante a colheita do café no Espírito Santo

Diante da pandemia do novo coronavírus, o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho no Espírito Santo, Valério Soares Heringer, expediu um documento com recomendações que deverão ser adotadas para a contratação de trabalhadores durante o período da colheita do café.

Dentre as medidas, formalizar o vínculo empregatício, por tempo determinado ou indeterminado (Lei. 5.889/73, art 3º), observar as normas regulamentadoras expedidas pela Secretaria do Especial do Trabalho e Emprego, especialmente aquelas relacionadas com as condições de medicina, higiene e segurança no trabalho rural e estabelecer um plano de prevenção de infecções, observadas as orientações das autoridades sanitárias locais, estaduais e federais.

O documento detalha itens importantes que devem ser seguidos pelos empregadores para a segurança dos trabalhadores. Entre eles:

  • Garantir as condições para lavagem adequada das mãos e na ausência ou distância do local de trabalho fornecer álcool gel ou outro sanitizante adequado;
  • Fornecer água filtrada e copos individuais ou descartáveis;
  • Não permitir o uso coletivo de materiais ou instrumentos de trabalho;
  • Fornecer os equipamentos individuais de proteção estabelecidos pela autoridade de Fiscalização do Trabalho;
  • Orientar os trabalhadores para que permaneçam em casa se doentes;
  • Orientar os trabalhadores a cobrirem o rosto quando tossir ou espirrar conforme orientações dos órgãos de saúde;
  • Fornecer lenços de papel, papel-toalha e lixeira para os trabalhadores e o público em geral;
  • Flexibilizar os horários de trabalho para evitar proximidade entre os trabalhadores;
  • Realizar a limpeza e desinfecção das superfícies de forma regular, utilizando os procedimentos e produtos recomendados e registrados pela autoridade sanitária;
  • Estabelecer política de autocuidado para identificação de potenciais sinais e sintomas, seguido de posterior isolamento e contato dos serviços de saúde na identificação de casos suspeitos;
  • Evitar o uso de alojamentos coletivos;
  • Manter os banheiros e vestiários permanentemente higienizados e estabelecer escalas individuais de utilização, quando possível;
  • Manter as cozinhas, refeitórios e áreas de vivência em adequado estado de conservação e higiene evitando sua ocupação coletiva.
  • Adotar medidas de cautela e proteção dos empregados quando da utilização de veículos de transporte coletivo ou particular.

As recomendações do Ministério Público do Trabalho (MPT-ES) também incluem permitir a ausência no trabalho e aumentar a distância entre as pessoas. O documento orienta que a interrupção da prestação de serviço não implique em redução da remuneração dos trabalhadores em caso de alguns sinal de manifestação do novo coronavírus. 

Também sugere a flexibilidade da jornada para que os trabalhadores atendam familiares doentes ou em situação de vulnerabilidade a infecção pelo coronavírus, obedeçam a quarentena e demais orientações dos serviços de saúde, sem prejuízo ao salário. Outra medida é não permitir a circulação de crianças e demais familiares dos trabalhadores nos ambientes de trabalho que possam representar risco à sua saúde.

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