Coronavírus não afetou o mercado do café e as expectativas são otimistas

Julio Huber

O coronavírus (Covid-19) está colocando o mundo em alerta e afetando negativamente a economia global. Bolsas de valores estão despencando dia após dia e o real perdendo valor perante o dólar, que já ultrapassou R$ 5, mas recuou. Entretanto, para o mercado de café, especialistas enxergam que o cenário pode ser positivo. Com a alta do dólar, as exportações são ainda mais atrativas.

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A doença, que já fez governos de países importantes da Europa, como Itália, determinarem que os moradores não saiam de suas casas e proibiram vôos, pode fazer com que o principal produto agrícola brasileiro consiga se valorizar, já que o consumo tende a aumentar, de acordo com consultores, pois as pessoas, em suas casas, tendem a consumir mais café.

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Estatísticas mostram que, no preparo doméstico de um cafezinho, o consumidor esbanja, em média, 20% a mais do que a quantidade necessária de pó. Algo que não ocorre em estabelecimentos comerciais que, em sua maioria, utilizam cápsulas com a dosagem certa.

O consultor e corretor de café Marcus Magalhães, que também é presidente do Sindicato dos Corretores de Café do Espírito Santo (SCCES) diretor financeiro da Fecomércio/ES e parceiro do Conselho Nacional do Café (CNC), acredita que o mercado pode ser positivo para a cafeicultura.

Em entrevista à Revista Negócio Rural, Marcus ponderou que é preciso ficar alerta a tudo que acontece no mundo diariamente. “Com a alta do Dólar, o café saí mais favorecido, porque ele tem um quadro fundamental, que já vinha sendo mostrado como construtivo. Na Bolsa de Valores, o café foi o que menos sofreu”, destacou.

PREÇOS – Na manhã desta sexta-feira (13), os contratos do café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) operam com valorizações nos primeiros contratos e registrou ganhos de 315 pontos a 305 pontos.

Por volta das 09h34 (horário de Brasília), o contrato Maio/20 era negociado a 112,00 cents/lb, com uma alta de 315 pontos. O contrato Julho/20 trabalhava com uma valorização de 315 pontos, a 113,60 cents/lb. O vencimento de Setembro/20 registrou uma alta de 305 pontos, a 115,15 cents/lb.

Por volta das 9h06 (horário de Brasília), o dólar registrava alta de 1,38%, cotado a R$ 4,786 na venda. O dólar mais alto tende a incentivar as exportações de café no Brasil.

No Brasil, no último fechamento, o café tipo 6 duro registrou uma desvalorização  de 3,64% em Varginha/MG com saca a R$ 530,00. Já na região de Araguari/MG, a saca teve uma queda de 2,63% e está cotada a R$ 555,00. No município de Patrocínio/MG, a saca estava cotada a R$ 545,00 com um recuo de 0,91%. 

Setor já tem dificuldade em encontrar conteiners

Entretanto, os cafeicultores nacionais temem não ter como atender a esse aumento da demanda fora da curva por conta do custo do frete e da falta de contêineres. O Brasil utiliza por ano cerca de 110 mil dessas unidades de armazenamento, mas os transportadores não estão conseguindo contratá-las tanto interna quanto externamente.

O país depende excessivamente da chegada de contêineres do exterior. Milhares deles estão parados em terminais chineses e norte-americanos, impedidos de sair de lá por conta da interrupção das atividades operacionais em diversos portos. Aliás, o governo dos Estados Unidos da América proibiu, pelo menos durante todo o mês de março, a entrada de vôos vindos da Europa.

Para o site Notícias Agrícolas, o superintendente comercial da Cooxupé, importante cooperativa cafeeira nacional, informou que problemas com logísticas em todos os portos do mundo devem impactar o Brasil nos próximos dias e que navios de containers já começam a ser cancelados, causando desabastecimento na demanda mundial de café.

“Não tendo container para encher e mandar café, provavelmente veremos mudanças de preços, que provocará uma reação positiva para o mercado, uma vez que o café do Brasil pode parar de chegar do mundo”, afirmou, Lúcio ao Notícias Agricolas.

Segundo o superintendente da Cooxupé, dentro desta nova realidade, as tentativas de compras antecipadas serão ainda maiores porque os estoques tendem a ser consumidos rapidamente, sem reposição. O nervosismo deverá aumentar a necessidade de novas compras, causando corrida por fixação mundial.

Alguns exportadores capixabas afirmam que as negociações estão ocorrendo dentro da normalidade, e que os embarques estão sendo feitos. De acordo com empresários do ramo, ainda não há faltas de conteiners.

O consultor e corretor de café Marcus Magalhães reforçou que a falta de conteiners pode afetar, em médio prazo, o preço do produto. “Mesmo sendo um momento passageiro, com 60 dias cria um lapso econômico gigantesco, e a indústria estrangeira começa a comprar mais café”, acredita.

Exportações de café solúvel não são impactadas

Na última quarta-feira (11), a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) informou que as exportações de café solúvel do Brasil atingiram 606.061 sacas de 60 kg no primeiro bimestre de 2020, apresentando crescimento de 9,17% na comparação com as 555.149 sacas remetidas ao exterior em mesmo intervalo do ano passado.

No acumulado de janeiro e fevereiro, a receita cambial com os embarques avançou 4,90% em relação ao primeiro bimestre de 2019, saltando de US$ 82,542 milhões para os atuais US$ 86,589 milhões.

“A evolução das exportações de café solúvel segue firme em 2020, com os crescimentos em volume e receita ainda não sinalizando qualquer impacto das implicações econômicas mundiais provocadas pelo coronavírus”, destaca o diretor de Relações Institucionais da Abics, Aguinaldo Lima.

De acordo com ele, os embarques atuais se referem a vendas realizadas há pelo menos seis meses, “não implicando, portanto, surpresas negativas nas exportações de curto prazo”.

DESTINOS – Os principais clientes do café solúvel brasileiro no primeiro bimestre de 2020 foram os Estados Unidos, com a importação de 119.760 sacas (+29,1%) e investimentos de US$ 16,4 milhões. Em seguida vem a Rússia, com 69.031 sacas e US$ 10,5 mi; Japão, com 45.961 sacas e US$ 8,2 mi; Indonésia, com 34.001 sacas e US$ 3,987 mi; e Ucrânia, com 27.459 sacas e US$ 4,226 milhões.

O diretor de Relações Institucionais da Abics chama a atenção para o fato de grandes países produtores de café em grão e industrializado figurarem entre os principais destinos do produto nacional. “A Indonésia e o México, 12º no ranking do primeiro bimestre, destacam-se como grandes clientes do café solúvel brasileiro”, aponta.

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