Coronavírus deve contribuir com o aumento do pão francês e prejudicar o turismo
Desde a confirmação do primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, o mercado financeiro reage com preocupação ao avanço da doença no país. Embora o Banco Central tenha admitido que os próximos 15 dias vão permitir uma “análise mais precisa” sobre os impactos que o vírus causará na economia brasileira, os efeitos imediatos do Covid-19 já são percebidos.
A desvalorização do real frente ao dólar, por exemplo, bate recorde diário desde que o Ministério da Saúde confirmou a chegada do coronavírus ao país. Entre 26 de fevereiro e 5 de março, a cotação da moeda americana saltou de R$ 4,44 para R$ 4,65. O real é a moeda que mais se desvalorizou em comparação ao dólar em 2020.
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A incerteza dos investidores se reflete, também, na queda significativa da Bolsa de Valores. Dos quase 113 mil pontos na semana que antecedeu o Carnaval, para menos de 100 mil na manhã da última sexta-feira (6). É o menor patamar desde agosto do ano passado. Segundo Marcelo Godke, professor de direito comercial do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, os impactos da propagação do coronavírus no mercado brasileiro eram naturais, uma vez que os investidores se antecipam à confirmação dos primeiros casos no país.
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“Quando há algum tipo de ameaça à economia global, os investidores tendem a comprar ouro, dólar, que são ativos considerados bastante fortes. Imagina-se que vá acontecer uma redução da velocidade do crescimento da economia mundial. Então, há uma corrida para se adquirir o dólar. Por conta disso, o real acaba se desvalorizando”, explica.
Impactos
Não são apenas os investidores com ações na bolsa que sentem as consequências do coronavírus. Quem deseja viajar para o exterior, por exemplo, já está pagando R$ 4,86 por cada dólar. Em algumas casas de câmbio, a moeda chega a custar mais de R$ 5, a depender da forma de pagamento. Além dos impactos sobre o turismo, Marcelo Godke acredita que é possível que itens de primeira necessidade do brasileiro seja afetados em breve.
“O principal insumo do pão é a farinha, que é feita de trigo. Por ser boa parte importado, o preço dele vai variar de acordo com a cotação do dólar. Então, se o dólar se tornar mais caro, a gente tem uma tendência de ver acréscimo no preço do pãozinho, da massa. Pode ser que isso tenha um impacto inflacionário, que a gente comece a sentir logo nas próximas semanas”, projeta Godke.
As compras no exterior também estão mais caras com a valorização da moeda americana. Fica mais difícil importar produtos e serviços de fora do país, uma vez que a maioria das empresas de comércio eletrônico, por exemplo, vende em dólar.
Alguns setores da economia notaram desaceleração nas atividades. Segundo a Associação Brasileira de Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), 57% das empresas enfrentam problemas para receber materiais, componentes e insumos da China. A situação é mais observada entre os fabricantes de produtos de tecnologia, como celulares e computadores.
O setor de eletroeletrônicos importa 42% dos insumos da China, o que o torna dependente da indústria do país asiático. A fábrica da LG e unidades da Samsung e da Motorola suspenderam a produção no Brasil, devido à falta dessas peças.
Projeções
O diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, projetou que a epidemia de coronavírus terá um impacto “substancial” na economia global. Segundo ele, as próximas semanas vão apontar em que medida isso vai ocorrer. Vale lembrar que a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu a previsão de crescimento da economia mundial de 2,9% para 2,4%. A OCDE apontou o coronavírus e a queda na produção chinesa como as causas principais.
Especialistas estimam que a economia brasileira deve crescer menos do que o esperado neste ano, por causa do coronavírus. Alguns apontam que só o Covid-19 seja responsável por queda de 0,2% a 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. A fim de evitar perdas internas, o Conselho de Política Monetária (Copom) já sinalizou que pode reduzir novamente a taxa básica de juros. Para Marcelo Godke, a baixa produtividade de vários setores devem prejudicar o crescimento do país.
“É difícil achar que não vai ter impacto negativo. Deve sim, porque vai ter uma redução da atividade econômica no setor aéreo, de alimentação, transporte, turismo, o pessoal que trabalha no setor de informática, vai ter uma redução da atividade. É muito difícil acreditar que não vai afetar”, indica o especialista do Insper.
Possíveis perdas na área econômica também são motivo de preocupação por parte das autoridades de saúde. Segundo o secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, o objetivo é trabalhar para que país esteja preparado para controlar a chamada transmissão comunitária ou sustentada do coronavírus, que ocorre entre indivíduos que não viajaram e nem tiveram contato com pessoas que estiveram no exterior.
“A gente vai considerar uma transmissão de modelo de segurança condizente com a nossa realidade social, urbana e estrutural, porque o que nós menos queremos é impacto na nossa economia, impacto na nossa sociedade, impacto nas nossas atividades diárias”, ponderou Oliveira.
Fonte: Agência Rádio Mais
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