Coronavírus deixa o turismo brasileiro na UTI

Julio Huber e Bruno Faustino

Cada dia é maior o número de pessoas mortas pelo coronavírus (Covid-19) em todo o mundo. E é crescente a quantidade de infectados pela doença. As medidas de isolamento para reduzir o número de contágios mudaram a vida de pessoas em vários países.

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Um grande desafio mundial é ter Unidades de Terapia Intensiva (UTI) suficientes, e com respiradores, para atender aos pacientes graves pela doença. Entretanto, na economia, diversos setores estão sem rumo. Mundialmente, o turismo é um dos mais afetados, o futuro é incerto e não há UTI com respiradores para salvar a vida financeira dos empresários.

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Com hotéis, pousadas, restaurantes, sítios de agroturismo e diversos outros serviços e estabelecimentos turísticos fechados, todos os destinos turísticos do Brasil estão amargando prejuízos e os empresários não sabem o que será do futuro. A situação do segmento de eventos também não é boa. Desde o início da pandemia, seminários, congressos, programações turísticas particulares e públicas foram canceladas. Para o segundo semestre ainda há muitas incertezas no segmento.

Foto: Gabriel Lordello/Mosaico Imagem

A Praca Dr. Arthur Gerhardt, em Domingos Martins, não tem recebido turistas

A reportagem do Portal da Revista Negócio Rural conversou com empresários e representantes do turismo das montanhas do Espírito Santo e de Gramado (RS), além de entidades ligadas ao setor e instituições como o Ministério do Turismo, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Secretaria de Turismo do Espírito Santo (Setur).

O reflexo econômico por conta da pandemia é um dos piores das últimas décadas no mundo. O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para 2020 poderá sofrer uma retração de até 5%, a maior registrada no país desde 1962, segundo estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Foto: Julio Huber

Gramado, no Rio Grande do Sul, está com todos os estabelecimentos turísticos fechados

A Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA) estima a falência de 10% dos hotéis, enquanto a Confederação Nacional do Turismo (CNTur) estima que 30% dos restaurantes e similares em toda a rede brasileira não suportarão a falta de clientes, totalizando cerca de 200 mil estabelecimentos fechando as portas, gerando uma onda maciça de desemprego num curto espaço de tempo.

“Estimamos que mais de três mil hotéis e pousadas fechem as portas, durante essa crise”

Alexandre Sampaio – Presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA)

Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que, somente em março, foram R$ 11,96 bilhões em perdas de receita, uma queda de 84% em relação ao mesmo período de 2019.

De acordo com Wilson Luiz Pinto, secretário geral da CNTur, com relação aos restaurantes, a situação nacional é complicada. “Os restaurantes possuem pouco capital de giro. Um ponto comercial precisa ser num lugar bem visível, com um valor de aluguel extremamente caro. A atividade também exige muitos funcionários e, além disso, temos uma alta carga de imposto sob os ombros da categoria. Os números são tristes. Teremos, só na cidade de São Paulo, mais de 20 mil pedidos de falência. Uma situação que irá demorar anos para revertermos”, alerta Luiz Pinto.

Os hotéis são os que mais sentem a crise, alega Alexandre Sampaio, presidente da FBHA. “Fomos os primeiros a sofrer com a pandemia e seremos os últimos a voltar à atividade normal. Estimamos que mais de três mil hotéis e pousadas fechem as portas, durante essa crise, pelo alto custo de manutenção e funcionamento desse tipo de estabelecimento”, explica.

Turistas desaparecem das montanhas capixabas e o agroturismo sofre

A produção dos produtos Lorenção está parada

Venda Nova do Imigrante, nas montanhas capixabas, considerada a capital nacional do agroturismo no Brasil, sofre, há um mês, as consequências da pandemia. “O turismo zerou. Venda Nova do Imigrante morreu. Não se vê carro e nem ônibus de turismo. E olha que ninguém está com as propriedades fechadas, mas não aparecem mais visitantes”, reclama o empresário José Lorenção.

A propriedade dele é uma das mais visitadas na localidade da Tapera. O sítio, especializado em antepastos e embutidos – entre eles, o socol – recebia, pelo menos, 40 pessoas por dia antes do distanciamento social determinado pelas autoridades sanitárias. Em feriados e finais de semana, o número era quase 10 vezes maior. “Em feriados, como este que passou, recebíamos, em média, 300 a 400 pessoas no sítio. E agora? Ninguém!”, diz Lorenção.

O prejuízo econômico só não tem sido maior porque o empresário realiza entregas em supermercados na Grande Vitória, mas, mesmo assim, a queda nas vendas gira em torno de 40%. “Minha produção está zerada. Tive que dispensar funcionários e dar férias para outros. O setor do turismo foi o primeiro a sentir os efeitos da pandemia e será o último a voltar ao normal”, alerta.

Leandro Carnielli disse que a família está buscando formas para não demitir

Outros empresários da região vivenciam situação parecida. Leandro Carnieli, um dos pioneiros do agroturismo em Venda Nova do Imigrante, também viu os turistas desaparecerem. “Estamos realizando entregas. Os turistas sumiram. Está difícil. Só não dispensei funcionários ainda porque a colheita do café está chegando e a mão de obra será aproveitada. Mas estamos vivendo os impactos da pandemia”, conta.

A Família Venturim, que produz bolos, biscoitos, café e massas artesanais, parou a produção, demitiu funcionários e colocou outros em férias. “Tivemos que reduzir muito o número de colaboradores. Já a nossa fábrica está parada”, relata a empresária Ana Venturim.

A loja do Grupo Venturim está aberta, mas o movimento caiu

Apesar de a loja estar aberta, os turistas que costumavam comprar os produtos já não aparecem mais. “A loja está toda em promoção. Tínhamos um estoque bom para um mês, mas, com a pandemia, os produtos irão durar mais tempo. Não temos previsão de quando a fábrica voltará ao normal. Esperamos que isso tudo passe logo”, diz.

O Sítio dos Palmitos, em Pedra Azul, Domingos Martins, também está de portas abertas. O empresário Maurício Magnago disponibilizou álcool gel e máscara para os visitantes, mas o fluxo, desde o inicio da pandemia, baixou muito. “Durante a semana tem ‘pingado’ gente. Perdemos 70% do nosso volume de turistas”, informou Magnago.

Convention das montanhas capixabas em busca de soluções

Diante do impacto negativo que a crise irá gerar na região, o Montanhas Capixabas Convention & Visitors Bureau, que é a instância de governança responsável pelo desenvolvimento do turismo de nove municípios da Região Serrana, está buscando apoios estaduais e federais.

O presidente do Convention, o empresário Valdeir Nunes, que também é diretor do Hotel Fazenda China Park, em Domingos Martins, informou que está sendo conversado com a Setur e entidades do setor no Estado. 

Foto: Leandro Sá/Porã

Valdeir Nunes acredita em retomada lenta no segundo semestre

“Nossa intenção é ter o mínimo de demissões possíveis, até mesmo porque, nossas equipes estão treinadas e não queremos dispensar ninguém. Estamos planejando abrir os hotéis nas montanhas a partir do próximo dia 30. Sabemos que não teremos muita demanda, mas para a hotelaria de montanhas, ter 30% de ocupação paga os custos, o que já é um ponto positivo”, argumenta.

Segundo Valdeir, a região também pode servir de refugio para as famílias. “Seja nos chalés que ficam distantes uns dos outros ou até nos apartamentos, haverá um grau de isolamento, já que teremos baixa ocupação. Os restaurantes que funcionarão também terão pouca demanda. E, se o cliente quiser, ele pode até ter as refeições em seu quarto”, sugere.

Mesmo abrindo a partir do dia 30, Valdeir acredita que os 90 primeiros dias serão de retomada lenta.  “Estamos sofrendo muito. No início é abrir para ter prejuízo. Mas a nossa estrutura precisa de manutenção constante, mesmo sem clientes. O turismo gera milhares de empregos no Estado, diretos e indiretos”, informou.

“Estamos sofrendo muito. No início é abrir para ter prejuízo”

Valdeir Nunes – Empresário e presidente do Convention das Montanhas Capixabas

O empresário acredita que o público que visitará a região após a pandemia será de moradores de, no máximo, 400 quilômetros. “A malha aérea precisará de tempo para voltar ao normal. Então, devemos receber muitos visitantes de regiões próximas, que viajam com seu carro próprio. Falo que a região de montanhas é uma área a ser explorada. Temos atrativos e atividades para todos os públicos”, enfatizou.

Entretanto, Valdeir frisou que os estabelecimentos que abrirão as portas seguirão todas as orientações do Ministério da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e demais protocolos exigidos pelas autoridades. “Não há decreto que nos impede de funcionar. Mas temos que atender as recomendações”, garantiu.

Sesc registra cancelamentos de eventos também no segundo semestre

Apesar de a maior parte dos empreendimentos de hotelaria estarem fechados, há estabelecimentos abertos. Um exemplo são as três unidades do Serviço Social do Comércio (Sesc) no Espírito Santo, localizadas em Guarapari, Domingos Martins e de Praia Formosa, em Aracruz.

De acordo com o gerente de Turismo Sesc, Marcelo Torres Bethônico, não há demanda na parte de hotelaria, apesar de a central de reservas e do sistema online estarem em funcionamento. “As pessoas não estão circulando, e creio que deva demorar pelo menos uns dois meses com esse problema da pandemia. Ainda não demitimos ninguém, estamos administrando com férias coletivas e outras medidas. Estamos ganhando tempo, ainda não temos um número de prejuízo, mas o impacto será grande”, informou.

A unidade do Sesc de Domingos Martins está aberta, mas não tem recebido reservas

Segundo ele, os eventos agendados para o primeiro semestre foram cancelados, após a pandemia, e muitos programados para o segundo semestre também estão sendo cancelados. “Cerca de 90% dos eventos agendados para o 2020 foram cancelados, sendo todos os programados para o primeiro semestre. Temos alguns ainda confirmados para outubro e novembro, mas se continuarmos com a insegurança devido a essa doença, com certeza serão inevitáveis os cancelamentos”, acredita Marcelo.

Ainda segundo o gerente de Turismo Sesc, mesmo com a situação de saúde sendo normalizada, manter eventos programados após a pandemia pode não ser viável. “Não faz sentido realizar um evento com esvaziamento. Também há a questão econômica, pois deve haver um empobrecimento grande, não só no Brasil, e isso dificultará a realização dos mais diversos eventos. Vai ser complicado”, enfatizou.

Planejamento de ações após a pandemia no Espírito Santo

Diante da crise enfrentada pelos empresários do Espírito Santo, o secretário de Estado de Turismo, Dorval Uliana, informou que a sua equipe está terminando de formatar um plano de apoio ao setor, principalmente voltado a campanhas de divulgação do turismo estadual, a fim de promover o fluxo turístico no Estado.

“Os municípios também devem ter sua parcela de contribuição, com redução ISS”

Dorval Uliana – Secretário de Turismo do Espírito Santo

Dorval informou que desde que o coronavírus ainda estava apenas na China, o governo estadual iniciou um planejamento de ações, já contando que a doença fosse chegar ao Brasil. “Nesse momento as atenções estão voltadas a estruturar o sistema de saúde, mas desde o início da pandemia iniciamos um trabalho interno de reformulação dos recursos da Setur, para destinar a projetos voltados à promoção do turismo”, informou o secretário.

Segundo Dorval, as ações dos governos Federal e Estadual, de disponibilizar linhas de financiamentos aos empresários e de custear parte da folha de pagamento dos funcionários, também estão sendo utilizados por empresas turísticas.

Foto: Ellen Campanharo

O secretário de Estado de Turismo, Dorval Uliana, informou que está sendo produzido um plano de apoio ao setor turístico do Espírito Santo

Além de ações do governo federal e estadual, Dorval lembrou que os municípios também devem ter sua parcela de contribuição, com redução do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), que cabe a cada município legislar. “O governador Renato Casagrande já está em conversa com a Amunes (Associação dos Municípios do Espírito Santo) para chegar a um entendimento sobre o que os prefeitos podem fazer”, disse o secretário.

O secretário enfatizou que o plano de ações está sendo montado juntamente com entidades ligadas ao setor, e deverá ser apresentado ao governador Renato Casagrande até a próxima sexta-feira (24).

Estão participando da elaboração do documento representantes das seguintes entidades: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae),  Associação Brasileira da Industria de Hotéis (ABIH), Sindicato dos Restaurantes, Bares e Similares do Estado do Espírito Santo (Sidbares), Sindicato de Empresas de Promoção, Organização e Montagem de Feiras, Congressos e Eventos em Geral (Sindiprom-ES), Associação Brasileira de Empresas de Evento (ABEOC), representantes de agências de receptivos, Associação Brasileira de Agências de Viagem (ABAV) e Associação Brasileira das Indústrias e Hotéis do Espírito Santo (ABIH-ES).

Foto: Rocio Fotografia

João Afonso Silva é presidente do Contures

CONTURES – O presidente do Conselho Estadual de Turismo (Contures), João Alfonso Silva, destacou que a prioridade máxima da entidade são ações voltadas para a sobrevivência do setor de turismo no Espírito Santo. Ele destacou que já está sendo trabalhada a abertura de linhas de crédito com juros atrativos junto às instituições oficiais federais e a adesão ao diferimento Federal do Simples Nacional, seguindo o modelo federal para os impostos estaduais integrantes do Simples.

Ele destacou ainda que o Fórum das Entidades do Turismo (Focatur-ES), juntamente com o Contures e o Sebrae-ES, tem feito uma articulação junto ao Governo do Estado para buscar medidas que minimizem os impactos da pandemia. “A nível federal, nossas ações estão acontecendo via Unedestinos, entidade que fazemos parte e que engloba as principais instituições de turismo do Brasil”, disse.

CAMPANHA DE PROMOÇÃO – Mesmo sem dar detalhes do documento que está sendo elaborado para apoiar o setor de turismo do Espírito Santo e nem de quanto será investido nas ações, o secretário Dorval Uliana garantiu que todos os recursos possíveis e disponíveis na Setur estão sendo direcionados a projetos de promoção do turismo capixaba.

“Temos um cronograma, mas sem calendário. Não sabemos quanto tempo mais permanecerá essa pandemia. Mesmo com um corte linear de 15% no custeio de todas as secretarias do Estado, para direcionar investimentos para a saúde, estamos montando um planejamento para impulsionar o fluxo de turismo no Estado”, contou.

“É preciso que todos se adaptem a uma nova realidade. É momento de se reeinventar”

Dorval Uliana – Secretário de Turismo do Espírito Santo

O secretário explicou que se estados como o Rio de Janeiro – que é um importante emissor de turistas ao Espírito Santo – permanecer com alto índice de contaminados de coronavírus, as campanhas de divulgação do turismo capixaba podem ser feitas em outras regiões, como no Centro-Leste do Brasil.

“Além de ações que estamos planejando, o setor também precisa contribuir com promoções de diárias, de pratos e outras ações que podem ser feitas em conjunto. O cenário é incerto, mas temos que ficar atentos a mudanças no conceito de fazer turismo. É preciso que todos se adaptem a uma nova realidade. É momento de se reeinventar”, destacou o secretário.

Sebrae desenvolve ações de apoio a empresas

Mesmo durante a pandemia, o Sebrae está desenvolvendo ações de apoio aos empresários. Além de contribuir com a elaboração do plano emergencial junto à Setur e entidades do setor, o Sebrae-ES está montando um “Plano de Retomada”, voltado ao marketing e gestão das empresas capixabas.

O gerente da Unidade de Competitividade e Produtividade do Sebrae/ES, Luiz Felipe Sardinha, informou que ainda não há detalhes do plano, já que está em elaboração, mas a ideia é colocar em prática no segundo semestre, após a pandemia do coronavírus.

“O Sebrae possui muitos materiais e informações úteis para esse momento, além de capacitações para o empresário. Muitas consultorias que antes eram pagas, agora estão sendo disponibilizadas gratuitamente”, informou Luiz Felipe. Ele citou outras ações que já estão em andamento. Um dos destaques é o site Por Onde Começar (www.sebrae-porondecomecar.com.br).

“Queremos criar uma rede de ajuda mútua e troca de informações”

Pedro Rigo – Superintendente do Sebrae/ES

No site, o Sebrae/ES disponibiliza conteúdo, cursos e soluções gratuitamente. A ideia é reunir o máximo de informação, esclarecimento e diálogo para enfrentar esse desafio junto aos empreendedores. Ao mesmo tempo, o site vai se tornar uma plataforma de intercâmbio de produtos, serviços e soluções para que as pessoas possam ficar em casa.

“Estamos tomando todas as providências para que nossos parceiros MEI, micro e pequenos empreendedores tenham toda a assistência possível para enfrentar esse momento difícil que estamos atravessando. Queremos criar uma rede de ajuda mútua e troca de informações”, afirma o superintendente do Sebrae/ES, Pedro Rigo.

Vale reforçar que todo o atendimento da instituição está sendo feito remotamente pelo canal ‘Fale com o Sebrae’ e pela Central de Atendimento 0800 570 0800.

Secretaria de Agricultura foca ações em orientações

No Espírito Santo, a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) tem focado as suas ações em orientações aos agricultores familiares e para as agroindústrias. De acordo com a assessoria de imprensa da Seag, a Secretaria “é sensível a situação e tem buscado, junto as instituições ligadas a agricultura, alternativas para o escoamento dos produtos das agroindústrias e da agricultura familiar”.

Segundo informações da Seag, muitos deles comercializam seus produtos diretamente nas propriedades, nas rotas de agroturismo ou nas feiras, além de fornecerem para restaurantes e outros estabelecimentos ligados diretamente ao turismo. “Uma das orientações é a venda antecipada por sistema de encomendas, cestas ou delivery, para os que já possuem este tipo de entrega”.

Outras ações são: disponibilização da lista dos produtores participantes de feiras agroecológicas para que a população possa fazer os pedidos e receber em casa; mobilização dos produtores a se cadastrarem no aplicativo “Feira na Internet”, criado pelo Sebrae e disponibilização de uma cartilha com mais informações técnicas e medidas importantes para evitar a proliferação do coronavírus em feiras livres do Espírito Santo.

Setor se prepara para mudança no perfil dos turistas de Gramado

Município que vive do turismo, Gramado, na região serrana do Rio Grande do Sul, já está se preparando para atender a um novo perfil de visitantes após a pandemia do coronavírus. Referência nacional do setor e quinto destino tendência mundial no turismo, Gramado já sentiu o impacto financeiro com o fechamento de todo o comércio, hotéis, restaurantes, parques e demais estruturas turísticas.

Desde o início da pandemia, a Prefeitura destacou que o principal investimento seria para preservação do seu principal ativo: as pessoas. Há mais de 30 dias a cidade não recebe turistas e teve que cancelar a programação de um de seus principais eventos: a Páscoa. 

Fotos: Julio Huber

Diversas ações desenvolvida pela Prefeitura de Gramado visam apoiar o setor

Segundo o secretário de Turismo de Gramado, Francisco Rafael Carniel de Almeida, são realizados contatos diários com entidades e empresários do setor, para o planejamento conjunto da retomada. Também estão sendo realizadas reuniões virtuais entre os secretários de Turismo dos municípios que compõem a Região das Hortênsias.

“Devemos trabalhar um turismo regional, com visitantes que ficam a 400, 500 quilômetros do nosso destino”

Cláudio Souza – Agência Vento Sul Turismo

De acordo com o secretário, existe a consciência local de que a Covid-19 já afetou o turismo tradicional e a forma de se fazer turismo a partir desses tempos de isolamento. “O perfil do turista está mudando e nada mais será como antes. Nesse primeiro momento de retomada, vamos passar a receber mais turistas que virão com carro próprio e ficarão na cidade por menores períodos: o ticket médio, naturalmente diminuirá. Vamos ter que adaptar a nossa oferta. Os destinos que oferecerem as melhores experiências (não apenas preço) para esse turista, tenderão a ter melhor desempenho. É hora de dar foco à experiência do cliente, de estudar a jornada dele, atenuando dores e ressaltando ganhos”, destacou o secretário.

Cláudio Souza, da Agência Vento Sul Turismo, acredita na mudança do perfil do turista

O empresário Cláudio Souza, da Agência Vento Sul Turismo, também destacou a mudança no perfil do turista, principalmente com relação a quem viaja de avião. “A malha aérea será complicadíssima. Vai demorar para termos os vôos que tínhamos antes. Acho que levaremos de um a dois anos para recuperar a malha aérea”, acredita.

Cláudio afirma que deverá ser dada uma atenção especial ao turista de automóvel próprio. “Devemos trabalhar um turismo regional, com visitantes que ficam a 400, 500 quilômetros do nosso destino. Poderá ser interessante para o turismo rodoviário, sem perder o ticket médio”, acredita o empresário.

A secretaria de Turismo e os empresários locais preparam novas experiências e aprimoramento dos serviços para os nossos turistas na retomada. “Vamos apresentar experiências para novos tempos e novos turistas, trabalhando com o padrão de excelência de Gramado, preço justo e muitas vantagens para os visitantes. Vamos voltar com tudo, inclusive com produtos turísticos inéditos que apresentarão belezas de Gramado ainda desconhecidas por muitos”, finaliza o secretário Rafael.

VOLTA DO TURISMO DE GRAMADO – Na última quinta-feira (16) foi assinado um novo decreto fixando regras para o funcionamento dos estabelecimentos comerciais, prestadores de serviço, lancherias e restaurantes em Gramado. “São normas restritivas, não proibitivas”, afirma o prefeito João Alfredo de Castilhos Bertolucci, o Fedoca.

O prefeito João Alfredo de Castilhos Bertolucci, o Fedoca, tem atuado em prol do setor

O decreto mantém o fechamento dos hotéis e pousadas, atendendo recomendação do próprio Sindicato da categoria. Os parques e praças também permanecem fechados.O secretário Rafael destaca que não é possível, de imediato, estabelecer uma data para retorno das atividades. “Todas as medidas podem ser alteradas dependendo do avanço da pandemia do novo coronavírus. A Administração Municipal entende a necessidade de liquidez das empresas locais para evitar o colapso econômico. No entanto, defende que a forma de volta às atividades é ainda mais importante do que quando esta volta irá ocorrer”, reforça.

O secretário disse que é favorável a um retorno gradual e extremamente responsável. “Retorno gradativo não significaria incentivar viagens de imediato. Ainda não é o momento: incentivar viagens em um momento em que o mundo indica o isolamento social seria visto como oportunismo pelo mercado, que não perdoaria o contrassenso. Seria um grande dano de imagem”, afirma o secretário de turismo de Gramado.

“Retorno gradativo não significaria incentivar viagens de imediato”

Francisco Rafael Carniel de Almeida – Secretário de Turismo de Gramado

As entidades locais defendem uma abertura responsável do comércio e atrativos e com todos os cuidados necessários levando em conta esta nova realidade de mercado. As previsões médias são de que o setor turístico em Gramado passe a registrar uma retomada gradual e mais sensível da demanda a partir do segundo semestre de 2020, em meados do mês de agosto.

Preocupado com o impacto econômico nas empresas turísticas, o prefeito Fedoca conversou com as instituições financeiras e solicitou a disponibilização, em caráter emergencial, de linhas e limites de crédito para suporte ao capital de giro às empresas instaladas na cidade de Gramado e arredores.

Setor de eventos de Gramado aposta no segundo semestre

Além dos atrativos turísticos, Gramado também é conhecido pelos seus eventos que ocorrem durante todo o ano. Devido à pandemia, o primeiro semestre foi marcado por cancelamentos. No dia 18 de março, um decreto suspendeu, pelo prazo de 60 dias, eventos que exigiam licença do poder público e atividades que envolviam aglomeração de pessoas.

Com o decreto, foram suspensas as programações da Páscoa em Gramado, da Festa da Colônia e da Feira Feito em Gramado. Outro decreto suspendeu, pelo prazo de 60 dias, feiras e exposições realizadas em locais públicos e privados; piscinas e saunas de todo e qualquer estabelecimento público e privado, como clubes, hotéis, parques, condomínios, entre outros.

Também foi proibido o ingresso de veículos de turismo na cidade de Gramado, como ônibus, micro-ônibus, vans, táxis, veículos de aluguel ou de transporte individual por aplicativo. Também foram interditadas, no território do município, praças e parques públicos. O Festival de Cinema de Gramado, programado para agosto, ainda não foi cancelado.

Foto: Paulo Gervais

Marta Rossi é referência em produção e realização de eventos turísticos nacionais

Experiente empresária do ramo, Marta Rossi, que criou importantes eventos, como o Chocofest, o Acorde Musical, a Gramado Summit e da Feira Internacional de Turismo (Festuris), afirmou que o setor de eventos é uma área de negócios que foi golpeada de forma violenta em pouco tempo e as consequências são devastadoras.

“Há empresas deste setor que ficaram sem a comida na mesa. O segmento de eventos conta com a prestação de serviços de diferentes áreas e do dia para a noite ficaram sem trabalho. Pior não será na quarentena, mas em todo este primeiro semestre e talvez o início do segundo. Ficamos com pernas e braços imobilizados. Com a cabeça, no entanto, a mil para poder nos reinventar, e o coração forte para resistir os meses difíceis que temos pela frente”, lamentou.

“É preciso estar preparado para uma nova dinâmica no mercado turístico”

Marta Rossi – Empresária do setor de eventos

Entretanto, ela acredita na retomada do setor, mesmo que de forma lenta. “Os eventos são a mola propulsora para a retomada do turismo, e a meu ver, serão os eventos corporativos neste primeiro momento. É preciso estar preparado para uma nova dinâmica no mercado turístico, considerando um novo comportamento dos consumidores em relação às viagens. Estão todos amedrontados, evitando aglomerações. O deslocamento inicial será pelas finalidades familiar, de trabalho e de negócios”, destaca ela.

Em suas duas empresas, a Rossi e Zorzanello e a Gramado Summit, são 40 funcionários. “Acordamos com nossos times uma readequação de horários, alguns ajustes, para que ninguém seja demitido. Aqui na cidade ainda estamos conseguindo manter a fraternidade, na expectativa de uma retomada. Mas no Estado e no Brasil já houveram muitas demissões na área”, informou a empresária.

Sobre o Natal Luz de Gramado, um dos principais eventos do Brasil para o período natalino, Marta informou que um grupo de lideranças locais já trabalha em readequações. “O Natal Luz enquanto programação seguirá igual ou melhor, o que estima-se é uma redução de público. A programação não sofrerá redução”, adiantou.

Governo Federal lança linhas de créditos e repasses para garantir a sobrevivência do setor

Dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) dão conta de que 75 milhões de empregos relacionados ao turismo estão em risco devido à pandemia no mundo. No Brasil, o setor emprega mais de 6 milhões de brasileiros e já tem sentido forte impacto. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou, recentemente, um estudo que aponta que o setor perdeu cerca de R$ 14 bilhões. Os hotéis já atingem seus menores índices de ocupação e as agências de viagens têm recebido mais de 50% dos cancelamentos de pacotes turísticos.

A reportagem do Portal da Revista Negócio Rural procurou o Ministério do Turismo para saber as medidas que estão sendo tomadas para minimizar os prejuízos do setor. Em nota, o Governo Federal informou que entregou ao Ministério da Economia uma medida provisória que contribuiu para a formulação da MP 936/2020, publicada no dia 2 de abril.

“O texto atende integralmente as demandas do setor que foram encaminhadas à Pasta para enfrentar a crise e garantir a sobrevivência dos segmentos turísticos. O objetivo da medida é evitar demissões. Para isso, o Governo Federal destinou R$ 51 bilhões para auxiliar empresas de diferentes portes e em diversos setores da economia, incluindo o Turismo. Com isso, a expectativa é de que 8,5 milhões de empregos sejam mantidos no país, sendo um milhão só no setor de Turismo”, destacou a nota do Ministério do Turismo.

O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, disse que a missão é fazer com que o setor saia o mais inteiro e com o menor dano possível após a pandemia do coronavírus

O órgão federal também publicou uma Medida Provisória em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, focada em regras sobre cancelamentos e remarcações em diversas categorias do setor turístico e também cultural. O documento garante, dentre outras iniciativas, que o prestador de serviços ou sociedade empresarial não seja obrigado a reembolsar valores pagos pelo consumidor imediatamente. Assim, ele ganha um prazo de até 12 meses após decretado o fim da pandemia para fazer esse pagamento ao consumidor.

O ministro Marcelo Álvaro Antônio assinou ainda uma portaria com mudanças que facilitam o acesso a crédito para micro, pequenos e médios empresários do setor. Por meio do Fundo Geral de Turismo (Fungetur), os empreendedores contam com redução de juros, o adiamento de pagamentos e a possibilidade de aplicar 100% dos recursos no capital de giro.

“Queremos evitar desmonte do turismo no Brasil, salvando empregos e empresas”

Marcelo Álvaro Antônio – Ministro do Turismo

Além do Fungetur, as empresas do segmento turístico também serão incluídas nas linhas de crédito disponíveis pelo Banco do Brasil, BNDES e Caixa Econômica Federal. O ministro vem se reunindo com representantes desses bancos para desenhar ações que agilizem o acesso de linhas de crédito para empresários do setor.

CAMPANHA – O Governo Federal também lançou a campanha ‘Não Cancele, Remarque!’. A ideia é incentivar as pessoas que remarquem suas viagens e não somente as cancele. A iniciativa já foi compartilhada por diversos estados que já adotaram campanhas similares. O Ministério do Turismo reforçou que está trabalhando em uma série de ações para a pós-pandemia que serão articuladas em conjunto com os setores públicos e privados do turismo de todos os estados brasileiros.

“A nossa missão é fazer com que o setor saia o mais inteiro e com o menor dano possível. Queremos evitar desmonte do turismo no Brasil, salvando empregos e empresas, para que a gente esteja um passo a frente a outros países para uma retomada mais eficiente”, explica o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro.

Representantes do turismo querem recursos da Embratur para ações internas

Guilherme Paulus, sócio-fundador da CVC, pede um alinhamento de municípios, estados e governo federal. “Precisamos ouvir mais o setor, que tem uma série de reivindicações. Desses R$ 500 milhões que a Embratur quer investir, uma grande parte precisa ficar na publicidade interna. Além disso, é preciso criar subsídios para as companhias aéreas regionais, alinhando receptivo e hotéis junto ao ministério. Reunir operadoras para tarifas especiais, para termos um turismo interno forte. Estou disposto a criar isso e conto com a ajuda do Ministério do Turismo”.

O secretário de Turismo do Espírito Santo, Dorval Uliana, endossou o que falou Guilherme Paulus. “É preciso um redirecionamento dos recursos da Embratur. O Fórum dos Secretários de Turismo já solicitou que a Embratur invista em campanhas internas de divulgação do turismo. Não faz sentido uma campanha mundial, se os estados precisam desse recursos. As pessoas estão com temor de andar de avião e precisamos estimular o turismo interno”, reforçou o secretário.

“Não faz sentido uma campanha mundial, se os estados precisam desse recursos”

Dorval Uliana

O empresário Cláudio Souza, da Vento Sul Turismo, de Gramado, disse que é um desperdício o gasto em campanhas externas. “O foco precisa ser no turismo nacional. Isto passará imagem de tranquilidade, e o turismo internacional será reativado naturalmente. Deveriam utilizar a imagem de turismo nacional em harmonia. Isto fortalece os destinos”, acredita.

Valdeir Nunes, do Montanhas Capixabas Convention & Visitors Bureau é outro defensor do direcionamento dos recursos para campanhas internas. “Temos que divulgar o turismo nacional para os Brasileiros após a pandemia”, destaca.

A Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) foi procurada pela reportagem do Portal da Revista Negócio Rural, mas a assessoria de imprensa informou que não conseguiria responder a demanda a tempo. Mesmo estendendo o prazo para a resposta aos questionamentos, a assessoria da Embratur não retornou ao e-mail.

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Julio Huber

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