Cooperativas de seringalistas debatem desafios da produção de borracha no ES
Foto: Lucas S. Costa/Ales
As comissões de Agricultura e Cooperativismo da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) realizaram uma reunião ordinária conjunta, na última terça-feira (11). A audiência pública debateu os desafios do setor da borracha natural do estado do Espírito Santo.
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A reunião foi realizada de forma conjunta pelo fato de as cooperativas serem responsáveis por uma parcela significativa da produção de borracha no estado. Por isso, a agenda contou com a participação de duas cooperativas de seringalistas capixabas, a Coopbores e a Heveacoop.
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Nádia Delarmelina, presidente da Heveacoop, foi uma das convidadas a se apresentar na plenária. A cooperativa que ela lidera foi fundada em 1991, tem sede em Vila Velha, reúne 306 cooperados e tem 444 parceiros ativos. Em 2023, a Heveacoop comercializou 2.424 toneladas de borracha natural.
A presidente da cooperativa enfatizou a importância da matéria-prima para diversos setores produtivos do Brasil, por ser utilizada para a fabricação de pneus, mangueiras, vedações e produtos de proteção como luvas e botas. De acordo com Delarmelina, as seringueiras, árvores das quais o látex é extraído, também são eficazes no sequestro do carbono, ajudam a evitar erosões no solo e podem ser consorciadas com outras culturas, como o cacau.
Contudo, a convidada lembrou que a demanda por borracha no Brasil é maior que a oferta da matéria-prima no país. “Essa disparidade entre a produção e o consumo faz com que o Brasil precise importar borracha natural para suprir a demanda interna, destacando a importância de expandir a produção local para reduzir a dependência de importações e fortalecer a economia nacional”, frisou.
Em seguida, o presidente da Coopbores, Jairo Júnior, trouxe informações complementares sobre a produção de borracha, com ênfase no cenário estadual. A Coopbores, cooperativa com sede em Linhares, foi fundada em 2006, conta com 25 cooperados, 315 parceiros ativos e produziu 2.497 toneladas de borracha natural em 2023.
Conforme dados compartilhados por Júnior, o Espírito Santo está em 5º lugar no ranking nacional de produção de borracha. Os números apontam que o estado possui 6,5 mil hectares de área plantada e 2 mil hectares com produção paralisada, devido à falta de mão de obra qualificada, e dispõem de outros 7 mil hectares que poderiam entrar em produção.
“Temos 1,3 mil trabalhadores [de seringais] ativos no Espírito Santo, gerando 7,8 mil empregos diretos. Ainda temos um potencial para 3,6 mil famílias estarem iniciando o trabalho hoje dentro das áreas que nós temos paradas, e há uma possibilidade muito grande de aplicarmos o consórcio com o cacau nessas áreas já plantadas”, informou Júnior.
TECNOLOGIA – A falta de mão de obra qualificada é um dos maiores entraves para a expansão da produção de látex no estado. Por isso, as cooperativas apresentarem como possibilidade incentivos para a aquisição de máquinas elétricas de sangria utilizadas na Ásia – continente referência na produção de borracha – e que já está em testes no Brasil.
Quem explicou os benefícios tecnologia foi o assistente técnico da Heveacoop Rodrigo Passos. “Para se formar um seringueiro hoje, demanda tempo para que ele atinja essa destreza e perícia. De cada dez, apenas dois conseguem atuar na atividade. Com a faca elétrica, essa estatística é inversa positivamente. Com apenas dois dias conseguimos preparar um novo seringueiro”, detalhou.
Conforme o técnico, a ferramenta em questão permite controlar a profundidade do corte no seringueiro, independentemente da perícia do sangrador. “A máquina aumenta a produtividade em 40% devido à padronização na sangria, aliado à lâmina, que é um material feito de aço cirúrgico forjado com titânio. Isso permite uma sangria mais limpa, fazendo com que o fluxo do látex seja maior”, explanou.
De acordo com Passos, cada faca elétrica custa em torno de R$ R$ 3.900,00 e tem capacidade para atender um seringueiro de 3 mil árvores, em média. Devido à facilidade de manuseio, a tecnologia também permitiria incluir mais mulheres na atividade de extração do látex.
Considerando essas vantagens, as cooperativas Coopbores e Heveacoop sugeriram a criação de que algum tipo de subsídio que permita a implementação da tecnologia nos seringais do estado.
FALAS – Diversos representantes de instituições estiveram presentes na audiência pública, como a Faes/Senar, o Incaper, a Seag, o Sicoob e o Sistema OCB/ES. Vinícius Schiavo, analista de Desenvolvimento Cooperativista do Sistema OCB/ES, enfatizou a importância do tema discutido e lembrou que a organização estadual está à disposição das cooperativas capixabas.
“É um assunto muito relevante [a produção de borracha natural]. O primeiro passo foi dado, e podem continuar contanto com a nossa parceria para o desenvolvimento desses pleitos e de outros que sabemos que vocês possuem para o desenvolvimento da visibilidade de setor de borracha natural”, disse.
David Duarte, assessor de Relações Institucionais do Sistema OCB/ES, lembrou que além da aquisição de novas tecnologias, as cooperativas produtoras de borracha e as agropecuárias, em geral, precisam do apoio o poder público em programas de incentivo e outras frentes.
“Temos cooperativas que atuam nos setores do café, leite, hortifrutigranjeiros e borracha, para citar alguns. Como podemos trabalhar em parceria com as entidades, o governo estadual e o poder público local para ter algum tipo de agregação de valor ao produto? Como avançar com programas que impulsionem esse setor?”, refletiu.
O deputado estadual e presidente da Comissão de Agricultura da Ales, Lucas Scaramussa, enalteceu a reunião conjunta. “São dois setores [agricultura e cooperativismo] que caminham a passos largos, fortes e unidos no Espírito Santo e no Brasil”, pontuou. O parlamentar ainda mencionou que a Ales pode contribuir com a normatização de procedimentos que favoreçam esses segmentos.
A deputa estadual Janete de Sá falou sobre a proeminência da atividade de extração do látex no Espírito Santo. “É um trabalho que já existe no estado há muitos anos. Nós somos os maiores produtores por conta desse trabalho, que já é antigo e vem sendo desenvolvido. Precisamos entender melhor o que está acontecendo e, por isso, a importância de o setor estar aqui nessa reunião conjunta para buscarmos saídas”, salientou.
Fonte: Sistema OCB/ES
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