Texto e fotos: Julio Huber
Muitos cafeicultores e dirigentes de organizações de produtores de café sonham em ver seus grãos sendo exportados e apreciados em várias partes do mundo. Apesar desse sonho já ser realidade para produtores que fazem parte de organizações certificadas Fairtrade, a ampliação da oferta de cafés especiais no mercado interno é outro objetivo em todas as regiões brasileiras.
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Uma das Organizações com certificação Fairtrade no Brasil para café robusta, a Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (CAFESUL), que fica em Muqui, no Sul do Espírito Santo, tem feito um trabalho de inserção de cafés robustas especiais no mercado regional e nacional.
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O presidente da CAFESUL, Carlos Renato Alvarenga Theodoro, informou que a cooperativa possui duas marcas de cafés, que são produzidos pelos mais de 160 sócios, de sete municípios da região. Além disso, ele enfatizou que a qualidade dos cafés produzidos pelos cooperados tem melhorado muito nos últimos anos. Foi de olho no consumo regional que a cooperativa colocou suas marcas no mercado nacional.
“No ano de 2018 montamos uma torrefação, com o objetivo de atingir o mercado interno. No ano de 2019 lançamos as duas marcas de café. O “Casario” é um blend dos melhores cafés do concurso de qualidade que realizamos. O “Póde Mulheres” é um blend dos melhores cafés produzidos pelas mulheres cooperadas. O Fairtrade possibilitou a cooperativa ter uma estrutura para atender tanto o mercado nacional, quando o internacional”, relatou.
EVOLUÇÃO – Referência quando se fala de café arábica de qualidade, a Cooperativa dos Produtores de Café Especial de Boa Esperança (DOS COSTAS), com sede em Boa Esperança, município localizado na região Sul de Minas Gerais, tem mudado o conceito de produzir café. O presidente da cooperativa, Eliezer Reis Jorge, explica que antes da existência da cooperativa, a região produzia cafés de baixa qualidade. Hoje, a realidade é outra, e os cafés DOS COSTAS se destacam com a alta qualidade.
Para enfatizar a importância da cooperativa para a região, foi inaugurada uma moderna cafeteria, onde são servidos e comercializados os grãos produzidos pelos cooperados. “O Brasil merece conhecer nossos produtos, por isso estamos focados no mercado interno”, garantiu.
Eliezer contou que no ano de 2015 a Cooperativa comprou máquinas para torrar, moer e embalar os cafés para inserir os produtos no mercado regional. “Primeiro inserimos nossos cafés no município de Boa Esperança, e hoje nossos produtos estão em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e muitas outras cidades espalhadas pelo Brasil. Em 2020 praticamente triplicamos o maquinário, pois acreditamos no mercado interno. Tem crescido muito no Brasil o consumo de cafés especiais e produzidos com sustentabilidade”, disse entusiasmado.
Outra organização que apostou no mercado interno e montou sua própria cafeteria foi a Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (COOPFAM). A barista Larissa Ávila, 19, contou que participa do grupo de jovens da cooperativa, e foi onde ela soube de um curso de baristas oferecido pela COOPFAM. “Foi quando eu criei mais gosto pelo café. Eu comecei na cafeteria como voluntária, porque eu queria treinar e me qualificar. Eu fui gostando cada vez mais e hoje sou responsável pela cafeteria”, disse.
Na cafeteria, além de diversos métodos de filtragem, também é possível encontrar todas as marcas de café produzidas pela COOPFAM. O técnico em pós-colheita da organização, João Mateus Ferreira, contou que as marcas de café da cooperativa estão em todas as regiões brasileiras.
“Hoje temos o café especial – um microlote acima de 84 pontos -, temos as linhas sustentável feminino e sustentável familiar, e ainda os orgânicos feminino e familiar. Temos ainda duas linhas de cafés tradicionais. Estamos tendo boa abertura no mercado e está crescendo muito a venda on-line. Nossos cafés estão chegando em quase todos os estados brasileiros”, contou.
TRADIÇÃO – A persistência e a garra para buscar melhorias coletivas foram os ingredientes que fizeram com que descendentes de italianos fundassem a Cooperativa Prata da Cuesta Sustentável (COOPERCUESTA), que fica em São Manuel, em São Paulo. Com a ajuda do prêmio Fairtrade, foi montada uma estrutura de torrefação. Assim, a cooperativa colocou no mercado interno suas marcas próprias de café: Alto da Cuesta e a Cooper Prata.
Presidente e fundador da COOPERCUESTA, Luiz Carlos Bassetto, o Japão, que é a quarta geração na produção de café no Brasil, se emociona ao falar da evolução dos projetos da cooperativa. “Se os consumidores não conhecerem o que tem de carinho no café, o que tem de história e como é feito esse café, ele vai se tornar um produto como qualquer outro. Mas ele não é igual aos outros. É um desafio mostrar para o mercado interno todo esse trabalho que é feito”, destacou.
Ele reforçou a importância de oferecer ao consumidor brasileiro cafés de qualidade. “O mercado interno ainda toma muito café ruim. E temos espaço para ofertar café bom, sem que as pessoas tenham que pagar muito para isso. Vemos que é possível colocar no mercado o nosso café sustentável de qualidade superior, a um valor justo para o consumidor”, garantiu.