Bailarinas voadoras usam o cooperativismo para produzir alimentos

Foto: Julio Huber

Lavouras de café que foram polonizadas por abelhas podem ter um acréscimo de até 20% na produção

Texto: Julio Huber / Espírito Santo e Pernambuco

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É por meio da dança, do requebrado e de movimentos circulares sincronizados, que boa parte do alimento que chega à mesa da população de todo o mundo é produzido. Consideradas bailarinas voadoras, as abelhas utilizam diferentes danças e exalam substâncias que servem como orientação às demais integrantes da colmeia para irem em busca do pólen de flores, fazendo assim a polinização das plantas, que é um processo fundamental para a produção de alimentos em todo o mundo.

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E é com o espírito cooperativo que esses pequenos insetos – surgidos há cerca de 125 milhões de anos, após o registro das primeiras plantas com flores -, produzem mel, própolis e geleia real. Mas, o que muita gente desconhece é o quanto essas bailarinas contribuem para o setor agrícola e para a manutenção de florestas.

“Sem a polinização, não teríamos produção de abóbora, acerola, cajá, caju, maçã, maracujá, entre outros”

Fábia de Mello Pereira – Pesquisadora de apicultura e meliponicultura da Embrapa Meio-Norte (Teresina – PI)

Segundo o mais recente Relatório Temático sobre polinização, polinizadores e produção de alimentos no Brasil da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), no Brasil, calcula-se que a polinização relacionada à produção agrícola tem um valor anual de US$ 12 bilhões (cerca de R$ 60 bilhões).

Em algumas culturas, foi comprovado o aumento de mais de 20% de produção em áreas que foram polinizadas pelas produtoras de mel. “Sem a polinização, não teríamos produção de abóbora, acerola, cajá, caju, maçã, maracujá, entre outros”, afirma a pesquisadora de apicultura e meliponicultura da Embrapa Meio-Norte (Teresina – PI), Fábia de Mello Pereira.

Esses pequenos insetos, que inclusive estão citados em várias passagens bíblicas e que são inspirações para canções, hoje somam mais de 25 mil espécies no mundo. Desde o seu surgimento – ao serem atraídas pelo néctar das flores -, elas descobriram a importância do trabalho em grupo, pois uma abelha sozinha não consegue transformar o pólen em mel. Na colmeia, cada uma tem sua função, e juntas, atingem o objetivo do grupo, assim como acontece no cooperativismo.

Não por acaso, em 2016 o símbolo do Dia de Cooperar (Dia C) foi representado por uma colmeia de abelhas. Com o objetivo de lembrar a importância da polinização para o desenvolvimento sustentável, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a data de 20 de maio como o Dia Mundial das Abelhas. A dança das abelhas, essencial para que elas tenham eficiência na polinização das plantas, foi descrita pelo cientista austríaco Karl von Frisch, em 1940. Fruto de seus estudos sobre etologia das abelhas, o cientista recebeu o Prêmio Nobel em 1973.

Polinização pode aumentar em até 20% a produção de café

Foto: Julio Huber

Apicultor e presidente da Fecapis, Arno Wieringa afirmou que a produtividade em lavouras de café que foram polinizadas por abelhas aumentou até 20%

Um dos desafios constantes do setor agrícola é aumentar a produção, no mesmo espaço de terra, reduzindo custos, contribuindo para a preservação ambiental e melhorando a qualidade dos produtos. Assim, tudo isso tem estimulado constantes pesquisas e aprimoramentos em técnicas de cultivo.

Mas, o que a maioria dos agricultores não sabe é que a abelha tem trabalhado a milhões de anos em prol da produção agrícola, e ela é a grande aliada nesse processo. Agricultores de países da Europa e nos Estados Unidos sabem o quanto é importante a polinização das plantações. No Brasil, aos poucos o uso dessas pequenas bailarinas também tem crescido, principalmente com a comprovação do aumento da produção e da qualidade dos alimentos após a visita de abelhas durante as floradas.

No Espírito Santo, a empresa Agrobee e a Federação Capixaba das Associações de Apicultores (Fecapis) conduziram experimentos em lavouras de café. Os resultados surpreenderam cafeicultores e apicultores. Em lavouras de café conilon – variedade em que o Estado lidera a produção nacional -, a polinização feita pelas abelhas que foram levadas a campo durante o período de florada do cafezal foi responsável por um aumento considerável de produção.

As colmeias são colocadas ao lado das lavouras de café

Apicultor e presidente da Fecapis, Arno Wieringa, que também é proprietário do Apiário Florin, em Domingos Martins, acompanhou o trabalho feito nas lavouras de café em Linhares e em Sooretama, no Norte do Espírito Santo. Segundo ele, os apicultores já realizam há alguns anos o transporte de colmeias para cafezais com flores.

“Em algumas propriedades, foi comprovado que ocorreu um aumento de até 20% na produção de café conilon. Esses dados estão em um estudo feito pela Agrobee, considerando lavouras que não tiveram a presença das colmeias de abelhas para aumentar a polinização do cafezal”, explicou Arno.

O cafeicultor Valter Luiz Fontana, que tem uma propriedade de café conilon na Fazenda Fontana, em Linhares, no Norte do Espírito Santo, recebeu o trabalho da Fecapis e da Agrobee. Ele disse que antes mesmo desse experimento, ele já pagava apicultores para levarem as colmeias durante a florada em suas lavouras.

“Eu sempre alugava colmeias nos períodos de floração, mas há uns dois anos eu não encontro mais apicultores para levarem as abelhas até a propriedade. Notamos a diferença da produção no momento da colheita nos anos em que as abelhas fazem a polinização, mas não tenho isso em números. Eu contrataria sempre as colmeias, se encontrasse apicultores”, afirmou.

“Na Europa e nos Estados Unidos, a principal renda dos apicultores vem do transporte de colmeias para polinização.

Arno Wieringa – Apicultor e presidente da Fecapis

O presidente da Fecapis estimou que se ocorrer o aumento médio de 15% de produção em lavouras polinizadas pelas abelhas, o ganho por hectare poderá ser de mais de R$ 4 mil, considerando a produção média de 43,4 sacas de conilon por cada hectare, ao preço de R$ 650 por saca. E como há lavouras em que essa produtividade supera 70 sacas, o ganho é ainda maior. “Se esse trabalho for incentivado, o impacto positivo no PIB (Produto Interno Bruto) da agropecuária do Estado será muito expressivo”, enfatizou.

Segundo cálculos da Fecapis, se houvesse a polinização dirigida em 100% das lavouras de café do Espírito Santo, seria necessário um plantel de cerca de dois milhões de colmeias, gerando um valor econômico em torno de R$ 100 milhões, além do aumento na produção de mel e benefícios para as demais culturas, tais como limão, melancia e outras.

Arno contou que em países europeus e nos Estados Unidos, o “aluguel de abelhas” é o principal negócio dos criadores. Nos Estados Unidos, segundo informou a Fecapis, 80% das culturas de frutas e horticulturas dependem dos serviços de polinização. No país norte americano, o mel está sendo considerado um subproduto. “Na Europa e nos Estados Unidos, a principal renda dos apicultores vem do transporte de colmeias para polinização. Eles ganham mais do que se tivessem produzindo mel”, contou.

Cooperativa pernambucana vira amiga das abelhas e incrementa renda de famílias

Fotos: Cooates

Profissionais da Cooperativa coletam os enxames de abelhas em diversos municípios de Pernambuco e Alagoas

O cooperativismo entre as pessoas completa 180 anos em 2024, e surgiu com o objetivo de valorizar o papel do homem e da mulher e de tornar o trabalho socialmente e economicamente justo. E esse movimento ganhou robustez, e hoje é o principal agente responsável pelo desenvolvimento econômico de milhões de famílias em todo o mundo.

Além de fazer com que pequenos agricultores e trabalhadores tenham acesso ao mercado de forma igualitária, sem estarem submetidas às grandes empresas, as cooperativas se preocupam com o meio ambiente, pois os negócios precisam ser cada vez mais sustentáveis.

Nesse contexto, a Cooperativa de Trabalho Agrícola, Assistência Técnica e Serviços (Cooates), que fica em Barreiros, município distante cerca de 100 quilômetros de Recife, a capital de Pernambuco, pode ser considerada a amiga das abelhas e da preservação ambiental. Há pouco mais de um ano, técnicos da Cooates passaram a coletar e proteger os enxames de abelhas que aparecem na área urbana e rural da região.

A cooperativa foi criada no ano 2000, e desde então tem se destacado com trabalhos de preservação ambiental e de sustentabilidade desenvolvidos pelos 23 cooperados, como explica o presidente da Cooates, José Carlos Silva. “Vemos isso como a própria vida. Temos que cuidar dos animais, manter eles nos seus lugares para as gerações futuras, e produzir alimentos de qualidade”, disse.

A tese de que as abelhas são consideradas bailarinas é reforçada pelo relato do presidente da Cooates, que explica como é feito o resgate dos enxames. “No momento em que estamos coletando os enxames, sempre colocamos música no local, principalmente músicas clássicas. Parece que elas dançam e ficam mais calmas”, destacou.

No ano de 2022, foram mais de 100 enxames resgatados, todos da espécie Apis mellifera africanizada. “É um orgulho para nós trabalhar na preservação ambiental, e principalmente dos ecossistemas. A abelha faz parte de todo esse contexto. Ela ajuda na manutenção de vida, com a polinização de plantas e florestas. Esse trabalho nos dá muita satisfação”, disse.

Assista, abaixo, a um vídeo que mostra como são feitos os resgates dos enxames que aparecem nas cidades e em áreas rurais. O trabalho é feito pelo gestor ambiental Josias Luiz da Silva Junior e pelo técnico em agropecuária José Fábio da Silva.

Vídeos: Cooates / Edição: Bruno Faustino

Técnicos da Cooates realizam a captura das abelhas que aparecem em enxames em regiões de Pernambuco e Alagoas

Após o resgate feito por um técnico em agropecuária e por um gestor ambiental, com o uso de todos os equipamentos de segurança, as abelhas são levadas para o apiário da cooperativa, onde elas produzem mel e própolis. Além de barreiros, a Cooates atua nos municípios pernambucanos de Custodia, Tupanatinga, Sertânia, Santa Maria de Boa Vista, Petrolina, Cabo de Santo Agostinho e no porto de Suape, além de Maragogi, no Estado de Alagoas.

A intenção da cooperativa é passar das atuais 100 colmeias para 500, nos próximos dois anos. “Montamos uma unidade de bioinsumos para as abelhas, e produzimos mel e própolis. Temos 12 produtos de mel cadastrados no Ministério da Agricultura, além de própolis vermelho, verde e o silvestre. A venda é feita na cooperativa, mas iremos lançar uma loja virtual neste mês de maio, para que possamos entregar em todo o Brasil. Também queremos inserir em supermercados e em programas do governo”, contou o presidente.

Viveiro de mudas contribui para recuperação florestal

Formada por técnicos agrícolas, engenheiros agrônomos, assistente social, gestor ambiental e pedagogos, a Cooates sempre desenvolveu programas ambientais em sua área de atuação. Um desses projetos é o viveiro de mudas. Agora, entrando no ramo apícola, os cooperados assumiram o desafio de plantar uma árvore a cada 10 quilos de mel vendidos.

“Estamos promovendo algumas mudanças na cooperativa, para que possamos atuar na perspectiva de geração de oportunidades e de agroindústria. Com o apiário, queremos trabalhar com treinamento dos produtores na área de apicultura, para que eles possam desenvolver mais uma atividade, e futuramente serem nossos cooperados”, informou o presidente.

José Carlos Silva enalteceu a importância das abelhas para a produção de alimentos. “A abelha preservada, cuidada, zelada, atinge o seu bem-estar e conseguimos uma produtividade interessante, para que possamos colocar um mel de excelência na mesa do agricultor e de quem mora na cidade. Imagina que essa abelhinha seria destruída, massacrada e morta, muitas vezes pelo fato de as pessoas acharem que ela faz mal. O que faz mal é a degradação ambiental a seu habitat”, enfatizou.

Também preocupada com o fortalecimento da apicultura e meliponicultura, a Embrapa desenvolve projetos em todos os biomas brasileiros, conforme explicou a pesquisadora de apicultura e meliponicultura da Embrapa Meio-Norte, Fábia de Mello Pereira. “As linhas de pesquisa com maior destaque no bioma da Caatinga tem como objetivo a mitigação e convivência com as mudanças climáticas, buscando reduzir os impactos negativos na cadeia apícola”, contou.

Sistema OCB/PE dá suporte a mais de 158 mil cooperados

Foto: Divulgação

O presidente do Sistema OCB/PE, Malaquias Ancelmo de Oliveira, enfatizou o avanço do cooperativismo em Pernambuco

No Estado de Pernambuco, 158 mil cooperados fazem parte das 132 cooperativas que integram o Sistema OCB/PE. “Apoiamos todas as cooperativas, com programas e projetos estruturados e apropriados ao desenvolvimento de cada organização. Em alguns casos, apoiamos com projetos específicos, como determinadas capacitações, consultorias e intercâmbios, para capacita-las a gerir os negócios”, contou o presidente do Sistema OCB/PE, Malaquias Ancelmo de Oliveira.

As cooperativas que atuam no ramo agro são destaques em Pernambuco. E um dos principais desafios dessas organizações é a viabilização dos negócios, já que atuam no semiárido e com irregularidades de chuva.

“As cooperativas agro têm sido referência no trabalho da OCB. Nas últimas décadas, as cooperativas que trabalham com projetos de irrigação, principalmente com o apoio dos governos e da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), conseguiram absorver conhecimento e tecnologias, além de terem prosperado de forma significativa”, informou o presidente.

Ele enfatizou o importante papel que as cooperativas cumprem na sociedade, que é o de oferecer oportunidades de negócios em conjunto, criando escala econômica e melhorando a renda das famílias. “Outro papel importante é o de regulador de mercado, porque as cooperativas são sociedades de pessoas, não de capital”, afirmou.

Sobre a Cooates, Malaquias Ancelmo de Oliveira destacou que além de contribuir para a preservação das abelhas, o trabalho de captura dos enxames tem trazido uma importante fonte de renda aos cooperados. “A região do Semiárido brasileiro é responsável por uma parcela importante da produção de mel nacional e também pela exportação do produto. Essa atividade vem sendo desenvolvida no Estado há muitos anos, mas a busca pela produção de mel da flora da zona da mata e da região litorânea é mais recente e auspiciosa”, garantiu.

“Principal produto da abelha não é o mel, é a polinização”

Fotos: Divulgação

O apicultor Paulo César Soncini Giera tem um apiário no Espírito Santo e destaca o papel das abelhas com a polinização

“Todos pensam que o principal produto da abelha é o mel, mas isso é errado. O principal produto da abelha é a polinização”. A afirmação é do apicultor Paulo César Soncini Giera, do Apiário Gierinha, que fica em São Floriano, Domingos Martins, nas montanhas do Espírito Santo.

Apesar de ter o mel como o carro chefe de seu apiário, Paulo sabe muito bem que o principal papel das abelhas na natureza é na produção de alimentos. “Se as abelhas não polinizarem as plantas, o ser humano perderia mais da metade de seus alimentos. Muitos pensam que a abelha é apenas produtora de mel, mas é através da polinização que 60 a 70% dos alimentos são produzidos, além de contribuírem para a preservação de diversas espécies da flora brasileira”, acrescentou.

MEL NAS ESCOLAS – Paulo César é cooperado da Cooperativa dos Empreendedores Rurais de Domingos Martins (Coopram), que atua no setor agrícola. Além de produzir alimentos diversos, alguns cooperados também trabalham com a produção de mel. E foi por meio da cooperativa que eles conseguiram comercializar a produção para programas de alimentação escolar do Governo do Espírito Santo.

O mel entregue nas escolas capixabas foi envazado no Apiário Gierinha. No ano passado foram processadas cerca de 15 toneladas de mel dos cooperados, o que gerou mais de R$ 618 mil de recursos para os pequenos apicultores cooperados. Segundo Paulo, a comercialização do mel via Coopram começou em 2018.

Paulo também realiza ações de conscientização sobre a importância das abelhas a estudantes da região

“A importância da Cooperativa nesse processo é que ela divide um pedido grande como esse da merenda escolar, para vários pequenos produtores, contribuindo com a agregação da renda de diversas famílias, o que seria diferente se fosse feito por meio de uma empresa. É uma ação de compensação mútua. A cooperativa consegue um melhor preço a todos os apicultores, sem a necessidade de atravessadores”, afirmou o cooperado.

O presidente da Coopram, Darly José Schefer acrescentou que o apoio da cooperativa é uma forma de incluir os pequenos agricultores em um sistema de comercialização que eles não conseguiriam acessar individualmente. “No comércio local, os apicultores conseguem vender o mel, mas inserir o produto nas escolas estaduais só foi possível com o apoio da nossa cooperativa”, afirmou.

Projeto SOS Abelhas pretende atuar em 22 escolas do Espírito Santo

Foto: Divulgação

Mais de 1.300 estudantes foram beneficiados em 2022 e a intenção é que o projeto atenda mais de 1.600 alunos em 2023

Assim como a cooperativa de Pernambuco, no Espírito Santo uma cooperativa também possui um projeto que contribuí para a preservação das abelhas. O SOS Abelhas é uma iniciativa de educação socioambiental itinerante, desenvolvida pelo Sicoob, estruturada a partir da metodologia de educação vivencial, que apresenta de forma simples e eficiente a importância das abelhas para o meio ambiente, o impacto do sumiço delas para a vida cotidiana e o que é possível fazer para preservá-las.

“O projeto é realizado desde 2019 pelo Sicoob. Em 2022, beneficiamos 174 professores e 1.346 alunos em 19 escolas dos municípios de Aracruz, Rio Bananal, Vila Velha, Afonso Claudio, Iuna, Ibatiba e Divino São Lourenço. Para 2023 está prevista a mobilização de 22 escolas de 12 municípios, com a expectativa de atendermos aproximadamente 1.600 alunos”, informou a supervisora de Responsabilidade Social do Sicoob, Sandra Martins de Oliveira.

O banco cooperativo é o patrocinador e apoiador da iniciativa. “Além da importância ambiental e todos os impactos relacionados ao sumiço das abelhas, vale ressaltar que a sociedade de abelhas é um belo exemplo de respeito, solidariedade, compreensão, organização, paciência, perseverança, união e vida em comunidade, tal como o cooperativismo”, enfatizou.

O projeto é dividido em quatro fases: capacitação on-line dos professores da rede municipal de ensino; realização de uma live para os alunos; impressão de cartilhas e elaboração de relatório final com números de professores capacitados, alunos envolvidos e volume de acesso ao material digital. Além dessa ação, os apicultores podem receber apoio de linhas de créditos do Sicoob especificas ligadas ao agronegócio.

Uso consciente de agroquímicos preserva abelhas em áreas agrícolas

Foto: Freepik

Sistema liga apicultores com produtores e alerta sobre uso de agrotóxicos em áreas onde estão as colmeias

A exemplo da cooperativa pernambucana, que preserva e protege as colmeias, ações tem sido feitas em outras partes do Brasil para conscientizar os agricultores quanto ao uso de defensivos agrícolas. Um deles é desenvolvido pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), e se chama Programa Colmeia Viva.

O objetivo é promover o uso correto de defensivos agrícolas para a produção sustentável de alimentos, aliado à proteção das abelhas. O projeto é uma iniciativa do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), já que os pomares de laranja são beneficiados pela polinização das abelhas.

Para o presidente do Fundecitrus, Lourival Carmo Monaco, a sustentabilidade é uma prática consolidada pelo setor citrícola, tanto pela conscientização sobre o tema quanto pelas exigências legais brasileiras e do mercado internacional.

“Se uma abelha encontra outra abelha morta em uma flor, ela executa muito menos danças ao retornar à colmeia”

Décio Luiz Gazzoni – Pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)

O Colmeia Viva tem o apoio das 26 empresas associadas à entidade, que representam 40% do mercado de defensivos agrícolas do Brasil. O programa nasceu da consciência em construir uma relação mais produtiva entre a apicultura e a agricultura, que depende da utilização de insumos para a proteção das plantações contra pragas e doenças.

TECNOLOGIA – No aplicativo do Colmeia Viva, o agricultor pode se cadastrar, indicando onde estão as lavouras, e os apicultores indicam onde estão os apiários. O agricultor deve informar no aplicativo quando fará as aplicações de defensivos. Se o sistema identificar que há colmeias em um raio de seis quilômetros, o aplicativo notifica o agricultor e também o apicultor. O aplicativo pode ser baixado no telefone, ou acessado no endereço: www.colmeiavivaapp.com.br. São disponibilizadas aulas gratuitas e on-line aos participantes do Colmeia Viva.

“Muitas vezes, os produtores não se dão conta que ao aplicar defensivos em períodos em que há polinização de abelhas, eles estão causando prejuízos para a safra atual e para a seguinte. As abelhas marcam as lavouras em que elas sabem que suas companheiras morreram. E no ano seguinte, no período da florada, elas não vão mais onde um ano antes havia agroquímicos. Quando os agricultores sabem que há as nossas colmeias, eles realizam os tratos na lavoura sem prejudicar as abelhas”, explicou o apicultor Arno Wieringa.

Pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), o engenheiro agrônomo Décio Luiz Gazzoni explicou, em um artigo, que as abelhas também comunicam às demais da colmeia, por meio da dança, que determinada flor representa perigo. “Se uma abelha encontra outra abelha morta em uma flor, ela executa muito menos danças ao retornar à colmeia, o que pode ser atribuído ao fato delas associarem a abelha morta à presença de um predador na fonte de alimento”, contou.

Produtor de favos de mel conta com parceria de mais de 200 apicultores

Foto: Julio Huber

O empresário Fernando Figueiredo tem mais de 230 apicultores como parceiros e clientes na produção da cera alveolada

Se as abelhas ajudam os humanos, as pessoas também dão uma forcinha para as produtoras de mel. A base usada para elas construírem os favos é chamada de cera alveolada. Essas placas são colocadas dentro das colmeias, como forma de agilizar o trabalho das abelhas.

Em Pedra Azul, no município de Domingos Martins, na Região Serrana do Espírito Santo, o empresário Fernando Figueiredo é um desses produtores de cera alveolada. Ele possui o único equipamento em funcionamento no Estado, com capacidade de produzir até 150 quilos do material por dia. Fernando tem mais de 230 apicultores que são seus parceiros e clientes em municípios da região.

Ele iniciou na apicultura há cerca de 30 anos, mas diante da dificuldade em ter acesso à cera alveolada, ele viu uma oportunidade de montar a sua fábrica, que começou a produzir em dezembro de 2014. Ele explicou que os apicultores fornecem a ele a cera retirada das colmeias, e recebem o material pronto para inserir nas caixas onde as abelhas armazenam o mel em seus favos.

Normalmente, a cada quilo de cera bruta que o apicultor entrega na fábrica, ele recebe de 750 a 850 gramas do material pronto, em placas de cera alveolada, para usar nas colmeias. “A cada quilo de cera que a abelha deixa de produzir para a construção dos favos, ela consegue aumentar em seis a oito quilos a produção de mel. Oferecemos a ela uma placa com as marcações onde ela inicia a construção dos favos”, explicou. Assista, abaixo, a um vídeo em que Fernando mostra como é o funcionamento do equipamento que produz a cera alveolada.

Vídeo: Julio Huber / Edição: Bruno Faustino

Fernando Figueiredo explica como é o processo de produção das placas de cera alveolada que são colocadas para as abelhas

Abelhas também contribuem para a saúde das pessoas

Vitor Brasileiro Fernandes

Clínico médico, especialista em Atenção Primária da Unimed. Atua como médico da domiciliar, plantonista de UTI e como hospitalista.

O médico clínico geral e especialista em Atenção Primária da Unimed Sul, Vitor Brasileiro Fernandes, explicou que os produtos da abelha, como mel, própolis e geleia real, têm propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antibacterianas. Ele destacou o uso do mel como um remédio caseiro para tratar a tosse e outras doenças respiratórias.

“A própolis tem propriedades antivirais, antibacterianas, anti-inflamatórias, antineoplásica e antioxidante. Estudos sobre as vitaminas mostram que a geleia real é rica em vitaminas A, C, D, E, vitaminas do complexo B (B1, B2, B6, B12), proteínas, minerais e antioxidantes. É importante ressaltar que estes produtos não substituem os remédios receitados pelos médicos e nem devem ser utilizados de forma medicinal sem orientação de um especialista”, alertou.

Além do uso do mel para tratar tosse, dor de garganta e outras doenças respiratórias, o médico informou que a própolis pode ser utilizada para prevenir e tratar infecções respiratórias, como gripes e resfriados. “Já a geleia real tem sido associada a melhora da função cognitiva, aumento da resistência física, redução dos níveis de estresse e de colesterol. De forma geral, esses produtos são contraindicados a quem tem qualquer alergia aos seus componentes, à picada de abelha ou pólen”, informou.

O médico orienta que o mel não deve ser oferecido a crianças com menos de um ano de idade e a diabéticos, e a própolis e a geleia real devem ser evitadas por quem faz uso de anticoagulantes, por interferir na sua ação, de acordo com alguns estudos. “De qualquer forma, um médico é sempre importante para indicar ou contraindicar o uso destes produtos”, disse.

No ano de 2021, durante a pandemia da Covid-19, um estudo conduzido pelo médico nefrologista Marcelo Augusto Duarte Silveira, no Hospital São Rafael, Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, em Salvador (BA), em parceria com Andresa Berretta, farmacêutica responsável e gerente do Laboratório de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Apis Flora, de Ribeirão Preto (SP), mostrou melhora em pacientes internados que receberam própolis como tratamento coadjuvante, reduzindo o tempo de internação dos mesmos e melhorando as condições clínicas.


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Julio Huber

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