Foto: Julio Huber
Texto: Julio Huber – Espírito Santo e Minas Gerais
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Os últimos anos têm sido testemunhas de importantes transformações e mudanças de conceitos da sociedade mundial. Na agricultura, não é diferente. As histórias contadas pelos mais velhos são de dificuldades e muito trabalho. Derrubar matas para fazer plantios, usar animais para os trabalhos da roça e o auge do uso de defensivos agrícolas estão ficando na memória de quem viveu àquela época. O apelo por alimentos saudáveis e a busca por ações de preservações ambientais se intensificaram nos últimos anos, principalmente após a pandemia da Covid-19.
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Cada vez mais em evidência em todo o mundo, a preservação do meio ambiente é um tema que tem trazido mudanças no setor agrícola brasileiro, e que não tem mais volta. O sistema tradicional de cultivo está dando lugar a práticas agroecológicas, o que tem proporcionado mais saúde aos agricultores e consumidores – já que o uso de agroquímicos tem sido reduzido e até eliminado em muitas propriedades – e contribuído cada vez mais para o sequestro dos gases efeito estufa (GEE) da atmosfera.
São diversas iniciativas ambientais em prática atualmente, mas uma tem ganhado espaço em lavouras de café do Brasil. Ainda desconhecida por muitos, a agricultura regenerativa vem se expandindo no país e já virou referência mundial, após uma lavoura do Cerrado Mineiro obter a primeira certificação no mundo para cafés produzidos nesse sistema.
Como o nome sugere, esse sistema de produção visa regenerar a terra, o meio ambiente e transformar as lavouras em armazenadoras de carbono, o que está de acordo com a meta da Organização das Nações Unidas (ONU), que aponta a restauração de ecossistemas como uma boa alternativa para sequestrar carbono e mitigar as emissões de GEE da atmosfera.
O pesquisador José Antônio Azevedo Espindola, da unidade de Agrobiologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que fica em Seropédica (RJ), destacou que a agricultura regenerativa apresenta pontos de interação com diferentes sistemas de produção que favorecem o meio ambiente. “Merecem destaque os sistemas agroecológicos ou orgânicos de produção, com os quais são desenvolvidos projetos associados ao Portfólio Sistemas de Produção de Base Ecológica, da Embrapa”, disse.
EXEMPLO MUNDIAL – Vários cafeicultores e cooperativas agrícolas do Espírito Santo e de Minas Gerais comprovam que o Brasil está seguindo a pauta escolhida pela ONU como tema central da década temática 2021-2030, que é a remoção de dióxido de carbono da atmosfera.
Foto: Agro Beloni/Divulgação
A Agro Beloni, que fica na fazenda Santa Cruz da Vargem Grande, localizada em Patrocínio, no Cerrado de Minas Gerais, se tornou a primeira produtora de café no mundo a receber a certificação de agricultura regenerativa Regenagri – programa internacional de agricultura regenerativa, que visa garantir a saúde da terra e o cuidado com quem nela vive.
Concedido pela empresa britânica Control Union, presente em mais de 70 países, o certificado reconhece as boas práticas e o uso da tecnologia, aliada às ações sustentáveis com foco na agricultura regenerativa.
“A agricultura regenerativa é aquela que busca melhorar o equilíbrio do solo e das plantas, através do desenvolvimento da vida biológica de ambos”, diz Fernando Nogues Beloni, diretor da produção cafeeira da Agro Beloni. Ele contou que quando se iniciou o plantio de café na propriedade, foi usada a mesma filosofia de plantio direto utilizada na produção de grãos, já que possuem experiência no setor.
“Começamos há uns oito anos com o uso mais intensivo de fertilizantes orgânicos em substituição aos químicos, sempre usando os resíduos produzidos na fazenda. Hoje temos uma unidade de compostagem na fazenda e conseguimos reduzir em até 40% o uso de fertilizantes químicos”, contou Fernando.
A fazenda também possui uma fábrica de insumos biológicos. Com isso, hoje há a redução de até 40% no uso de defensivos químicos. Na lavoura de café, a família começou a plantar braquiária e agora utilizam um mix de plantas de cobertura entre as leiras. Hoje, toda a área de café, de 380 hectares, é certificada como regenerativa.
Fernando citou que a Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocaccer) foi parceira da ideia, e abraçou a prática. “Foi feita uma divulgação muito grande desse trabalho, que estamos tentando converter em geração de um valor agregado maior para o café, não só do meu, mas também dos outros produtores da cooperativa que já obtiveram o certificado de café regenerativo”, disse. Conheça mais da Agro Beloni no vídeo abaixo.
O superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, Juliano Tarabal, disse que tem aumentado o número de cafeicultores na busca por sistemas de produção com maior uso de bioinsumos e práticas climaticamente inteligentes, como cobertura de solos e uma arborização que permita a mecanização.
“Isso é muito positivo, pois temos visto ano a ano o aumento do impacto climático, portanto precisamos de práticas que tornem as lavouras mais resilientes. A federação é membro fundadora do Consórcio Cerrado das Águas, uma plataforma multi-stakeholders que dissemina boas práticas agrícolas em propriedades e atua em bacias hidrográficas estratégicas no Cerrado Mineiro. As cooperativas membros da federação têm programas importantes em andamento, como o de carbono neutro e ESG”, contou.
Propriedade nas montanhas do Espírito Santo tem a agroecologia no DNA
Se para muitos, agricultura regenerativa parece algo recente ou alguma moda do momento, para Henrique Sloper, da Fazenda Camocim, nas montanhas do Espírito Santo, o assunto está literalmente em sua veia, na de seus colaboradores e é a essência da propriedade, que fica bem ao lado da imponente Pedra Azul, no município de Domingos Martins.
“Temos que usar a natureza a nosso favor, não contra a gente. Nunca usamos um defensivo agrícola e nem adubo químico em nossa propriedade, desde que começamos a cultivar café, em 1996. Eu não sei fazer diferente”, relatou Sloper, que produz café orgânico em toda a sua propriedade, de 140 hectares em produção. A fazenda também é conhecida por produzir o segundo café mais caro do mundo, o Café do Jacu.
Ele conta que na propriedade há uma cafeteria aberta a turistas e são realizadas visitas guiadas para quem quiser conhecer a forma do manejo. Além disso, um dos diferenciais fazenda, são os certificados nacionais e internacionais de produção orgânica e biodinâmica, uma vez que se faz exportação direta para 27 países, e também será solicitada a certificação de agricultura regenerativa para a fazenda.
Foto: Camocim/Divulgação
“Já praticamos a agricultura regenerativa desde quando começamos a cultivar aqui. Para nós não existiu uma transição, porque nunca praticamos técnicas tradicionais de cultivo”, frisou o cafeicultor e empresário. Ele acrescentou que a geração atual está mais preocupada com a preservação ambiental, e muitas famílias estão migrando lavouras para a produção orgânica.
Inclusive no combate a doenças que atacam o cafezal, os produtos usados são feitos na propriedade. “Usamos sete homeopatias na terra, que fortalecem o solo. Aliado a outros processos, como a micorriza, que é um fungo que cresce naturalmente no solo rico, e que estamos fazendo a inoculação, para aumentar a interação entre as plantas e obtermos aumento de produtividade e de qualidade. Estamos obtendo excelentes resultados em testes na propriedade”, revelou.
Henrique Sloper, que é cooperado do Sicoob, destaca o bom relacionamento que mantém com o banco cooperativo. “Eles me ajudam na parte financeira da propriedade e usamos os serviços de cobranças do Sicoob nos nossos negócios”, relatou.
Foto: Camocim/Divulgação
Sloper também enfatizou a importância das cooperativas capixabas para estimular os cafeicultores a migrarem para práticas agroecológicas. “Quando eu comecei, não tinha tanta orientação. Além do Ifes (Instituto Federal do Espírito Santo) e do Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural), as cooperativas fazem um excelente trabalho de apoio aos seus cooperados”, destacou.
Ele contou que também realiza negócios com a Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel) e com a Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi). “Eu compro café conilon da Cooabriel e também da Coopeavi, para atender algumas demandas. As cooperativas capixabas têm ajudado muito os produtores. Recentemente, participei de dois importantes eventos promovidos por cooperativas, voltados à sustentabilidade. Sem contar os concursos de qualidade de café, que é um estímulo a mais para a produção de qualidade”, acrescentou.
Cafeicultura capixaba está migrando para a produção agroecológica
Os cafeicultores do Espírito Santo que fazem parte de cooperativas possuem auxílios importantes nas questões ambientais de suas propriedades. De acordo com o analista de mercado e colaborador responsável por atender as demandas do setor do café, no Sistema OCB/ES, Alexandre Ferreira, uma das iniciativas é a Indicação Geográfica (IG) do café conilon capixaba, registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
“Essa é uma forma de garantir o cumprimento de boas práticas ambientais na cafeicultura capixaba, pois há regras ambientais a serem cumpridas”, destacou. A IG foi solicitada pela Federação dos Cafés do Estado do Espírito Santo (Fecafés), composta pelo Sistema OCB/ES e pela Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul), Cooabriel, Coopeavi e Cooperativa dos Produtores Agropecuários da Bacia do Cricaré (Coopbac).
Além disso, cooperativas capixabas estão realizando atividades focadas na produção de café pelo sistema de agricultura regenerativa, conforme explicou o diretor-executivo do Sistema OCB/ES e presidente do Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae/ES, Carlos André Santos de Oliveira.
Um exemplo citado por ele é a parceria da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé) com a start-up francesa NetZero. A cooperativa está investindo em um projeto que reduz o impacto ambiental e aproveita a matéria orgânica da palha do café, o chamado biochar. “O produto é obtido por meio da transformação de matérias orgânicas, como a palha de café, em carvão biológico mediante processamento em reatores”, contou.
A produção de cafés orgânicos em propriedades capixabas não é assunto novo. Um exemplo é a Cooperativa de Empreendedores Rurais de Domingos Martins (Coopram), que conta com alguns cooperados, e há alguns anos aderiram a esse sistema, como é o caso do cafeicultor Adriano Wruck, que juntamente com a sua família produz os cafés especiais Wruck, uma marca própria, mas que tem o apoio da Coopram.
“A importância das cooperativas em se comprometerem com questões ambientais se deve à necessidade de atender requisitos legais e de responder às novas demandas do mercado. Os projetos ambientais no Brasil seguem uma legislação rigorosa, e todas as cooperativas são cumpridoras da lei. Além do mais, os mercados nacional e internacional estão exigindo práticas mais sustentáveis”, destacou Carlos André.
Foto: Julio Huber
Quando falamos em qualidade de café, temos que pensar em todos os sentidos, e isso inclui o respeito ao meio ambiente.
Luiz Cláudio Souza, cooperado da Cafesul, de Muqui, no Sul do Espírito Santo
O diretor-executivo do Sistema OCB/ES ainda reforçou que produtos certificados e orgânicos têm sido cada vez mais valorizados pelos compradores e consumidores, pois são modelos de produção alinhados ao conceito ESG, ou seja, comprometidos com padrões íntegros de governança ambiental, social e corporativa.
“Investindo em produtos oriundos de processos que ajudam a preservar ou recuperar o meio ambiente, as cooperativas poderão agregar mais valor aos seus produtos, ser mais bem remuneradas, aumentar sua competividade e ganhar espaço em novos mercados, sem falar nos benefícios gerados para toda a sociedade”, acrescentou.
Grandes empresas do ramo de comercialização de café também estão investindo pesado na agricultura regenerativa, como a Nescafé, principal marca de café da Nestlé. A previsão da empresa é disponibilizar US$ 1 bilhão nos próximos oito anos, com o objetivo de zerar a emissão de GEE da Nestlé até 2050. No Brasil, todos os cafés da empresa são de propriedades que possuem certificação de boas práticas agrícolas.
Café orgânico 100% conilon será lançado no Espírito Santo
Os cafeicultores capixabas se destacam quando o assunto é agroecologia em propriedades rurais. Um exemplo vem do município de Muqui, onde a Cafesul coordena diversas ações com os produtores de café conilon “robusta”.
De acordo com o presidente da cooperativa, Carlos Renato Alvarenga Theodoro, atualmente oito produtores estão no processo de transição de produção convencional para a orgânica, e um produtor cooperado já possui uma certificação nacional.
“Os produtores que estão com lavouras orgânicas terão uma certificação nacional, aceita em vários países. Em breve, teremos uma marca de café conilon orgânico no mercado”, afirmou o presidente da Cafesul.
Segundo Carlos Renato Theodoro, a cooperativa vê que o mercado de orgânicos é o futuro da cafeicultura. “Recentemente fui a uma feira em Milão, na Itália, e fui questionado se eu tinha café orgânico. Assim que conseguirmos a certificação, vamos oferecer o robusta orgânico a estes compradores que se interessaram. O principal mercado deve ser o europeu, mas vamos nos certificar para vender no Canadá e nos Estados Unidos também”, revelou.
APOIO TÉCNICO – Na cooperativa, os produtores interessados em migrar para a produção orgânica recebem todo o apoio técnico. Segundo Theodoro, o cafeicultor que já está fazendo a transição de lavouras para o sistema de orgânico, está no caminho para a agricultura regenerativa. “Eu assisti uma palestra sobre o tema e me interessei muito. Boa parte das práticas que usamos hoje já está indo neste sentido, e em breve teremos lavouras regenerativas”, garantiu.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Espírito Santo (Senar-ES) também tem apoiado cafeicultores capixabas, pois possui em seu portfólio treinamentos voltados para o desenvolvimento da agricultura orgânica, inclusive com consultorias individualizadas aos produtores rurais.
Um dos programas de sucesso é o Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), cujo foco é a sustentabilidade da propriedade. “O programa faz o diagnostico individualizado, com o técnico de campo. É feito um plano de ação para melhorias tanto ambiental, social e econômica na propriedade, e o atendimento dura 28 meses”, contou o coordenador técnico Murilo Antônio Pedroni.
Das mais de 1.800 propriedades atendidas pela ATeG no Estado, constam 24 propriedades orgânicas no município de Santa Teresa, sendo oito de cafeicultura. Em Muqui, 21 propriedades de café conilon orgânico receberam apoio técnico entre 2019 a 2021. Quem quiser participar dos programas do Senar-ES, pode procurar o Sindicato Rural do município ou acessar: www.senar-es.org.br.
Foto: Julio Huber
Um dos produtores atendidos pelo programa é Luiz Cláudio de Souza, do Sítio Grãos de Ouro, em Muqui, e cooperado da Cafesul. A expectativa é de que ainda este ano ele obtenha a certificação orgânica da Chão Vivo para toda a sua propriedade. Dessa forma, a partir da próxima safra, Luiz Cláudio produzirá todos os seus grãos orgânicos e poderá comercializar em todo o Brasil.
“Já era um sonho antigo produzir café orgânico. Quando a cooperativa fez a parceria com o Senar, eu logo comecei a participar e esse já é o 4º ano de acompanhamento. Quando falamos em qualidade de café, temos que pensar em todos os sentidos, e isso inclui o respeito ao meio ambiente. Com a produção tradicional, o solo não é vivo, e a planta tem mais dificuldade em absorver os nutrientes necessários para uma boa produção”, destacou. No vídeo abaixo, ele conta a satisfação e o prazer em trabalhar com cafeicultura.
Cafeicultores Fairtrade do Brasil focam na agricultura regenerativa
Colocando em prática algumas das primícias do Comércio Justo, cafeicultores e cafeicultoras brasileiras, que fazem parte de associações e cooperativas de pequenos produtores Fairtrade estão focados em migrar a produção tradicional de café Fairtrade para a agricultura regenerativa e para o sistema de produção orgânica.
Além de atenderem a uma demanda crescente do mercado global, os produtores e produtoras também seguem orientações da Coordenadora Latino-Americana e do Caribe de Pequenos Produtores e Trabalhadores do Comércio Justo (CLAC), coproprietária e parte do sistema Fairtrade.
Fotos: Coomap/Divulgação
No município de Paraguaçu, no Sul de Minas Gerais, a Cooperativa Mista Agropecuária de Paraguaçu (Coomap) está implantando um projeto nesse sentido. O gerente de sustentabilidade da cooperativa, Rogério Araújo Pereira, explicou como está sendo esse processo de mudança nos tratos culturais das lavouras.
“Esse trabalho é o foco da cooperativa. Acreditamos que esse manejo trará muitos benefícios aos cooperados. Decidimos implementar a agricultura regenerativa porque o mercado Fairtrade exige cada vez mais cuidado com o meio ambiente, e também por conta da suspensão do uso do glifosato”, informou.
Rogério explicou que o manejo requer a inserção de plantas forrageiras no meio da lavoura e o uso de produtos biológicos. Assim, segundo ele, os cafezais terão uma maior resistência às pragas e doenças, e os fertilizantes biológicos serão mais eficientes, pois o solo deixará de ser compactado.
“Temos hoje cerca de 850 cooperados, e cerca de 60% a 70% já estão aderindo a esse manejo”, disse. Com os recursos do Prêmio Fairtrade, que é um valor adicional pago aos produtos certificados, a Coomap está subsidiando a compra de sementes de plantas de cobertura. A implantação em cada hectare gira em torno de R$ 300 a R$ 400 e a cooperativa custeará cerca de 50% desse valor.
Em Manhuaçu, na Zona da Mata de Minas Gerais, o jovem produtor Fabiano Diniz, que também produz café Fairtrade e é cooperado à Cooperativa Regional Indústria e Comércio de Produtos Agrícolas do Povo que Luta (Coorpol), tem se destacado com seus grãos em concursos nacionais de qualidade e já mira na agricultura regenerativa.
Foto: Julio Huber
Quem quiser se destacar terá que sair da zona de conforto e buscar novas maneiras de se diferenciar da maioria, sendo a sustentabilidade algo primordial”
Fabiano Diniz, de Manhuaçu, ao lado da irmã Josiane Diniz
“A agricultura regenerativa é uma ideia que venho incluindo aos poucos. Hoje já planto duas ou três culturas no meio da lavoura, além do consórcio com abacate. Isso vem me garantido maior teor de matéria orgânica, uma fauna microbiota mais rica e isso influencia também na minha qualidade de vida. Quem quiser se destacar terá que sair da zona de conforto e buscar novas maneiras de se diferenciar da maioria, sendo a sustentabilidade algo primordial”, destacou.
Parceria internacional auxilia implantação de agricultura regenerativa na Minasul
Considerada a 2ª maior cooperativa exportadora de café no Brasil, a Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Varginha (Minasul), é exemplo em projetos ambientais na cafeicultura. Situada em Varginha, no Sul de Minas Gerais, a cooperativa possui mais de nove mil cooperados, distribuídos em mais de 250 municípios.
O engenheiro agrônomo e coordenador de Sustentabilidade Cooperativa da Minasul, Frederico Caldeira, afirmou que a agricultura regenerativa não será o futuro da cafeicultura, pois já é realidade.
“Já trabalhamos há alguns anos com o manejo conservacionista do solo, como a cobertura do solo, principalmente em áreas com mais probabilidade de erosão. Mais recentemente iniciamos ações voltadas à agricultura regenerativa na propriedade de alguns cooperados”, contou.
Um dos projetos de sustentabilidade é realizado em parceria com a empresa Mercon Coffee Group, que é um fornecedor global de café verde. O projeto realizado com cooperados da Minasul se chama Lift, e tem como objetivo aumentar a produtividade das lavouras de café por meio de práticas ambientais e socialmente conscientes.
Foto: Minasul/Divulgação
“Estamos implantando o sistema regenerativo em algumas áreas de café arábica. A Mercon está fornecendo sementes de plantas de cobertura que são implantadas no meio das lavouras, e eu também estou buscando empresas de referência no Brasil nessa área, como uma empresa que atua no Cerrado Mineiro”, contou Frederico.
O engenheiro agrônomo destacou que há vários benefícios em ter plantas de coberturas nas lavouras. “Criamos um ambiente para os hospedeiros naturais que combatem pragas que atacam as lavouras e há maior fixação de nitrogênio. Além disso, conseguimos eficiência sobre os microrganismos de solos, como, capacidades de reciclar nutrientes e de fazer matéria orgânica. A agricultura regenerativa trabalha a parte física, química e biológica do solo”, enfatizou.
Atualmente, 12 produtores estão participando do projeto de agricultura regenerativa, com uma área total de cerca de 50 hectares de lavouras em processo de adequações. “Temos um potencial muito grande dentro da cooperativa para ampliar as ações voltadas à agricultura regenerativa”, explicou o engenheiro agrônomo.
Muito além da melhoria no valor dos cafés que possam vir a ser comercializados, provenientes de lavouras regenerativas, Frederico comentou que a qualidade e a quantidade da produção é um dos principais ganhos. “Quando melhoramos a qualidade do solo, temos plantas mais saudáveis. O ganho real está em regenerar, cultivar e melhorar a qualidade do bem mais precioso que todo o agricultor tem, que é a terra”, frisou.
Programa aumenta água em propriedades de café
O Conselho Nacional do Café (CNC), em parceria com a Cooperativa dos Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), que fica em Guaxupé (MG), está colhendo frutos de um programa chamado Café Produtor de Água. Segundo a assessora técnica do CNC e coordenadora do Programa, Natalia Fernandes Carr, o projeto piloto está sendo executado na Cooxupé, mas a intenção é ampliar para outras cooperativas nas demais regiões produtoras de café no Brasil.
Atualmente, a ação está em andamento na propriedade de cinco cafeicultores localizados na bacia do Ribeirão Conquista, em Alpinópolis (MG). “Conhecidos como produtores modelo, os escolhemos para desenvolver o piloto e incentivar os produtores vizinhos a se inscreverem, futuramente, para o edital de chamamento do programa”, informou.
Fotos: CNC/Divulgação
Natalia Carr explicou que o programa tem como principal objetivo preservar as bacias hidrográficas, por meio da revitalização das áreas de cabeceira, nascentes e matas ciliares. “A recuperação de estradas vicinais faz parte do projeto, afinal, nas estradas a água também deve ser adequadamente direcionada para infiltrar nas lavouras e reduzir o assoreamento dos corpos d’água, além de trazer maior eficiência na logística do transporte rural”, contou.
Na propriedade, após a área ser analisada, foram propostas algumas ações ao produtor, como: adequação dos carreadores (as ruas entre um talhão e outro dentro da lavoura), construção de lombadas e caixas secas, direcionando e armazenando a água para sua distribuição uniforme ao longo da área para melhor infiltração. Assista abaixo a um vídeo produzido pelo CNC sobre o projeto. Assista abaixo um vídeo com um pouco mais sobre o projeto.
“Os benefícios são incontáveis e vão desde o aumento em quantidade e qualidade da água na bacia do ribeirão até incremento em produtividade. As práticas propiciam mais água disponível ao longo do ano, inclusive nos períodos de seca, além da atração de inimigos naturais, por conta do incremento em diversidade acima e abaixo do solo”, relatou.
Estudo confirma que cafeicultura brasileira sequestra mais gases efeito estufa do que emite
Um recente relatório da ONU apontou que os GEE “provavelmente elevarão as temperaturas mundiais a pelo menos 1,5 °C acima das condições pré-industriais nos próximos 20 anos, alimentando ondas de calor, inundações e secas mais comuns e severas”. Uma das formas de minimizar esses impactos ou até impedir que isso ocorra é por meio da remoção de carbono da atmosfera.
Um importante estudo divulgado este ano, intitulado: “Estimativa das emissões e remoções de gases de efeito estufa do café brasileiro”, confirmou, após analisar 40 propriedades em três regiões de Minas Gerais (Cerrado Mineiro, Sul de Minas e Matas de Minas), que a cafeicultura brasileira tem emissão negativa de gazes efeito estufa, e contribui para o sequestro de gazes nocivo à atmosfera.
O trabalho foi liderado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), e foi desenvolvido em parceria com a Cooxupé, ED&F Man Volcafé Brasil, EISA – Empresa Interagricola, Exportadora Guaxupé e Projeto Educampo do Sebrae/MG. Foram parceiros financiadores desta iniciativa a Fundação Lavazza e a Starbucks.
No trabalho foi comparada a emissão e sequestro de gazes nocivos à atmosfera em lavouras com manejo tradicional e em lavouras que possuem boas práticas agrícolas. Com base nos resultados obtidos no estudo, constatou-se que a transição da condição de manejo tradicional para boas práticas na cultura do café provou ser uma estratégia eficiente para incrementar os estoques de carbono entre 1% a 19% do solo e de 96% a 129% na planta.
Estimou-se que entre as principais fontes emissoras desses gases estão o uso de adubos nitrogenados (42%), seguido de calcário (28%), combustíveis líquidos, como diesel e gasolina (17%) e agroquímicos (8%).
A estimativa do balanço de carbono total apresenta um valor negativo de -1,63 t CO2e para a cultura do café, mesmo que cultivada de forma tradicional. Já em relação ao balanço de carbono do café cultivado a partir das atividades de boas práticas, essas fazendas acumulam -10,5 t CO2e ha/ano. Esses dados comprovam que boas práticas foram eficientes para incrementar de forma expressiva os estoques de carbono em relação às práticas convencionais.
Além do acúmulo de carbono nas lavouras de café, o estudo lembra que as propriedades agrícolas do Brasil existem áreas de preservação previstas em lei, possuindo um estoque de carbono incorporado pela vegetação nativa de, em média, 50 t de carbono a mais por área de café cultivado. Clique aqui e leia o estudo na íntegra!
O pesquisador Joel Leandro de Queiroga, da Embrapa Meio Ambiente, que fica em Jaguariúna (SP), comentou que estudos como estes também estão em pesquisa e em execução pela Embrapa Meio Ambiente. “A composição deste sistema conta com o café e outras culturas de interesse agrícola, combinadas com espécies arbóreas nativas e exóticas. Estudos para a quantificação e monitoramento do estoque de carbono em diferentes camadas superficiais do solo já foram desenvolvidos. Os resultados destes estudos estão previstos para o final do projeto”, informou.
Sicoob libera mais de R$ 1 bilhão em 12 meses para agricultores capixabas
O Sicoob, que está presente em todo o Espírito Santo, também é um parceiro nessa mudança de cultura da forma de se produzir alimentos. Além de linhas de créditos para produtores rurais, são realizados diversos projetos voltados à preservação ambiental. De acordo com o gerente de crédito e agronegócio do Sicoob/ES, Eduardo Ton, atualmente a instituição financeira cooperativa trabalha com linhas de créditos, como Pronaf, Pronamp e Demais Produtores, que contam com recursos próprios e de repasses do governo federal.
Para ter acesso ao crédito, o produtor deve ser cooperado do Sicoob e atender a algumas normativas do Banco Central. O Sicoob/ES é o maior repassador do Estado em relação aos recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) e a segunda maior instituição financeira em total de liberações do Plano Safra no Espírito Santo.
“Ao longo dos anos, fomos aperfeiçoando ainda mais as soluções para que o empreendedor rural pudesse encontrar no Sicoob um parceiro para todas as suas necessidades, desde o custeio, investimento, industrialização, até a comercialização”, destaca Eduardo Ton. Nos últimos 12 meses, foram liberados mais de R$ 1 bilhão em crédito rural.
Em sintonia com o incentivo ao desenvolvimento sustentável e combate às mudanças climáticas, o Sicoob/ES mantém a linha especial de crédito Ecoar, destinada às empresas que desejam financiar projetos de geração de energias renováveis, reaproveitamento de água e instalação de biodigestores, além de projetos de reciclagem em geral.
Foto: Sicoob/Divulgação
Entre os destaques dos projetos financiados pela linha Ecoar, está o Projeto Água Limpa + Saúde, que prevê o financiamento sem juros para a compra de biodigestores (sistema de tratamento de esgoto) por produtores rurais.
“A iniciativa vem ao encontro de um dos principais problemas brasileiros, que é a falta de saneamento básico. Essa é uma forma de o Sicoob contribuir para o meio ambiente e para a melhoria das condições de vida no campo. Com os recursos do programa, os produtores rurais poderão instalar biodigestores para tratar o esgoto doméstico de suas propriedades, evitando a contaminação dos rios e mananciais”, destacou Eduardo Ton.
Dessa forma, segundo ele, o Sicoob espera contribuir tanto para proteger o meio ambiente quanto para melhorar a saúde das famílias, ao prevenir doenças causadas pela ingestão ou contato com água contaminada.
O programa é desenvolvido pelo Sicoob/ES e tem como parceiros o Sistema OCB/ES a Coocafé, a Cooabriel, a Coopeavi, a Unimed e a empresa Fortlev. O biodigestor pode ser financiando em até 36 meses, a um baixo custo (taxa de 0,99 a.m.) ou com juro zero para as parcelas pagas em dia. Nos últimos 12 meses, foram liberados R$ 174.963.725,47 para a execução do projeto no Estado.