62% dos navios para exportação de café registram atrasos em junho
Segundo um levantamento do Cecafé, que envolveu exportadores responsáveis por 77% dos embarques, o Brasil não exportou 1,232 milhão de sacas de café em junho. Isso resultou em uma perda de US$ 294,671 milhões em receitas para o país.
A pesquisa inédita do Cecafé, realizada com 30 exportadores associados, que representam 77% dos embarques totais, revelou que a ausência dessas exportações no mês passado se deveu a atrasos de navios, mudanças de prazos, adiamentos de cargas e falta de espaço nos terminais portuários.
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A falta desses embarques gerou uma perda de US$ 294,671 milhões (aproximadamente R$ 1,588 bilhão, considerando a cotação média do dólar a R$ 5,39) nas transações comerciais do país e causou um prejuízo de R$ 4,7 milhões para as 30 empresas envolvidas, devido aos custos adicionais e imprevistos com armazenagem extra, pré-stackings, detentions e gates antecipados.
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O levantamento também revelou que, entre os custos adicionais enfrentados pelos exportadores de café em junho, 93% enfrentaram despesas extras com pré-stacking, 87% com detentions, 70% com armazenagem adicional e 20% com gates antecipados.
Quanto aos principais problemas enfrentados nos embarques do mês passado, 87% das empresas relataram dificuldades com alterações frequentes de atracações e prazos, 67% com adiamentos de cargas, 60% com a abertura de gates, 30% com a falta de janelas e 23% com a escassez de contêineres.
PORTO DE SANTOS – Santos, o maior porto da América do Sul, registrou indicadores de desempenho inferiores aos do mês de maio e o segundo pior desde o início do Boletim DTZ. No terminal santista, principal ponto de saída do café brasileiro ao exterior, com representatividade de 69,1% no primeiro semestre, foi registrado o maior índice de atrasos de navios para exportação, de 82%, envolvendo 118 do total de 144 embarcações.
Em junho, 16% dos procedimentos de embarque tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto por navios no Porto de Santos. Outros 58% possuíram entre três e quatro dias e 25% tiveram menos de dois dias. Além disso, 32 navios sequer tiveram uma abertura de gate no mês passado.
Por conta desse cenário de alterações regulares de atracações e deadlines, rolagens de cargas, abertura de gate, falta de janelas e contêineres, o Porto de Santos foi responsável por 59% do 1,232 milhão de sacas de café que o Brasil deixou de exportar em junho, ou cerca de 725 mil sacas (2.198 contêineres), o que impossibilitou o ingresso de US$ 173,5 milhões (R$ 934,8 milhões) em divisas ao país.
De acordo com a pesquisa efetuada pelo Cecafé, 43% dos exportadores consultados declararam que as operações no cais santista pioraram um pouco em junho; 23% informaram ter piorado muito; 23% relataram que o cenário foi semelhante ao mês de maio; enquanto outros 7% das empresas declararam não ter embarcado café por Santos.
PORTOS DO RIO DE JANEIRO – Nos portos de Rio de Janeiro (RJ) e Itaguaí (RJ), o segundo maior embarcador dos cafés do Brasil, com representatividade de 27,9% no acumulado de 2024, o índice de atrasos das embarcações foi de 51% em junho, o que envolveu 40 dos 78 navios destinados às remessas do produto.
Ainda no agregado de junho de 2024, 18% dos procedimentos de exportação tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto por porta-contêineres nos portos fluminenses; 36% registraram entre três e quatro dias; e 46% possuíram menos de dois dias.
Do volume total deixado de exportar pelo país no mês de junho, o complexo portuário do Rio Janeiro correspondeu a 10%, deixando de embarcar 122 mil sacas (cerca de 371 contêineres), o que implicou em menos US$ 29,3 milhões (R$ 157,8 milhões) que deixaram de entrar no Brasil como receita cambial.
Das empresas que embarcaram café pelo Porto do Rio de Janeiro no mês passado, 13% declararam que as operações pioraram um pouco; 7% informaram ter piorado muito; 20% relataram que o cenário foi semelhante a maio; e outros 60% disseram não terem exportaram por lá. No porto de Itaguaí, 7% declararam que as operações pioraram um pouco; 3% que pioraram muito; 23% que o cenário foi semelhante ao mês anterior; e outros 67% disseram não embarcar por Itaguaí.
PORTO DE VITÓRIA – O Porto de Vitória é mais um que segue enfrentando o agravamento do gargalo logístico. Segundo “Carta aberta destinada às Autoridades Públicas”, elaborada e publicada pelo Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV), que vem empenhando grandes esforços para mitigar os riscos logísticos no complexo portuário capixaba, a situação no cais do Estado vem se agravando com a “formação de filas de navios, a escassez de contêineres, a dificuldade de controle dos gates, a dificuldade dos sistemas de atendimento ao consumidor dos terminais portuários e a ausência de espaço para movimentação de carga”, incorrendo em perdas de embarques, transferência de cargas para outros portos e adição de custos elevados aos embarques de café.
Em junho, 33% das empresas que realizaram embarque cafeeiro pelo porto capixaba declararam que a situação piorou muito; 3% que piorou um pouco; 3% que a situação foi semelhante a maio; e outros 60% disseram não embarcar pelo embarcadouro da capital do ES, de acordo com a pesquisa elaborada pelo Cecafé.
Diante desse cenário de agravamento, o Porto de Vitória deixou de exportar 374 mil sacas (cerca de 1.134 contêineres) em junho e correspondeu a 30% dos cafés não embarcados pelo país no mês passado. Esse resultado vetou a entrada de US$ 89,5 milhões (R$ 482,3 milhões) nas receitas cambiais do Brasil.
Segundo o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, a continuidade e o aumento no número de navios com atrasos e alterações de deadlines reflete as limitações de infraestrutura e da falta de espaços físicos nos portos que embarcam o café brasileiro.
Ele alerta que, mesmo mantendo a liderança nas remessas do produto ao exterior, a representatividade do Porto de Santos vem caindo desde 2022, quando detinha 80% dos embarques, tendo recuado para 69% no primeiro semestre de 2024, menor índice observado nos últimos 15 anos. Também de janeiro a junho deste ano, o complexo portuário do Rio de Janeiro ampliou sua participação de 15% para 28% nos embarques do café do país.
“É notório os entraves logísticos e a limitação física de capacidade nos diversos portos que embarcam o café brasileiro, com Santos apresentando indicadores inferiores e agravantes por concentrar o maior volume de carga e, ainda, por representar maior participação no escoamento da safra cafeeira”, comenta Heron.
De acordo com ele, o Brasil vem exportando, mensalmente, cerca de 4,1 milhões de sacas (12.424 contêineres) desde outubro de 2023, inclusive no período de entressafra, com exceções aos meses de fevereiro, mais curto e com feriado de Carnaval, e junho. “O país manteve um expressivo volume de embarque desde outubro e os problemas logísticos verificados nas exportações de café nesse período revelaram a incapacidade do Porto de Santos absorver esse crescimento, devido à falta de espaços físicos nos terminais para as cargas conteinerizadas, fazendo com que o produto fosse embarcado pelos portos do Rio”, explica.
“As cargas de café – completa Heron – vêm do interior de Minas Gerais, São Paulo e do Espírito Santo, por exemplo, na expectativa de saírem por Santos, mas chegam aos terminais e são impedidas de entrar porque os pátios estão cheios. Assim, o exportador, que passa a ter custos adicionais elevados, com armazenagem extra, pré-stacking e detentions, busca alternativas para reduzir o impacto financeiro, tentando consolidar seus embarques por outros portos”, revela.
Frente a esse cenário desafiador, o diretor do Cecafé aponta que é urgente promover o debate com os diversos elos do comércio exterior brasileiro, analisar os atuais impactos e prejuízos aos exportadores e buscar soluções que mitiguem os riscos logísticos e evitem a adição de despesas elevadas e não previstas nos embarques.
“A ampliação da capacidade física para as cargas conteinerizadas nos terminais portuários, o aprofundamento do calado para as grandes embarcações, investimentos e estímulos para diversificação de modais para o giro mais rápido da carga no porto podem, sem dúvida, contribuir para reduzir esses gargalos logísticos e os prejuízos aos setores do comércio exterior brasileiro. Para o segundo semestre, as perspectivas são muito pessimistas diante da falta de capacidade portuária para as cargas de contêiner e da expectativa de aumento nos volumes de embarques de café, algodão e açúcar”, projeta.
Para uma tentativa de melhora no contexto dos gargalos logísticos, ele afirma que é necessária maior sensibilidade por parte das autoridades públicas frente aos prejuízos causados aos exportadores, com a adição de despesas elevadas e receitas que não entram no fluxo de caixa das empresas pelo não cumprimento embarque, sugerindo que o projeto original do STS10, no Porto de Santos, por exemplo, seja resgatado e avance, com urgência para se evitar colapso ainda maior.
“Se nada for feito, o atual cenário só irá piorando e não haverá eficiência de produtor e exportador que garantirá que o Brasil continue alcançando níveis significativos em exportação e receita cambial, como os recordes em volume, de 47,3 milhões de sacas, e valor, de US$ 9,8 bilhões, obtidos com os embarques de café na recém-encerrada safra 2023/24. Além disso, a situação atual evidencia o colapso no sistema portuário nacional para as cargas de contêineres, divergindo do que a Lei define como serviço adequado”, conclui Heron.
Fonte: Cecafé
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