Tilápias são o futuro que vem das águas

A produção do peixe tem melhorado a qualidade de vida e levado esperança de um amanhã melhor a famílias de agricultores

Dioni Schunk é um exemplo de piscicultor que tem a tilápia como a única fonte de renda 

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Texto: Julio Huber / Fotos: Julio Huber

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Publicado em 03/09/2024 às 20:29

O consumo de peixes no Brasil e no mundo tem aumentado nos últimos anos. Com isso, a produção de tilápia está se tornando uma importante fonte de renda para famílias de agricultores. O Brasil já é o quarto maior produtor mundial de espécie – atrás apenas da China, da Indonésia e do Egito.

E a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) tem fortalecido a importância do setor para a segurança alimentar da população. O relatório "O Estado Mundial da Pesca e Aquicultura" (SOFIA, na sigla em inglês), publicado no último mês de junho, indica que a produção mundial de pesca e aquicultura em 2022 elevou-se a 223,2 milhões de toneladas, 4,4% a mais que em 2020. Esse é um novo recorde mundial.

“A FAO valoriza as importantes conquistas alcançadas até agora, mas são necessárias mais ações transformadoras e adaptativas para fortalecer a eficiência, inclusividade, resiliência e sustentabilidade dos sistemas alimentares aquáticos e consolidar seu papel na luta contra a insegurança alimentar, mitigação da pobreza e governança sustentável”, afirmou o diretor-geral da FAO, QU Dongyu.

Os estados do Espírito Santo e de Pernambuco podem servir de exemplo de que ações organizadas contribuem para o crescimento da piscicultura e estimulam o consumo do peixe, considerada uma proteína saudável. E algo em comum nos dois estados é o apoio de cooperativas e a garantia de venda das tilápias dos agricultores, o que têm dado uma nova perspectiva de vida para centenas de famílias, que estão investindo na produção da espécie.

“Muitos dos atuais piscicultores nem criavam peixe. Tinham o espaço, a água na propriedade, mas não utilizavam. Foi quando, há seis anos, fundamos uma associação, que hoje é a cooperativa. Começamos com treinamento, capacitação e fazendo reuniões para explicar sobre o associativismo e o cooperativismo”, contou Weliton José de Carvalho, presidente da Cooperativa Pernambucana de Agropecuários e Criadores de Organismos Aquáticos (Copacoa), que tem sede em Cabo de Santo Agostinho, na região metropolitana do Recife, a capital do estado.

Hoje, Pernambuco desponta na produção de tilápia, é já é o quinto estado que mais produz o peixe no país. No Espírito Santo, há alguns anos, a tilápia passou a ser um dos principais produtos da Cooperativa de Empreendedores Rurais de Domingos Martins (Coopram), que após identificar uma oferta do produto entre os cooperados, buscou mercado para o peixe, e as portas se abriram.

Hoje, a Coopram processa 60 toneladas de tilápia por mês, em média, em duas unidades de processamento, uma que fica em Domingos Martins e outra em Muniz Freire, ambas na região de montanhas do estado. O presidente da cooperativa, Darli José Schaefer, explicou que com base nos pedidos firmados, é feita uma programação junto aos cooperados, que já introduzem os peixes juvenis nos tanques com a garantia de venda.

A cooperativa apoia o piscicultor com orientação técnica e na oferta de ração e de alevinos a um preço menor. “Sempre nos preocupamos com a comercialização, porque incentivamos a produzir, mas precisamos garantir o mercado. Hoje o peixe se tornou uma das principais fontes de renda de muitos cooperados”, afirmou.

Além disso, a Coopram atua em formato de integração para quem quer iniciar na piscicultura. “Para quem tem na sua propriedade condições de criar tilápia, elaboramos um projeto de viabilidade. Se o cooperado topar, a cooperativa custeia a estrutura, o fornecimento da ração e já é emitida uma nota de venda antecipada da tilápia”, detalhou o presidente da cooperativa.

Em Pernambuco, a Copacoa atua de forma semelhante. “Trabalhamos integrados ao produtor, que recebe os insumos, a assistência técnica e tem a garantia da compra. Os insumos são financiados de forma particular pelo produtor ou pelas instituições financeiras, como pelo Sicredi, que é a cooperativa de crédito parceira”, informou o presidente entidade.

Famílias melhoram de vida com a produção de tilápia

Foto: Divulgação

Produção de peixes em Pernambuco

Mais de 200 cooperados produzem tilápias em 23 municípios pernambucanos

Atualmente Pernambuco é o 5º maior produtor de tilápia no Brasil, empatado com Mato Grosso do Sul, ambos com 32 mil toneladas de produção anual, referentes a dados de 2023 do anuário produzido pela da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR). Presidente da Copacoa, Weliton José de Carvalho enfatiza a importância do peixe para a economia de pequenos agricultores. Segundo ele, muitos migraram suas produções para piscicultura, que proporciona uma rentabilidade melhor.

“Mesmo com esse destaque nacional, ainda temos carência de insumos, ração, alevinos e ainda há uma certa desorganização no mercado, com alguns produtores trabalhando de forma informal e até sem licenciamento. Diante dessa situação, e vendo o crescimento do setor, criamos a associação, que se transformou na cooperativa”, contou Weliton. Hoje a Copacoa atua em 23 municípios pernambucanos, com mais de 200 criadores.

E com o setor organizado e os produtores unidos por meio da cooperativa, Weliton conta que o lucro tem crescido, pois os insumos são comprados em conjunto, por intermédio da Copacoa, por um preço menor. “A cooperativa faz a entrega desses insumos e realizamos o planejamento de criação e venda garantida”, disse o dirigente.

A cooperativa mantém um acordo de cooperação técnica com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), Campus Vitória de Santo Antão. Por meio da parceria, dezenas de produtores já foram capacitados em diversos projetos já concluídos e em andamento.

O professor do Instituto Reginaldo Florêncio Júnior, que é engenheiro de Pesca com doutorado em Recursos Pesqueiros e Aquicultura, destacou que com a crescente demanda por pescado, a aquicultura surge como alternativa de produção de alimento e ao desenvolvimento da região. “No entanto, há uma carência de acessibilidade às informações técnicas, o que prejudica a eficácia e o aumento da produção. A capacitação e tecnificação utilizada aos aquicultores que já passaram pelo IFPE contribuiu para o aumento da produtividade”, afirmou.

Produtor abandona fruticultura e investe em piscicultura

Foto: Divulgação

Riã

Riã não se arrepende de ter trocado a produção de frutas pelos tanques de peixes

Na propriedade em que as frutas eram os destaques, hoje quem reina são as tilápias. Riã Santos Leôncio, 22, do Sítio Vertentes, em Chã Grande, Pernambuco, não se arrepende de ter deixado a produção de frutas para se dedicar à produção de peixes. Ele produzia principalmente goiaba e graviola.

“A tilápia é muito mais rentável, comparado com as frutas, que são mais trabalhosas,  têm os custos altos e, às vezes, não compensa. Isso me motivou a mudar de ramo. A cooperativa me ajudou muito, tanto na assistência técnica e tudo o mais que precisamos, desde a compra da ração, dos alevinos e a comercialização do peixe que produzimos, sabendo que vamos vender”, enfatizou.

Nesses dois anos atuando na piscicultura, Riã conseguiu melhorar a qualidade de vida de sua família e a estrutura da propriedade. “O poço, usávamos só para irrigação e já aumentei de tamanho três vezes para produzir mais, e tudo com o dinheiro da venda dos peixes. Investi nas gaiolas de criação, compramos alimentadores automáticos e melhoramos a nossa casa”, comemora.

Engenheiro vira referência na produção do peixe

Foto: Divulgação

Mauricio (2)

Carlos Maurício segue a técnica para produzir tilápia em sua propriedade

Aplicar os conhecimentos da Engenharia Mecânica na piscicultura pode parecer estranho, mas o engenheiro aposentado Carlos Maurício Melo, 64, que tem uma propriedade na cidade pernambucana de Vitória de Santo Antão, está virando referência na região com o uso de técnicas adequadas.

Ele começou a criar tilápias há três anos, e atualmente produz em torno de três toneladas por mês, com planos de ampliação. “O desafio em empreender em um negócio totalmente novo na minha carreira profissional me motivou a investir na piscicultura”, disse.

Maurício, que é cooperado da Copacoa, destacou a importância da cooperativa no processo produtivo. “É fundamental em todas as etapas do processo produtivo, o que facilita bastante para nós, cooperados, e gera um melhor resultado financeiro. Produzir com técnica e inovação é fundamental para todo negócio, e se aplica também para a piscicultura”, garantiu.

Tradição familiar na piscicultura ganha impulso com o cooperativismo capixaba

Foto: Julio Huber

Dione e Darli

Dioni, ao lado do presidente da Coopram, Darli Schaefer, comemora a entrega de mais de um milhão de tilápias aos cooperados

O produtor rural Dioni João Schunk, 37, acompanhou seu pai produzindo carpas, há 25 anos, em uma época em que a tilápia não era difundida na região de montanhas do Espírito Santo. Desde então, a família Schunk, em Paraju, Domingos Martins, passou a ser referência na venda de peixes juvenis no município e em cidades vizinhas.

Atualmente, Dioni cria alevinos e depois entrega os peixes juvenis aos cooperados da Coopram e para outros produtores da região. Ele conta que a temporada de 2023/2024, que se encerrou em agosto, deve somar mais de 1,5 milhão de tilápias entregues, sendo que mais de 80% foram para cooperados.

“O peixe é a minha única fonte de renda. Comprei um terreno em Alfredo Chaves, onde o clima é mais quente no inverno, para poder cuidar dos alevinos até virarem juvenis e dar conta da demanda”, conta ele. Assista abaixo a um vídeo em que Dioni mostra um pouco de como é a sua produção de alevinos em Alfredo Chaves.

Dioni Schunk comprou uma propriedade em Alfredo Chaves para criar tilápias juvenis

Na propriedade da família em Paraju, Domingos Martins, Dioni também tem uma produção de peixes. Ele é cooperado da Coopram e faz a entrega das tilápias para a cooperativa. A produção dele e de 10 a 12 toneladas por cada despesca.

“A maior dúvida de quem produz é se vai conseguir vender. E a cooperativa dá essa segurança, principalmente com o histórico de boa gestão ao longo dos anos, que vem crescendo. Outro fator importante é a qualidade do peixe produzido no Espírito Santo. O Rio de Janeiro consome muita tilápia, e quando os compradores passarem a conhecer nossa qualidade, o mercado tende ampliar ainda mais”, acredita

Dioni em Paraju

Dioni entrega sua produção de tilápias para a Coopram

Nova estrutura terá investimento de R$ 7 milhões

A nova indústria ficará em um terreno comprado pela cooperativa em Ponto Alto

 

Visando aumentar produção de filés e também dos novos produtos criados para aproveitar a carne da tilápia, a Coopram prevê investir R$ 7 milhões em uma nova indústria que será construída em um terreno adquirido recentemente em Ponto Alto, Domingos Martins, onde fica a sede da cooperativa.

Darli Schaefer informou que faltam apenas os trâmites burocráticos, como a licença ambiental, para iniciar as obras. Com o apoio do Sicoob já foi instalada uma usina de energia solar no terreno, que nos próximos dias passará a gerar energia para a cooperativa.

Foto: Julio Huber

Darli novo terreno

Uma usina de energia solar já foi instalada no terreno onde será construída a indústria

“Devemos buscar um empréstimo no Sicoob ou no Banestes para a construção. Nossa expectativa é começar as obras no início do próximo ano, e a previsão de conclusão é para o final de 2025. Com a nova indústria em funcionamento, passaremos dos atuais 60 mil quilos por mês, para mais de 200 toneladas de filés de tilápia processadas mensalmente”, informou o presidente da cooperativa.

Ele disse que inicialmente os atuais cooperados aumentarão a produção para atender à nova demanda, mas a intenção, em um segundo momento, é atrair novos cooperados.

Depois do filé de peixe, alunos vão consumir hamburguer saudável

Foto: Divulgação

Produção de filé de tilápia Coopram

A Coopram entrega filés de tilápia para escolas estaduais de todos os 78 municípios capixabas

Outro ponto em comum entre as cooperativas de Pernambuco e do Espírito Santo é a inserção da tilápia na merenda escolar. Atualmente, mais de 60% da tilápia produzida pelos cooperados da Coopram são destinados a escolas da rede estadual de todos os 78 municípios capixabas e também para escolas municipais de 12 cidades do país.

“Começamos a abrir mercado em prefeituras de outros estados, como em São Paulo e Rio de Janeiro. E vamos lançar novos produtos, como o hamburguer de tilápia. Ainda em setembro vamos fazer o teste com estudantes, mas a partir de fevereiro do ano que vem já devemos iniciar a entrega de 10 toneladas para as escolas estaduais capixabas”, adiantou Darli.

Além do hamburguer, que inicialmente será destinado às escolas, a Coopram também desenvolveu quibe, bolinho e almôndegas de tilápia, que serão comercializados em bares e restaurantes. “Sempre estamos em busca de novos clientes. Recentemente participamos de um edital para fornecer 10 toneladas de filé de tilápia para a Aeronáutica de Guaratinguetá (SP) a partir de setembro. No Espírito Santos temos Marinha, Aeronáutica e Exército, e também vamos conversar para tentar abrir esse mercado”, relatou.

E com esses novos produtos, a Coopram aumentou o aproveitamento dos peixes e agregou ainda mais valor às tilápias. “Investimos em um equipamento que retira os espinhos da carcaça do peixe, que atualmente é usada para fabricação de ração. Essa máquina faz uma carne moída de peixe. Assim, pretendemos aproveitar mais de 60% do peixe. Hoje em dia, retirando só o filé, o aproveitamento é de cerca de 33% da tilápia”, explicou Darli.

Com o aproveitamento de mais 80 gramas de carne por peixe, a cooperativa conseguiu aumentar a margem de lucro. “Todo dia jogávamos fora mais de 200 quilos de peixe. Agora, aumentamos o nosso ganho em mais de R$ 4 mil por dia com esse reaproveitamento. Sem contar que agregamos valor aos produtos que estamos produzindo com essa carne”, contou.

Maritos deve ganhar escolas de Pernambuco e aumentar renda de piscicultores

Foto: Divulgação

Maritos Pernambuco (3)

O maritos foi desenvolvido pela Copacoa para ser inserido no cardápio escolar de Pernambuco

Se no Espírito Santo o hamburguer deve ser inserido nas escolas, em Pernambuco a Copacoa criou o maritos, produzido com reaproveitamento da carne da tilápia que fica na carcaça após a retirada do filé. O produto será colocado em testes em algumas escolas nos próximos dias, com a expectativa de que entre no cardápio escolar a partir do ano que vem.

“Tentamos vender o filé de tilápia e o peixe inteiro, mas não tivemos sucesso. O filé é um produto mais caro e, mesmo não tendo espinho, havia um medo por parte da rede escolar de possíveis incidentes com as crianças. Foi então que surgiu a ideia de criar um produto diferenciado, e ao mesmo tempo, aproveitar ao máximo a tilápia”, disse Weliton Carvalho.

Além de não conter espinhos, o maritos foi desenvolvido em formatos de estrelas e outras figuras que chamem a atenção das crianças e depois possam ser empanados. A estimativa é de que a partir do momento em que o produto comece a ser consumido nas escolas, a demanda por tilápia seja crescente.

“Estamos otimistas, pois são mais de 500 mil alunos na rede estadual. Precisaremos dobrar a produção para conseguir produzir maritos para as crianças, considerando o consumo apenas uma vez ao mês nas escolas. Será mais uma garantia da compra dos peixes e também estaremos fornecendo um alimento saudável para os estudantes”, enfatiza Weliton.

Além disso, ele calcula que serão gerados mais de cinco mil empregos no campo. “A maioria dos piscicultores produzem de 500 a 600 quilos por mês, e esse aumento dá um impacto social e econômico muito grande para essas famílias. Sem contar que toda a cadeia cresce”, comenta.

O produtor Riã Santos Leôncio já está na expectativa do início da entrega dos maritos para a merenda escolar. “Com certeza vamos aumentar a produção. Sem contar que muitas crianças vão consumir o peixe que os pais produzem. É muito bom saber que nossos filhos vão consumir um alimento saudável”, afirmou.

O engenheiro mecânico e piscicultor Maurício Melo também está empolgado com a criação do maritos. É uma ideia muito boa e muito saudável para ser consumido pelas crianças nas escolas. Este projeto irá beneficiar tanto o produtor quanto a criançada nas escolas com uma alimentação muito saudável”, destacou.

O maritos será produzido na empresa Noronha Pescados. Segundo o diretor da empresa, Guilherme Blanke, a proposta da Copacoa coincidiu com uma vontade da empresa, que era o de estimular o consumo de pescados no público infantil.

“Entendemos que para crescermos o consumo de pescados no Brasil, precisamos ensinar as crianças a comer peixes, e para isso precisamos de produtos de qualidade que gerem o interesse das crianças em comer, e a escola é o local ideal para que eles tenham esta experiência”, destacou.

Entidades se unem para fortalecer o setor

A produção do maritos ganhou força após a união de diversas entidades na busca por alternativas para inserir o peixe no cardápio escolar. No último dia 12 de agosto foi dado um passo importante, com a criação da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Aquicultura e Pesca.

As Câmaras são reconhecidas por promoverem diálogo entre instituições e entidades públicas e privadas em prol do desenvolvimento do Estado. A reunião de instalação foi na sede da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe). A iniciativa conta ainda com o apoio do Sebrae Pernambuco.

O presidente da Copacoa, Weliton José de Carvalho, assumiu a presidência da Câmara, tendo como vice o presidente da Cooperativa Agro Aquícola de Petrolândia (CAAP), Fagner Barros Barbosa Pankararu.

O diretor de Inovação, Fomento e Arranjos Produtivos da Adepe, Pedro Neves Holanda afirmou que o governo do estado de Pernambuco tem o comprometimento com a piscicultura, aquicultura e pesca. “Sabemos no potencial do estado. Somos referência no Nordeste na produção de tilápia, mas podemos ir além, melhorando a infraestrutura, a qualificação de quem atua na área e dar incentivos fiscais para o setor”, disse.

O diretor da Adepe enfatizou que a Câmara Setorial irá alavancar as ações. “A Câmara já nasceu com pautas bem definidas. Os produtores, organizados em cooperativas e associações, trouxeram para nós assuntos como a introdução da tilápia na cesta básica, na merenda escolar e em outros programas de aquisição de alimentos, além de fomentos de equipamentos, rações e estruturação produtiva”, contou.

Sobre o maritos, Pedro Neves Holanda afirmou que o assunto tem a atenção da governadora Raquel Lyra, que quer incluir o produto na merenda escolar e nas cozinhas comunitárias, que só nos dois últimos anos, tiveram mais 140 unidades inauguradas.

FAO destaca a importância das cooperativas na erradicação da fome

Foto: Divulgação

Peixes

Para a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) as cooperativas desempenham um papel crucial na luta contra a fome 

O estímulo à produção de tilápia pela Copacoa em Pernambuco e pela Coopram no Espírito Santo tem um apoio importante da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) dos dois estados. E as cooperativas são apontadas pela FAO como fundamentais para a erradicação da fome e para a sustentabilidade do Planeta. O apontamento foi feito pelo oficial sênior de Políticas em Desenvolvimento Rural do Escritório Regional da FAO para América Latina e o Caribe, Luiz Beduschi, em um artigo publicado no último mês de julho. Ele informa que 2025 novamente foi declarado como o Ano Internacional das Cooperativas.

“As cooperativas, especialmente no setor agroalimentar, desempenham um papel crucial na luta contra a fome e a má nutrição. Esta questão é particularmente importante na América Latina e no Caribe. A subalimentação atingiu 6,5% em 2022, afetando 7,2 milhões de pessoas na América Latina e alarmantes 16,3% no Caribe. Esses números destacam a urgência de encontrar soluções eficazes e sustentáveis para combater a fome. A FAO identificou as cooperativas como aliados chave nesta luta, destacando a importância da agricultura familiar na cadeia agroalimentar”, escreveu ele.

OCB e Sebrae apoiam piscicultores dos dois estados

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Malaquias OCB-PE (1)

Malaquias Ancelmo de Oliveira enfatizou a importância do apoio da OCB/ES para as cooperativas 

O presidente do Sistema OCB/PE, Malaquias Ancelmo de Oliveira, destacou algumas ações da entidade em prol da ampliação do trabalho das cooperativas, como no acesso aos mercados. “Uma delas inclui o apoio à participação em feiras, a exemplo do que aconteceu com a Agrinordeste no ano passado, que contou com a participação da Copacoa. Também participamos na composição da Câmara Setorial, de forma a contribuir com orientações e soluções específicas para a estruturação da cadeia produtiva”, disse.

Malaquias ainda comentou sobre a criação do maritos, destinado à merenda escolar. “Se trata de uma inovação que trará trabalho e renda para milhares de pessoas. Uma coop, em especial a de pescado, ter uma iniciativa dessa significa muito porque valoriza o produto, agrega ganhos”, afirmou.

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Creiciano Paiva_Sistema OCB-ES

Creiciano Paiva explicou que a OCB/ES auxilia as cooperativas a participarem de compras governamentais

No Espírito Santo, a OCB/ES auxilia as cooperativas que atuam no fornecimento de mercadorias para a merenda escolar. O analista de Desenvolvimento Cooperativista do Sistema OCB/ES, Creiciano Paiva, informou que são realizadas diversas reuniões com as instituições que compram alimentos. Além disso, a entidade possui assento no Conselho de Alimentação Escolar (CAE), da Secretaria de Estado da Educação (Sedu).

“Mensalmente, representantes do Sistema OCB/ES visitam a Sedu e parceiros das cooperativas que fornecem alimentos para a alimentação escolar. A intenção é estimular a comercialização de itens produzidos por seus cooperados”, disse.

São diversos os produtos que as cooperativas capixabas destinam à alimentação escolar, mas os alimentos que têm maior volume de comercialização são tilápia, polpas de fruta, mexerica e feijão. “Das cooperativas registradas no Sistema OCB/ES, as que têm uma atuação mais forte nesse mercado são a Coopram, a Cooperfruit, a Clac, a CAFC e a Caf Serrana”, informou o analista.

De acordo com Creiciano Paiva, o faturamento de algumas cooperativas é 100% proveniente das chamadas públicas de prefeituras e de órgãos estaduais e federais. “Esses programas pagam um valor maior pelos produtos em comparação com o mercado privado”, acrescentou.

ATIVIDADE SUSTENTÁVEL – O Sebrae do Espírito Santo também tem desenvolvido ações de apoio à piscicultura. O analista da Regional Caparaó do Sebrae, Edimundo Bautz Modolo, citou um projeto que está sendo realizado na Fazenda Benfica, em Muniz Freire, com o objetivo de incentivar a piscicultura como uma atividade economicamente viável e sustentável.

Entre as ações se destacam a capacitação de piscicultores através de treinamentos, cursos e consultorias, com ênfase em boas práticas de manejo, gestão e comercialização dos produtos. O programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), desenvolvido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-ES), com apoio do Sebrae, também oferece consultoria técnica especializada para melhorar a produtividade e a rentabilidade dos piscicultores, além de orientações sobre tecnologias de manejo, controle da qualidade da água e alimentação dos peixes.

Outras ações são a promoção de feiras, seminários e rodas de negócios e projetos de sustentabilidade e certificação, com estímulo a práticas sustentáveis, como o uso eficiente da água e o controle ambiental, além de apo a iniciativas de certificação para valorizar os produtos no mercado.

De acordo com Edimundo Bautz Modolo, a piscicultura é importante para a diversificação em propriedades rurais e gera o aumento da renda familiar, o aproveitamento de recursos naturais, a geração de empregos, promove a sustentabilidade e uso consciente da terra, a flexibilidade de produção e contribui para a segurança alimentar.

“Com o manejo correto e a implementação de boas práticas, a piscicultura pode transformar propriedades rurais em unidades produtivas mais sustentáveis e lucrativas”, afirmou o analista do Sebrae.

Espécie representa 92% dos peixes brasileiros exportados

As exportações de peixes brasileiros têm crescido a cada ano. O último relatório divulgado pela Peixes BR, referentes ao segundo trimestre de 2024, aponta que houve um crescimento de 72% no faturamento da piscicultura brasileira no período, comparado com o trimestre anterior. Nos primeiros seis meses desse ano já foi exportado 79% de todo o ano passado em toneladas. A tilápia representa 92% desse volume.

O Paraná é o estado brasileiro que mais exportou tilápia, com um total de US$ 9,8 milhões (R$ 55 milhões), representando 72% do total exportado no período. São Paulo é o segundo maior exportador, com 26% de participação US$ 3,6 milhões (R$ 20 milhões).