Há muito mais entre o que agricultores recebem versus o que nós consumidores pagamos

Foto: Freepik

*José Luiz Tejon

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Sem dúvida a agricultura e a pecuária brasileira moderna têm salvo a economia brasileira. O saldo da balança comercial no ano deverá atingir US$ 126 bilhões. Quer dizer, sem a agricultura e a pecuária como a fazemos nos últimos 50 anos estaríamos na mesma condição de subsistência e subdesenvolvimento da maioria de todos os países dentro da faixa tropical do planeta, o cinturão tropical.

Porém isso revela da mesma forma o quanto nosso setor industrial não se desenvolveu na mesma proporção, apesar de termos uma agroindústria que vende para o mundo o maior volume, mas ainda distantes na contabilidade dos valores recebidos, e podemos estabelecer aqui uma relação desse saldo positivo da agricultura e pecuária, com o tema do preço dos alimentos.

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Então uma coisa são preços recebidos pelos produtores rurais, outra coisa bem diferente é preço pago por consumidores finais. O preço dos alimentos ao consumidor final, dependendo do nível de agregação de valor industrial, comercial e de serviços, é multiplicado por 3, 4 vezes ou até dezenas de vezes.

Exemplo simples: preço da saca do arroz para o produtor hoje de 50 kg. Na casa de R$ 100,00. Significa R$ 2,00 o quilo ao produtor. Preço do arroz na ponta do consumidor vai depender da marca, da qualificação, mas pode variar de R$ 6 a R$ 10 o quilo. Ou seja, de 3 a 5 vezes mais.

Quando olhamos o feijão, outro produto também essencial, mas com forte proximidade entre o campo e a mesa, da mesma forma vamos encontrar a multiplicação dos preços numa proporção parecida com o arroz.

Todavia quando formos para itens de maior valor agregado nos alimentos e bebidas, a multiplicação dos preços será o resultado de uma malha muito mais complexa. Veja a diferença entre o preço do café no campo versus seu valor no supermercado ou numa cafeteria, ou ainda na cápsula, dezenas de vezes maior.

Por outro lado, se vendêssemos para o mundo mais produtos com níveis superiores de agregação de valor agroindustrial nossas receitas seriam ainda muito superiores ao saldo comercial previsto para US$ 126 bilhões neste ano.

Está na hora de passarmos a administrar de verdade “agribusiness” versus polarizações inúteis entre os elos desse complexo sistema. E com isso termos de verdade uma “política e planejamento estratégico de agronegócio com sua correta tradução de agribusiness”, para vendermos muito mais e melhor para o mundo e termos abastecimento e preços locais no país justos tanto para produtores quando consumidores. Sem dúvida iríamos elevar a renda da população e combater a desigualdade social.

Há sem dúvida também pensando em segurança alimentar do país um papel muito importante a cargo da Conab, Companhia Nacional de Abastecimento, a ser desenvolvido como um plano de estado. Planos de estado de longo prazo são vitais e essenciais e a sociedade civil organizada precisa atuar.

*José Luiz Tejon é doutor em Educação pela Universidad de La Empresa/Uruguai, mestre em Educação Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie, jornalista e publicitário, com especializações em Harvard, MIT e PACE/USA e Insead na França. Colunista da Rádio Eldorado e Estadão On-line, autor e coautor de 37 livros. Coordenador acadêmico de Master Science Food & Agribusiness Management pela Audencia em Nantes/França e FECAP/Brasil. Sócio Diretor da Biomarketing e da TCA International. Profissional Head Agro Anefac. Prêmio Personalidade Agro ABAG 2023. Ex-diretor do Grupo Estadão, da Agroceres e da Jacto S/A.

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