Acordo UE & Mercosul atrai interesses gigantescos
Foto: Envato
*José Luiz Tejon
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Indústria, comércio e serviços da Europa significam algo em torno de 95% do PIB de suas economias desenvolvidas. O dentro da porteira, a agricultura propriamente dita europeia, tem um papel muito maior nas emoções das suas sociedades pelos traumas reais vividos por suas populações nas guerras, nos eventos das doenças vegetais dizimando as batatas, no medo de potenciais conflitos onde alimentos e energia sejam usados como “armas“, embargos gerando medo de desabastecimento. E assistimos um êxodo de populações jovens das regiões classicamente agrícolas europeias. Como exemplo o meu “pueblo” asturiano de Cuerigo, na Espanha, apenas para exemplificar.
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Agricultores são também usados hoje pelas polarizações político partidárias, como tão bem o criador do conceito de agribusiness no mundo, o prof. dr. Ray Goldberg nos relembrou na sua entrevista afirmando: “o alimento tem a missão de unir o mundo hoje polarizado e dividido por facções de políticos“.
Portanto, com a retratação do CEO do Carrefour pedindo desculpas se foi mal interpretado, em carta formal enviada ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse valorizar e enaltecer a produção agrobrasileira. Logo, vamos ao grande jogo dos mega interesses de bilhões de euros.
As corporações empresariais europeias objetivam expansão para mercados de imenso potencial de crescimento. E em todas as suas reuniões e congressos o foco está na Ásia, prioritariamente, e na América Latina.
Miram agregação de valor, tanto na ciência e tecnologias do antes das porteiras das fazendas, genética, digitalização, sistemas, mecanização robótica; quanto na agroindustrialização pós-porteira das fazendas, criando marcas e expandindo produtos e serviços voltados aos novos consumidores de economias crescentes como as asiáticas e perspectivas latino-americanas, onde o Brasil está sempre dentro dos 10 principais mercados consumidores dos principais produtos de consumo no mundo.
Desta forma, se a carne francesa chega nos supermercados franceses a 12 euros o quilo e a brasileira chega a 4 euros, o grande jogo do acordo EU & Mercosul não está na soja, milho, café em grão, carnes ou nas commodities. O interesse europeu econômico empresarial está, sim, no crescimento de sua indústria, comércio e serviços de valor agregado. E nos seus campos a prioridade está nos “terroir“, denominações de origem, onde também essa agricultura explora o alto valor percebido e estimativo, como queijos portugueses, champagne, cognac, vinhos, azeites, etc…
Portanto, a agricultura brasileira será muito bem-vinda como fonte de suprimentos, do “supply chain“ dentro da qualidade exigida e de um custo
poderosamente competitivo para as mil corporações empresariais que impactam e decidem cerca de 80% do complexo agroindustrial empresarial do mundo.
Mas, indústria brasileira, comércio, serviços como logística, financeiros, seguro, mercado de carbono, e indústria do biocombustível, aí, sim, briga do grande capital global.
Acordo UE Mercosul vai sair, sim! E logo.
E que marcas brasileiras apareçam e que o marketing estratégico floresça.
Au revoir….
*José Luiz Tejon é doutor em Educação pela Universidad de La Empresa/Uruguai, mestre em Educação Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie, jornalista e publicitário, com especializações em Harvard, MIT e PACE/USA e Insead na França. Colunista da Rádio Eldorado e Estadão On-line, autor e coautor de 35 livros. Coordenador acadêmico de Master Science Food & Agribusiness Management pela Audencia em Nantes/França e FECAP/Brasil. Sócio Diretor da Biomarketing e da TCA International. Profissional Head Agro Anefac. Prêmio Personalidade Agro ABAG 2023. Ex-diretor do Grupo Estadão, da Agroceres e da Jacto S/A.
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