O ano de 2020 pode ser o mais verde da história dos registros de defensivos agrícolas

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou o registro de 28 defensivos agrícolas formulados para uso de agricultores em todo o Brasil. A lista está disponível no Ato nº. 48 do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas da Secretaria de Defesa Agropecuária, divulgado na última quinta-feira (20), no Diário Oficial da União.  

Dos 28 insumos, cinco são inéditos, formulados a partir do ingrediente ativo piroxasulfona, isoladamente ou em mistura com outros ingredientes ativos. Essa é a primeira vez no ano que se registra produtos formulados a partir de ingrediente ativo inédito. A piroxasulfona é uma molécula herbicida menos tóxica, algumas já são comercializadas atualmente, e será utilizada para controle de plantas daninhas nas culturas do café, cana-de-açúcar, eucalipto, milho, soja, trigo, amendoim, batata, cevada, fumo, girassol e mandioca. 

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O Ato nº. 48 traz ainda, além dos cinco inéditos, dez insumos biológicos microbiológicos e um feromônio. Com a publicação, o ano de 2020 já soma 56 produtos de baixo impacto registrados. 

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“Esse é um recorde que contribui imensamente para a sustentabilidade da agricultura nacional, pois os produtos biológicos e microbiológicos não deixam resíduos nas culturas. São produtos formulados a partir de agentes biológicos de controle de pragas, como vírus e bactérias, e que atacam somente as pragas da lavoura, não causando nenhum efeito tóxico ao ser humano ou ao meio ambiente”, garante o coordenador-geral de Agrotóxicos e Afins do Mapa, Bruno Breitenbach. 

Segundo dados do Ministério da Agricultura, 2018 havia sido o ano com mais registros de baixo impacto, com 52 produtos autorizados. Os produtos que utilizam agentes de controle biológicos na formulação são alternativas de controle para agricultores no combate às pragas. Ainda de acordo com a pasta, esses insumos contribuem para o aumento da sustentabilidade da agricultura nacional. 

“Nossa expectativa é de que, até o final do ano, mais produtos que utilizam agentes de controle biológicos ou bioquímicos na sua formulação sejam registrados, tornando o ano de 2020 o mais verde da história em termos de registro de produtos fitossanitários de baixo impacto”, pontua Breitenbach.

O advogado especialista em direito ambiental e econômico Alessandro Azzoni explica que, entre uma plantação e outra, é preciso que o solo “descanse”. Os defensivos e fertilizantes industriais são usados, muitas vezes, para a reposição do solo, para que a produção não fique parada. 

“Quando se usa defensivo agrícola, falamos em aumentar a produtividade do agronegócio, maximizar a nossa colheita e eliminar as pragas. Mesmo com sementes hoje geneticamente modificadas para evitar risco de pragas, é preciso fazer a recuperação do solo justamente por conta do esgotamento da produção”, comenta. 

No entanto, Azzoni alerta que é preciso cuidado no uso dos produtos, já que a mistura entre substâncias pode trazer prejuízos. “O grande problema não é o uso dos fertilizantes isoladamente, o que ocorre muito é a mistura de defensivos. Quando você mistura dois defensivos com compostos químicos completamente diferentes, você cria outro componente que pode ser altamente contaminante”, avalia.

Grandes empresas, na opinião do advogado, estão mais preparadas para lidar com substâncias dessa magnitude, mas os pequenos produtores ainda passam por dificuldade nesse sentido. “Os grandes produtores agrícolas já têm um sistema de uso desses defensivos de forma a não contaminar o solo, mas o micro e pequeno produtor pode não ter esse cuidado. Na aplicação, pode ocorrer contaminação se estiver sem o uso de vestimenta correta. Pode haver mistura de componentes no solo e contaminação de outros solos, pela chuva, por exemplo”, elenca. 

No geral, o advogado considera um avanço o registro dos 28 defensivos, mas faz ponderações. “Todo defensivo agrícola influencia, de certa forma, o meio ambiente. Porém esses 28 defensivos podem ser vistos como um avanço, porque vão trabalhar de forma orgânica. Eles são considerados bactérias ou micro-organismos que combatem a praga, é um controle biológico. Vejo que é um avanço, com baixo impacto, mas todos defensivos, mesmo esses biológicos, podem liberar substâncias se não forem usados de forma adequada”, orienta. 

NOVIDADES – Além da piroxasulfona, outra novidade é o novo registro da flubendiamida. Até o momento, apenas uma companhia comercializava e produzia o produto formulado com essa molécula. O novo registro possui indicação para algumas pequenas culturas, como amendoim, aveia, centeio, cevada, ervilha, grão-de-bico e triticale. O Mapa considera essa quebra de monopólio uma vitória. “Com esse registro, o mercado tende a ser mais justo e os preços mais acessíveis para o produtor rural”, frisa Breitenbach. 

Para o coordenador do portfólio de insumos biológicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Ivan Cruz, o momento é oportuno para a discussão. Para ele, a busca por uma vida cada vez mais saudável e sustentável passa pela alimentação. 

“O controle biológico é direcionado para eliminar plantas ou insetos ou doenças que competem com o produto principal da agricultura. Mas por muitos e muitos anos, esse controle focou mais na aplicação de produtos insumos químicos, isso desde a 2ª Guerra Mundial, porque eram mais baratos. Mas isso foi mudando, o produtor evoluiu”, diz. 

Com o passar do tempo, foram surgindo outros problemas e houve um movimento mundial em busca de alimentos mais saudáveis, sem resíduos de produtos químicos. “Hoje, se fala muito em bioeconomia, ou seja, produzir alimentos garantindo a existência das futuras gerações. O Brasil é uma das maiores biodiversidades do mundo e sentiu que essa era uma oportunidade muito grande de mostrar produtos de igual eficiência aos produtos químicos, mas com uma vantagem enorme, que é o baixo impacto no ambiente”, continua o pesquisador. 

Além desses produtos de baixo impacto, ele recomenda, ainda, mais uma forma de controle de pragas e doenças, que é o uso de insetos nas plantações, como joaninhas e microvespas. “Hoje é possível fazer isso, inclusive em grandes produções, com uso de drones. Estamos mudando o patamar de pesquisa. Se você tem máquinas pesadas, caras e não tão ágeis, pode mudar para outro tipo de agricultura com controle biológico”, sugere Ivan. 

O pesquisador finaliza reconhecendo que todo defensivo causa um certo impacto, mas o Brasil vem sinalizando o interesse de mudar o panorama em termos de sustentabilidade. “Isso sem reduzir a produtividade”, completa. 

Os demais produtos, de acordo com o Mapa, utilizam ingredientes ativos já registrados anteriormente no Brasil. Os produtos foram analisados e aprovados pelo ministério, pelo Ibama e pela Anvisa, de acordo com critérios científicos e alinhados a práticas internacionais. 

Fonte: Brasil 61

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