Quebra na safra de conilon pode variar entre 50% e 70% em algumas regiões do ES
Bruno Faustino
As previsões eram animadoras e as perspectivas otimistas. O Espírito Santo, maior produtor de café conilon do Brasil, deveria colher 9,8 milhões de sacas de café robusta na safra 2020, segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas, após o início da colheita, cafeicultores capixabas registram perdas grandes nas lavouras. A quebra da safra, em algumas propriedades, chega a 50%.
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“Já esperávamos uma quebra da safra, mas não deste tamanho”, conta o cafeicultor Paulo Roberto Oliare, em Marilândia, noroeste capixaba.
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A propriedade dele tem 22 hectares plantados com café. A expectativa era colher 70 sacas por hectare, mas só conseguiu 45 sacas por hectare. “Já estamos terminando a colheita na semana que vem. Prevíamos uma queda de 20 a 30% na safra 2020, mas estamos vendo que os prejuízos na lavoura foram bem mais altos”, diz Oliare.
Em ano de pandemia do novo coronavírus, retardo para o início da colheita dos grãos, falta de mão de obra no campo, esses seriam bons motivos para explicar a situação. Mas o problema foi outro: mudanças climáticas.
“Vários fatores, positivos em alguns pontos e negativos em outros, influenciaram colheita do conilon no Espírito Santo. Após a colheita do ano passado, estávamos num período de seca, com temperaturas elevadas e preciptações baixas. Isso fez com que as lavouras não conseguissem florescer adequadamente. Paralelamente a isso, tivemos um período com fortes ventos na região noroeste do Espírito Santo, onde é produzida a maior parte do café robusta capixaba. Esse vento provocou queda de folhas e queda de flores e isso refletiu diretamente na produção”, explica o pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural e coordenador estadual de cafeicultura, Abraão Carlos Verdin.
Noroeste capixaba é a região mais afetada
O cafeicultor Aguinaldo Colombi, de São Gabriel da Palha, berço do café conilon no Espírito Santo, registrou num vídeo os prejuízos provocados pela ventania na lavoura da propriedade. “Nesta área, onde o vento pegou de frente, as flores foram todas para o chão. No geral, a minha quebra será de 30%”, relatou o produtor.
Imagens: Aguinaldo Colombi
Em 2019, o cafeicultor colheu 500 sacas de conilon, mas, este ano, a quantidade será bem menor. “O meeiro está colhendo a safra deste ano e, se conseguir dois secadores, será muito”, contou.
Fotos: Aguinaldo Colombi
O cafeicultor Elder Giori, de Nova Venécia, noroeste do Espírito Santo, também enfrentou quebra na safra por causa dos ventos fortes. Ele possui três lavoura. Duas delas sofreram com a ventania. “Uma das lavouras produziu, ano passado 1.475 sacas, mas, infelizmente, por causa de uma grande desfolha logo após a colheita ano passado, vai ter uma produção máxima de 700 sacas este ano. Numa outra área de um clone mais tardio, que colhe em julho, em 2019, a produção foi de 1.460 sacas. Em 2020, estou esperando entre 700 a 800 sacas. Esta última sofreu muito com vento e desfolha”, disse.
Em Colatina, o cafeicultor Guttieres Garozzi produz café em Córrego Santa Fé. Devido a ventania, não sobraram flores nos pés. Ele esperava colher 90 sacas por hectare, mas só conseguiu 40. “A minha propriedade é pequena, mas, em propriedades vizinhas, o prejuízo foi grande, chegando a 70%”, relata.
Fotos: Guttieres Garozzi
O empresário e especialista em café, Marcus Magalhães, deixa claro que problemas pontuais aconteceram e isso resultou em quebra em algumas regiões capixabas, não no Estado todo. “Essa quebra é fato, principalmente, nos municípios ao norte e noroeste do Espírito Santo por conta das questões climáticas – vento e chuva. Mas não podemos generalizar”, afirma.
O Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) ainda registrou o ataque de cochonilha nas lavouras capixabas. “O ataque de cochonilha aconteceu em setembro do ano passado que provocou uma redução no número de frutos nos pés”, pontua Verdim.
Ele ressalta que a situação só não está pior por conta das chuvas acima da média e temperaturas amenas. “De outubro pra cá, o fator climático foi positivo. Mas, devido aos problemas anteriores, muitos pés, aparentemente bonitos, estavam com ‘rosetas banguelas’ e muitas folhas e poucos frutos. Com isso, o resultado não poderia ser diferente: queda de produção acentuada que nem os produtores e os órgãos de pesquisa estavam esperando”, finaliza.
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