Pandemia faz aumentar a procura por mel e derivados

Julio Huber

Duas datas comemoradas essa semana destacam a importância do setor apícola. Hoje (20) é o Dia Mundial da Abelha e, na próxima sexta-feira (22), é o Dia do Apicultor. Nos últimos meses, devido à pandemia do coronavírus (Covid-19), cresceu a procura em todo o Brasil por mel, própolis e pólen, que são importantes aliados no fortalecimento do sistema imunológico do corpo.

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No Espírito Santo, cerca de 250 famílias produzem mel e fazem parte de associações ou entidades organizadas. Entretanto, também há outras famílias que produzem mel de forma particular e não estão ligadas a nenhuma entidade representativa. A informação é do apicultor Arno Wieringa, que é presidente da Federação Capixaba das Associações de Apicultores (Fecapis). Ele informou que o mercado teve um aquecimento na procura, e destaca a vendas regionais, em localidades próximas de onde o mel é produzido.

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Segundo dados da Fecapis, cerca 70% dos apicultores possuem a atividade como um complemento de renda e vendem a sua produção no mercado local ou regional. Vários deles já possuem a certificação necessária para a comercialização no varejo. Outros solicitaram apoio para poder inserir seus produtos nos estabelecimentos comerciais e em feiras na região.

Arno tem produção de mel e derivados em Domingos Martins

“Os apicultores de todo o estado estão buscando soluções e alternativas para poder continuar escoando a sua produção mesmo durante a pandemia. Além do principal produto, que é o mel, as produções de própolis e pólen são boas alternativas para o apicultor. Diante da demanda crescente de consumo de produtos naturais dos últimos anos, aliada à alta qualidade da própolis brasileira, sua produção deve ser encarada como uma boa possibilidade de diversificar a renda do apicultor”, destaca.

Ele afirmou que nos últimos dois meses, devido à pandemia, houve um aumento significante na procura de produtos que fortalecem o sistema imunológico, entre eles o mel, a própolis e o pólen. “A própolis é um produto oriundo de substâncias resinosas, gomosas e balsâmicas, colhidas pelas abelhas de brotos, flores e exsudatos de plantas (líquidos orgânicos que saem das plantas), nas quais as abelhas acrescentam secreções salivares, cera e pólen para elaboração do produto final”, informou o apicultor.

“As vendas de mel e própolis aumentaram cerca de 100% em todo o Brasil”

Nelson Victor de Oliveira – Diretor da Federação dos Apicultores do Rio de Janeiro

Além de o mercado interno nacional estar aquecido nos últimos meses, a alta do dólar também influencia no preço do mel exportado por empresas nacionais. “Esses fatores estimulam a produção. O pequeno produtor rural pode ter a produção de mel cada vez mais como uma excelente forma de incremento da renda”, enfatizou Arno.

LEGALIZAÇÃO – De acordo com o presidente da Fecapis, o setor possui um bom diálogo com órgãos estaduais, como o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), com o principal objetivo de regularizar e capacitar o setor. Por meio de parceria com diversos órgãos ligados ao setor rural, os apicultores recebem treinamentos e atuam para melhorar a produtividade e qualidade do mel e derivados.

Os apicultores recebem treinamentos por meio de parceiros

“Cada vez é maior o número de apiários que possuem certificações que possibilitam a comercialização do mel no mercado, seja por meio de selos municipal, estadual ou federal de inspeção. Nossa entidade dá todo o suporte para que os apicultores regularizem e certifiquem a produção. Vale lembrar que há muitos apicultores que comercializam a produção para grandes empresas nacionais, sem a necessidade, nesses casos, de selos para venda regional. Porém, há outras exigências legais para esse tipo de comercialização”, informou.

Própolis e pólen fortalecem o sistema imunológico

Por ter um processo um pouco mais complexo, a Fecapis pretende identificar as regiões promissoras para a instalação de apiários direcionados à produção de própolis, identificar métodos de produção mais eficientes e gerar informações sobre as características físico-químicas e sensoriais da própolis produzida nestas regiões. Tudo isso visando incentivar a produção no Estado como uma alternativa de renda para o apicultor.

“É preciso comprar um produto certificado e não adquirir algo sem procedência”

Arno Wieringa – Presidente da Federação Capixaba das Associações de Apicultores (Fecapis)

Em relação ao uso da própolis para fins terapêuticos por humanos e animais, Arno destacou que já foram constatadas propriedades bactericidas, bacteriostáticas, antifúngicas, analgésicas, cicatrizantes, anti-inflamatórias, antioxidantes, entre outras. “Entretanto, justamente em função dessas propriedades, a própolis só deve ser utilizada como prevenção ou quando necessário”, reforça.

Arno explicou que a composição da própolis está intimamente relacionada às espécies vegetais utilizadas pelas abelhas para sua produção. Características como aroma, consistência, cor (que varia de amarelada até preta) e granulometria também variam de acordo com sua origem botânica. As condições climáticas também afetam as características da própolis e a atividade de coleta das abelhas. Dessa forma, existe uma significativa variabilidade nas características da própolis.

O pólen requer técnicas específicas para ser produzido

Uma dica importante é para que o apicultor fique atento na genética das suas colmeias, pois nem todos os enxames produzem própolis suficiente para viabilizar esta atividade, segundo disse Arno Wieringa.

A produção de pólen é ainda mais complexa, destacou Arno. “É um alimento complementar rico em proteínas, aminoácidos, fibras, hormônios vegetais e vitaminas. Auxilia como regulador intestinal; estimula a sexualidade; aumenta a função imunológica; ativa as funções estomacais; retarda o processo de perda muscular; diminui o estresse, cansaço e esgotamento físico; melhora as funções cerebrais e orgânicas em geral; proporciona um gasto menor de energia, dobrando a resistência física, entre outros benefícios”, informou.

QUALIDADE – Arno destaca que a principal forma de identificar um mel de qualidade é verificar se há um selo de inspeção no rótulo. “Eu sempre digo que comprar mel requer juízo. É preciso comprar um produto certificado e não adquirir algo sem procedência, muitas vezes vendido perto de estradas e ilegalmente por sacoleiros. Esse é o primeiro passo, e o principal, para ter um mel de qualidade. Como em todos os produtos, é preciso conhecer quem produz. O consumidor está cada vez mais exigente, e isso força também a produção legalizada”, disse.

Vendas crescem 100% no Brasil

No Rio de Janeiro, a Secretaria de Agricultura, por meio da Emater-RJ, informou que o setor movimentou mais de R$ 10 milhões no ano de 2019 no Estado, com uma produção acima de 291 mil quilos de mel produzido por 914 apicultores. A Região Sul do Estado, com destaque para o município de Paty do Alferes, é a maior produtora de mel, seguida das Regiões Centro, Serrana, Norte e Noroeste”, explicou Marcelo Queiroz, secretário de Agricultura.

De acordo com o diretor da Federação dos Apicultores do Rio de Janeiro, Nelson Victor de Oliveira, as vendas de mel e própolis aumentaram cerca de 100% em todo o Brasil. “O nosso consumo interno absorveu o déficit da exportação. E com a grande procura pelo produto, já existe até uma quase escassez do mel no país”, explicou.

Segundo Nelson, o valor do mel no mercado interno brasileiro teve uma elevação de 60 a 70%, e a própolis subiu mais de 100%. “O brasileiro passou a consumir mais mel nesse período de pandemia, pois além de ajudar o corpo contra ataques de vírus, é um produto saudável e nutritivo”, destacou. Nelson também lembrou que o Brasil está entrando no período de entressafra de produção, e haverá ainda mais falta de mel no mercado.

Com relação à exportação, Nelson Victor de Oliveira acredita que haverá procura do mercado externo, pois foi descoberta fraude no mel produzido na China, maior produtor do mundo. “Os chineses estavam misturando um xarope feito com arroz para aumentar o volume do mel. Isso vai fazer com que o Brasil abra mercado. Hoje, somos o quinto maior produtor de mel do mundo, com cerca de 45 mil toneladas por ano. Para se ter uma ideia, a Argentina produz 90 mil toneladas por ano, com uma extensão territorial bem menor”, informou.

Nelson Victor de Oliveira produz mel nas cidades de Cachoeiras de Macacu , Nova Friburgo e Bom Jardim, no Rio de Janeiro

O representante dos apicultores do Rio de Janeiro ainda fez um apelo para que o setor seja levado com mais seriedade pelas autoridades políticas. “Os governos precisam tirar as amarras e deixar o setor fluir. A pandemia trouxe um resultado positivo para o setor, mas é preciso mais inventivo”, comentou.

A criação de abelhas é uma atividade econômica de caráter essencialmente ecológico, envolvendo a polinização das flores, formação de frutos e contribuindo na dispersão de inúmeras espécies de vegetais dependentes desses insetos. Sabe-se que sem as abelhas, a produção mundial de alimentos cairia drasticamente, afetando toda a população, assim como a formação das florestas pelo planeta.

O apicultor, além de ter sua atividade econômica com a produção de mel e derivados, auxilia na polinização com a criação desses insetos, que ao buscarem o pólen nas flores, fazem esse trabalho. O apicultor trabalha em união com a natureza fornecendo as abelhas para a polinização e recebendo em troca o mel. “As abelhas assumem uma elevada importância na vida de todos os seres vivos, e para o equilíbrio dos ecossistemas”, finalizou o secretário.

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