Foto: Divulgação
Bruno Faustino, com informações da Embrapa
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Junte uma professora, três estudantes universitários e dois engenheiros. Adicione boas doses de ciência, inovação e tecnologia. Multiplique com muita criatividade e conhecimento. O resultado desta equação é certo: a solução de problemas do cotidiano que melhorem o dia a dia da sociedade. É quase sempre assim que surgem as grandes idéias e soluções.
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E, com uma startup de Viçosa, em Minas Gerais, não foi deferente. A Volutech – empresa formada por Gustavo Duque, estudante de Agronomia na UFV e diretor da empresa; Sávio Filho, estudante de Medicina Veterinária na UFV e diretor de vendas; Vitor Paixão, engenheiro mecânico e projetista da empresa; Polyana Rotta, professora de produção e nutrição de bovinos leiteiros na UFV e diretora científica da empresa; Lucas Sanders, engenheiro eletricista e diretor técnico e, por fim, Diogo Lourenço, estudante de Sistema de Informação na PUC Minas e Arquiteto de Software da empresa. Juntos, eles desenvolveram um equipamento que utiliza sensores para medir com precisão o volume de leite armazenado nos tanques de resfriamento da pecuária leiteira.
“Eu nasci numa família de produtores de leite e acho que a tecnologia, a ciência e o conhecimento estão empoderando o produtor rural brasileiro. Hoje, são inúmeros exemplos de startups que estão trabalhando para trazer o poder e tornar o produtor mais eficiente e sustentável”, diz o estudante universitário Sávio Filho.
IDEIA – A inovação surgiu do Desafio de Startups promovido pela Embrapa Gado de Leite (MG) para incrementar o chamado ‘Leite 4.0’. A aproximação entre a pesquisa agropecuária e as universidades é um dos principais objetivos do Ideas for Milk, que conta com uma maratona de equipes que tem como objetivo o desenvolvimento de soluções para problemas do cotidiano (hackathon) e do Desafio de Startups. Pesquisadores e analistas da Embrapa Gado de Leite percorrem universidades em todo o País ministrando palestras sobre a importância das novas tecnologias no agronegócio.
“A nossa empresa não existia antes de 2018. A nossa professora foi convidada para participar da competição, selecionou os envolvidos e fomos para Juiz de Fora, aqui em Minas Gerais, para participar do desafio. E o nosso equipamento surgiu lá. E, agora, estamos o lançando com apoio da Embrapa”, conta Sávio.
EQUIPAMENTO – Com cerca de 20 centímetros de comprimento, o equipamento é instalado na tampa dos tanques de resfriamento e também é capaz de registrar a temperatura do leite em diversos períodos do dia, os momentos em que o tanque foi aberto e se ocorreram picos de energia durante o resfriamento ou alteração no volume de leite no tanque.
“Quando houver variação no volume do tanque diferente do horário da ordenha, os sensores conseguem reconhecer, evitando furto de leite”
Sávio Filho – Universitário
Mais segurança ao produtor
A pecuária de leite está presente em 98% dos municípios brasileiros. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estima que, no Brasil, existam aproximadamente 961 mil produtores de leite. Nos últimos 11 anos, a produtividade brasileira cresceu 62% e a produção chegou a 30 bilhões de litros, segundo o IBGE.
Nas fazendas, o processo de retirada do leite é sempre o mesmo: “Normalmente, fazemos duas ordenhas ao dia – uma pela manhã e outra à tarde”, explica o pecuarista Francisco Luiz Gonçalves Cortat, 38. No sítio Serra do Caracol, em Guaçuí, sul do Espírito Santo, Francisco possui 60 animais, sendo 23 vacas adultas. Dezesseis estão em lactação e produzem 180 litros/dia. O leite é armazenado num tanque de expansão com capacidade de 600 litros e recolhido pelo laticínio de dois em dois dias. A medição é feita pela tradicional régua do tanque. “Para evitar erros, é importante que o tanque esteja bem nivelado”, conta o produtor.
E é justamente aí que entra o equipamento desenvolvido pelos estudantes. “O Volutech traz segurança de ser vendido e recebido exatamente o que foi produzido. O erro, proporcionado pela má utilização da régua nas fazendas, engana o produtor. Durante a pesquisa para o desenvolvimento da solução, nós encontramos diferença de 10 mm num tanque. Isso equivale a 60 litros por coleta. É um erro e tanto”, revela o universitário Sávio.
Cinco problemas que o equipamento resolve: 1º – Tanque mal nivelado – O desnivelamento do tanque ocorre durante a instalação em uma base de alvenaria malfeita. Um desnível que altere um centímetro na coluna do leite pode representar alterações de cerca de três litros de leite para mais ou para menos. 2º – Picos de luz – Quedas de energia interferem no resfriamento do leite e a temperatura inadequada favorece o aumento da contagem bacteriana, interferindo na qualidade do produto. O Volutech registra picos de luz e o tempo em que o leite deixou de ser refrigerado, fornecendo informação para tomada de decisão de laticínios e produtores. 3º – Roubo de leite na propriedade – Não é incomum ocorrerem furtos de leite na propriedade. O Volutech informa não só a hora que a ordenha foi feita, mas também o momento em que o tanque é aberto, tornando possível registrar qualquer tipo de sinistro. 4º – Fraude na medição – Mudar a posição ou o ângulo da régua que mede a coluna do leite é uma maneira de fraudar o volume. Com a medida realizada por sensores, esse tipo de fraude deixa de ser possível. 5º – Perda de tempo – O equipamento torna o trabalho mais ágil, pois simplifica o processo. Supondo que o motorista do laticínio demore cerca de cinco minutos para fazer a leitura do volume do leite e que isso se repita em 15 propriedades, ao longo do dia serão necessários uma hora e quinze minutos. Um tempo que pode ser economizado com a leitura digital. |
O supervisor dos campos experimentais da Embrapa Gado de Leite, Armando Carvalho, diz que o equipamento é uma ferramenta útil tanto para produtores quanto para indústrias de laticínios e tem um grande apelo mercadológico. “A medição com a régua convencional é um problema grave para a indústria e para o produtor, já que ambos têm interesse em saber o volume real do leite que será captado”, relata Carvalho, ressaltando que, se o tanque não estiver nivelado adequadamente, a medição com a régua torna-se imprecisa.
CUSTO – O Volutech terá baixo custo e os laticínios serão os principais clientes. Tanques de grande capacidade já possuem a medição eletrônica, mas, segundo Carvalho, estão fora do alcance dos pequenos e médios produtores, além de não possuir o mesmo nível de conectividade e interatividade. “O novo equipamento será o primeiro a entrar no mercado tendo esse público como foco”, destaca Sávio Filho, diretor de vendas da Volutech, que conclui no próximo ano o curso de Medicina Veterinária da UFV.
A startup estuda utilizar o sistema de comodato, ou seja, irá ceder o equipamento e os produtores e laticínios pagarão uma mensalidade para arcar com os custos e manutenção. “O custo para o produtor deve ficar abaixo de R$ 100,00 para ter acesso à tecnologia. Como alguns laticínios pagam bônus para os produtores pela qualidade do leite, se ele investir na tecnologia, terá precisão e um bom produto, sem dúvidas”, afirma o estudante.
O chefe-adjunto de Transferência de Tecnologias da Embrapa Gado de Leite, Bruno Carvalho, diz que existe muito espaço para as novas tecnologias no agronegócio do leite. “A cadeia produtiva do leite está aberta ao dinamismo dessa geração que nasceu no contexto das inovações digitais, com grande capacidade de apresentar novas soluções para os velhos problemas do agro”, finaliza.
A inovação do Volutech
Para entender como a tecnologia funciona, é preciso saber como o leite é armazenado e de que forma é feita a coleta nos tanques de resfriamento pelos laticínios.
A coleta do leite em cinco passos: 1º – Depois de ordenhado (com ordenhadeira mecânica), o leite é bombeado por meio de dutos até o tanque. Lá, o produto é refrigerado a cerca de 4° Celsius. 2º – A cada um ou dois dias, o caminhão do laticínio, que possui um tanque isotérmico para preservar a temperatura do leite, vai à fazenda fazer a coleta. 3º – O motorista do caminhão faz as análises necessárias e calcula, por meio da régua do tanque, a altura da coluna de leite. 4º – Cálculos feitos a partir de uma tabela própria darão como resultado o volume a ser coletado, que será anotado e informado ao laticínio. 5º – Com o produto transferido para o tanque isotérmico do caminhão, misturado ao leite de outras fazendas, o caminhão segue sua rota. |