O setor agropecuário e o combate ao coronavírus
Evair de Melo
Deputado Federal (PP-ES), presidente da Frente Parlamentar do Cooperativismo, vice-presidente da Frente Parlamentar do Café e membro da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
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Poucas pessoas conhecem a origem da palavra quarentena. A prática começou na Itália, com o objetivo de isolar navios que chegavam ao Porto de Veneza para evitar o risco de contaminação durante a Peste Bubônica, no século 14. Atualmente, quarentena significa isolamento aliado a cuidados. E sua duração varia de acordo com cada situação.
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No Brasil, há anos, o setor agropecuário pratica a quarentena com brilhantismo, de forma extraordinária, principalmente na avicultura, suinocultura e bovinocultura. E não há necessidade de paralisação da produção para a realização da quarentena. No cultivo de frutas, como na cultura do mamão, por exemplo, elimina-se a área atingida pela praga e segue-se cultivando o restante da plantação.
Em tempos de pandemia do coronavírus, quarentena tornou-se a palavra do momento. Apontada como a única maneira de conter a transmissão do vírus entre a população, a quarentena tornou-se sinônimo de isolamento social no Brasil.
Contudo, quarentena não deve ser interpretada como confinamento absoluto. Mesmo no atual cenário de pandemia do coronavírus, é possível, com rigor técnico, disciplina e orientação, manter as atividades de parte da população sem a contaminação comunitária.
E para que isso aconteça, o poder público deve considerar o posicionamento dos profissionais da área agropecuária, que têm a expertise necessária para falar sobre o assunto, principalmente no que se refere às barreiras sanitárias e a interrupção do transporte rodoviário.
A pesquisa agropecuária e a extensão rural brasileira podem ajudar a todo o país durante essa pandemia do coronavírus. É importante lembrar que o agronegócio brasileiro não é fruto do acaso. É resultado de muitas pesquisas e é referência internacional porque, entre outras medidas, faz quarentena. O Agro tem muito a ensinar e muito a contribuir neste momento.
Outra medida de controle, já adotada por alguns municípios capixabas, é a desinfecção das vias públicas, com produtos à base de cloro. Além de prevenir o coronavírus, essa prática também ajuda a eliminar fungos e bactérias, prevenindo também a população de outras doenças.
Vale lembrar que essa é uma situação muito nova para todos nós. É preciso ter calma, bom-senso e equilíbrio. Uma política planejada, por parte dos prefeitos e governadores, garante tranquilidade aos produtores rurais e à população em geral, durante a pandemia do coronavírus, para que não haja desabastecimento ou aumento dos preços dos produtos.
Para mitigar os impactos, entrei em contato com o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, propondo a redistribuição dos Ceasas do Espírito Santo, a revisão da política de distribuição de alimentos do Estado e a elaboração de um plano para garantir o abastecimento de produtos hortifrutigranjeiros, leite e proteína animal no mercado capixaba durante a pandemia do coronavírus.
É preciso planejamento na distribuição e no abastecimento de alimentos no estado. A colheita do café, por exemplo, prevista para começar nos próximos dias, também pode ser fortemente prejudicada, mas a orientação e informação por parte de agrônomos e extensionistas do Incaper, e é claro das autoridades da pasta da agricultura, serão fundamentais no processo da colheita em tempos de pandemia.
Com a crise, os produtores de café e os trabalhadores rurais estão inseguros. Não sabem se a movimentação de trabalhadores de outros estados do país será permitida.
Como boa parte desses trabalhadores vêm de Pernambuco, Alagoas e Minas Gerais lancei uma cartilha com orientações para evitar a contaminação pelo coronavírus. Com esses cuidados e higiene redobrada, acredito que o deslocamento da mão-de-obra e a colheita do café poderão ser feitos com segurança.
Tenho tratado diretamente com a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina a importância de fazer uma política de seguro de renda mínima aos produtores rurais, para garantir os novos plantios, pois entendemos que a existência por tempo indeterminado da pandemia, pode acarretar a insegurança desses agricultores de não renovarem suas lavouras, o que provocaria um desabastecimento, inclusive de alimentos fundamentais da cesta básica.
Acredito que é preciso fazer o isolamento social nos grandes centros do país, com segurança, garantindo o mínimo de normalidade das cidades, pois muitas medidas já adotadas podem ser revistas, usando a expertise do Agro para fazer quarentena e proteção sanitária.