Banana pra dar e vender

Espírito Santo se consolida entre os cinco maiores produtores de banana do Brasil. A fruta está presente em 90% dos municípios capixabas

São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina e Espírito Santo são os maiores produtores nacionais

Bruno Faustino

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“Yes, nós temos bananas / Bananas pra dar e vender / Banana menina tem vitamina / Banana engorda e faz crescer”. Assim, de forma descontraída e bem humorada, a talentosa Carmem Miranda eternizou, com bom humor, as qualidades da banana na famosa marchinha de carnaval composta por Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha, em 1938. A letra retratava um país agrícola, que produzia, além das bananas, algodão, café, mate. Mas o que ficou na memória de todo mundo foi mesmo o sucesso das bananas.

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Apesar de tropical, a banana não é genuinamente brasileira. A fruta veio da Ásia, onde é cultivada há mais de quatro mil anos. Chegou à Europa no século 1 a.C., pelas mãos dos romanos. A expansão do Islã levou a banana para a África, de onde veio para o Brasil, trazida pelos portugueses. Graças a isso, nós nos transformamos num dos maiores produtores e exportadores mundiais de banana.

O país produz, por ano, quase cinco milhões de toneladas de bananas (4.857.439,150 toneladas), segundo o Censo Agropecuário 2017, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A fruta é a mais consumida pelos brasileiros. Os cinco tipos mais consumidos são: nanica, maçã, prata, ouro e da terra. São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina e Espírito Santo são os maiores produtores nacionais. Em terras capixabas, Linhares, Alfredo Chaves, Laranja da Terra e Iconha são os municípios que mais produzem banana.

“A banana tem uma importância social e econômica muito grande para os capixabas. São 26 mil hectares plantados e uma produção média de 14 toneladas por hectare. É muita coisa”, ressalta Alciro Lamão Lazzarini, coordenador Regional Litoral Sul/Incaper.

Presente em mais de 90% dos municípios capixabas, a fruta é facilmente adaptável. A bananeira é cultivada em 17 mil propriedades rurais, predominantemente familiares, e gera cerca de 30 mil empregos diretos em sua cadeia produtiva. Em 80% da área cultivada, a banana prata predomina.

Sidinei Bonadiman é produtor de banana em Iconha, no sul do Espírito Santo

“É um bom negócio. O melhor é que entra dinheiro toda semana. A gente tem sempre um dinheirinho no bolso.”

Sidinei Bonadiman – Produtor

A Revista Negócio Rural percorreu o Espírito Santo para mostrar a importância da banana na geração de renda na agricultura familiar. A primeira parada foi na comunidade de Monte Belo, em Iconha, Sul do Espírito Santo. O produtor Sidinei Bonadiman, 52 anos, possui quase 30 mil bananeiras e colhe 250 caixas por semana. “É um bom negócio. O melhor é que entra dinheiro toda semana. A gente tem sempre um ‘dinheirinho’ no bolso”, conta o produtor.

Ele produz banana prata orgânica há 35 anos. Mas nem sempre a produção foi sem veneno. “Quando a gente começou a plantar banana aqui na região, não se usava veneno. Depois, começamos a usar e, há 19 anos, deixamos os agrotóxicos de lado e nos certificamos como orgânicos”, diz Sidinei.

A produção é comanda por ele, pela esposa e pelos filhos. Quando a família começou a produzir alimentos orgânicos, a procura era pequena, mas, hoje, a banana orgânica cultivada na propriedade ganhou o Brasil. “Nossa banana já é conhecida fora do Estado”, comenta o produtor.

Cooperativismo dá visibilidade à produção capixaba

O município de Iconha produz, aproximadamente, 15 mil toneladas de bananas por ano (14.725,916 toneladas). E a maneira encontrada pelos produtores para escoar tudo o que é produzido na região foi por meio da Cooperativa dos Agricultores Familiares Sul Litorânea do Estado do Espírito Santo (Cafsul).

Criada em 2011, a Cafsul possui, atualmente, 200 cooperados e a banana é o carro-chefe da organização. “É a maior fonte de renda da cooperativa, além de ser a base da agricultura familiar da região. A banana representa a maior receita e atende vários mercados no país”, expõe Gustavo Paganini Dadalto, presidente da cooperativa.

“Conseguimos unir os cooperados e aumentar a produtividade. Nada disso seria possível sem a força do cooperativismo” 

Gustavo Paganini Dadalto – Presidente da Cafsul

Toda a produção dos cooperados atende a diversos mercados: Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Isso só foi possível graças ao trabalho desenvolvido pela cooperativa. “Além de visibilidade, a logística empregada pela cooperativa e o contato com novos mercados possibilitou levar as nossas bananas para outros Estados”, ressalta do produtor Sidinei Bonadiman, um dos cooperados da Cafsul.

O município de Iconha produz, aproximadamente, 15 mil toneladas de bananas por ano

Além do comércio atacadista de frutas, a cooperativa também comercializa verduras, raízes, tubérculos, hortaliças e legumes frescos em feiras livres e supermercados. Os alimentos também são destinados à merenda escolar por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

“A nossa maior conquista foi a abertura de mercado. Começamos carregando na beira da estrada e hoje temos uma estrutura logística, um centro de distribuição, temos frota própria, estrutura administrativa, loja, departamento financeiro e vários parceiros. Desta forma, conseguimos unir os cooperados e aumentar a produtividade. Nada disso seria possível sem a força do cooperativismo”, ressalta o Gustavo Paganini Dadalto.

Agroindústria agrega valor à banana do Espírito Santo

Vera Lúcia Monteiro Barcelos comanda um grupo de mulheres, em Cariacica, que produz banana desidratada

Apesar de pertencer à Região Metropolitana da Grande Vitória, o município de Cariacica possui 54% do seu território em zona rural. E foi lá que encontramos um grupo de mulheres que descobriu uma alternativa para aproveitar parte da produção do município de quase seis mil toneladas de banana por ano. 

“A gente via muita banana desperdiçada. Elas não estavam ruins não, mas, muitas vezes, estavam fora do padrão. Foi aí que decidimos fazer banana passa para vender”, conta Vera Lúcia Monteiro Barcelos, uma das idealizadoras do Grupo 7M, criado a partir da Associação de Mulheres Rurais das Comunidades de Cachoeirinha e Sabão.

O trabalho começou em 2006. Elas receberam capacitação e montaram uma agroindústria. No início, as mulheres de Cachoeirinha produziam mariola e, logo depois, ganharam uma estufa para fazer a banana passa. Atualmente, são seis mulheres que produzem 100 quilos por semana. Por ano, elas chegam a produzir 2,5 toneladas de bananas passa. O trabalho acontece às segundas, quartas e sextas-feiras. Mas por que três dias? “Porque a banana demora 36 horas para desidratar. Por isso, o trabalho na agroindústria acontece apenas três vezes por semana”, explica Vera.

Além da banana passa, a agroindústria também produz banana chips, bombom de banana e farinha de banana. E aqui também o cooperativismo estendeu a mão para alavancar o negócio. “A Cooperativa Agroindustrial do Espírito Santo (Agrocoop) nos achou no site da Prefeitura de Cariacica porque necessitava de alguém que produzisse banana passa para confeccionar um bombom de banana. Fizemos uma reunião e nos cooperamos a eles. Agora a cooperativa leva os nossos produtos até para fora do país. Tem banana passa daqui de Cariacica que já foi para os Estados Unidos e até para Dubai, chique, né?”, brinca Vera.

E será que elas estão satisfeitas com a parceria? “É muito bom ter a cooperativa ao nosso lado. A gente sabe produzir, mas não sabe comercializar. E esse trabalho a Agrocoop sabe fazer muito bem. Sem a cooperativa seria muito difícil”, lembra a cooperada.

“A gente via muita banana desperdiçada. Elas não estavam ruins não, mas, muitas vezes, estavam fora do padrão. Foi aí que decidimos fazer banana passa para vender” 

Vera Lúcia Monteiro Barcelos – Associação de Mulheres Rurais das Comunidades de Cachoeirinha e Sabão

A Agrocoop foi criada em 2015 com a ideia de levar os produtos capixabas dos 167 cooperados a novos mercados. E deu certo. Dentre os itens comercializados estão: suco de uva integral, tomate seco, geleia, café, frutas in natura, gengibre e, é claro, banana passa.

“A cooperativa agregou ainda mais valor ao trabalho desenvolvido pela Associação de Mulheres Rurais das Comunidades de Cachoeirinha e Sabão. Elas já produziam um produto bom. Todo mundo que compra gosta e nós só demos um ‘tapa’ no visual das embalagens e montamos o plano logístico para levar o produto até o consumidor. Esperamos aumentar o volume de vendas e, consequentemente, o volume de produção também”, diz Wellington Luiz Pompermayer, presidente da Agrocoop.

Ciência e tecnologia: o futuro da banana capixaba

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) preveem um aumento de 17% na produção agrícola e pesqueira na América Latina e no Caribe até 2027. O relatório Perspectivas Agrícolas 2018-2027, divulgado pelas entidades, aponta que mais da metade desse crescimento (53%) pode ser atribuído a um aumento na produção agrícola, cerca de 39% ao setor pecuário, e os 8% restantes como resultado da expansão da produção pesqueira.

Este crescimento levantado pela OCDE e pela FAO se deve, basicamente, a melhorias no rendimento da produção. É difícil pensar nisso sem falar de ciência e tecnologia. A cada dia, mais estas duas palavras estão presente no dia a dia do homem do campo. E não precisamos ir longe para comprovar. 

Em visita às montanhas capixabas, a Revista Negócio Rural conheceu um laboratório especializado em clones de mudas de banana, a Clontec. Isso mesmo! Pesquisadores estão clonando mudas mais resistentes de banana para garantir melhor produtividade e evitar perdas com o aparecimento de doenças, entre elas, a Sigatoka negra (Mycosphaerella fijiensis), a Sigatoka amarela (Mycosphaerella musicola) e o Mal do Panamá (Fusarium oxysporum f.sp. cubense).

O engenheiro agrônomo Renato Abreu desenvolve clones de banana tolerantes a doenças

“Vimos que este era um nicho de mercado e decidimos apostar”, diz Renato Abreu, 56, pesquisador e engenheiro agrônomo. O trabalho começou há oito anos. Renato é mestre em Metabolismo e Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, e já desenvolvia um trabalho de reprodução ‘in vitro’ com orquídeas. Como o mercado necessitava de mudas de banana, ele apostou na ideia e já produziu mais de 15 mil mudas de banana clonadas resistentes a doenças.

“A principal vantagem da reprodução de mudas in vitro é a não propagação de pragas. A bananicultura é ameaçada, constantemente, por fungos e eles podem acabar com a produção do agricultor”, explica o pesquisador.

Para quem pensa que a tecnologia não cabe no bolso, o pesquisador garante que o preço é acessível. O processo de clonagem das mudas dura de oito meses a um ano e requer alguns cuidados. “O procedimento é realizado dentro de uma sala esterilizada para não haver contaminação em nenhuma fase do processo. Tudo para que no final tenhamos uma planta idêntica a que clonamos”, ressalta Renato.

O laboratório é capaz de clonar seis variedades de banana. As mais procuradas são a prata e a da terra. O pesquisador possui uma parceria com o Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), responsável pela indicação da muda mais adequada para a realidade de cada produtor.

“A principal vantagem da reprodução de mudas in vitro é a não propagação de pragas. A bananicultura é ameaçada, constantemente, por fungos e eles podem acabar com a produção do agricultor” 

Renato Abreu – Pesquisador e engenheiro agrônomo

“O Incaper tem um trabalho consolidado na cultura da banana. Há mais de 30 anos vem trabalhando genótipos mais resistentes a pragas e doenças. O trabalho desenvolvido pela Clontec é sério. São mudas sadias, padronizadas e com vigor. A ciência e a tecnologia são importantes para o desenvolvimento da produção agrícola atual. Graças à ciência conseguimos produzir bananas “genuinamente” capixabas. Os exemplos estão aí: a Japira e a Vitória são conquistas das pesquisas do Incaper. De nada adianta o recurso econômico sem a ciência”, lembra Alciro Lamão Lazzarini, coordenador Regional Litoral Sul/Incaper.

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