Macacos estão ameaçados devido a interação e comida oferecida por visitantes

Foto: Divulgação

Ver famílias alimentando animais silvestres dos parques e zoológico é algo recorrente, quase que cultural. No entanto, a atitude, que parece inofensiva, prejudica a fauna e ameaça as espécies dos locais de preservação ambiental. Pensando nisso, estudantes de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Brasília (CEUB) desenvolveram estudo sobre a alimentação e os impactos das interações com visitantes dos macacos que vivem no Parque Nacional de Brasília. A mostra aponta os riscos do contato com humanos e malefícios que os alimentos trazidos pelos visitantes causam aos animais.

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A pesquisa qualitativa alerta que a crescente dependência dos macacos por alimentos fornecidos pelos visitantes, junto aos problemas de saúde e alterações comportamentais observadas, geram consequências graves para o comportamento e a saúde mental desses primatas.

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“A dependência leva a interações perigosas, como conflitos com visitantes e consumo de alimentos deteriorados ou contaminados. A longo prazo, essas práticas ameaçam a saúde e o bem-estar dos macacos, comprometendo sua longevidade e seu papel ecológico no ambiente”, destaca a estudante Eduarda Mendes, coautora da pesquisa.

De acordo com o estudo, cerca de 60% dos alimentos consumidos pelos macacos-prego do Parque Nacional provêm de visitantes. Diariamente, produtos industrializados são oferecidos aos macacos, como salgadinhos, biscoitos e bebidas açucaradas. Essa substituição da dieta natural, além da dependência por esses hábitos, pode desenvolver doenças como diabetes e obesidade nesses animais.

A introdução de alimentos industrializados reduz significativamente o consumo de frutas nativas por parte dos animais, prejudicando sua função no equilíbrio da flora. “Essa mudança compromete o equilíbrio ecológico, ameaçando a reprodução de diversas espécies vegetais no parque”, destaca o estudo. Isso porque o macaco-prego – uma das espécies que vivem no Parque – desempenha papel importante na dispersão de sementes no cerrado, contribuindo para a regeneração florestal.

A orientadora da pesquisa, Francislete Melo, professora de Medicina do CEUB, alerta que a interação com a espécie humana cria oportunidades para a transmissão de zoonoses e alteração comportamental. Os macacos podem portar febre amarela, herpes vírus B e raiva. Por outro lado, os humanos podem infectar os primatas com tuberculose, campilobacteriose, salmonelose e shigelosem, além de doenças parasitárias, como a amebíase. “A manipulação de alimentos e a proximidade física aumentam os riscos de contaminação cruzada, que pode resultar em surtos de doenças infecciosas entre as espécies”, destaca a docente.

CONSCIENTIZAÇÃO – O Cerrado é um dos biomas mais ricos e ameaçados do mundo, com 70% de sua vegetação original já destruída, o que compromete a sobrevivência de diversas espécies. No Parque Nacional de Brasília, a fauna se beneficia das matas ciliares e áreas próximas aos cursos d’água para sobreviver e se deslocar. Três espécies de primatas vivem no local: Macaco-prego, Mico-estrela e Bugio-preto. Onívoros, estes animais se alimentam de espécies vegetais e de pequenos animais, como insetos, anfíbios e roedores.

Para conscientizar a população quanto à preservação das espécies e do cerrado, o estudo do CEUB propõe melhorar o acesso à informação dos visitantes com a instalação de placas mais atrativas com QR codes educativos, fiscalização rigorosa e campanhas de sensibilização dentro do parque. “A realização de palestras, treinamentos para funcionários do parque e a distribuição de materiais informativos podem fortalecer a convivência harmoniosa entre visitantes e a fauna local”, considera a autora Eduarda Mendes.

Os autores do projeto também indicam ações para proteger a dieta natural dos primatas, preservando sua saúde e função ecológica. “Entre os próximos passos estão a instalação de lixeiras seguras para evitar o acesso dos animais a resíduos, restrições à entrada de alimentos inadequados e a ampliação das iniciativas de educação ambiental. Conscientizar a população é fundamental para preservar a fauna e flora”.

As dicas para observar os macacos do Parque Nacional de Brasília sem representar ou se expor ao perigo são: respeitar distância mínima de sete metros ao observar ou fotografar os animais; evitar qualquer contato físico ou manipulação dos animais e permanecer em silêncio para não assustar os animais.

Fonte: Máquina CW

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