Fotos: Julio Huber
Texto: Julio Huber
Anúncio
Acordar, preparar o café, comer um pão com manteiga e uma fatia de queijo e ir ao trabalho. Assim começa o dia de milhões de brasileiros. E nesse hábito que atravessa gerações, muita gente não percebe, mas por trás desses produtos tradicionais do dia a dia do brasileiro está muita inovação, tecnologia, conhecimento e sustentabilidade.
Anúncio
Com o passar dos anos, as tradicionais formas de cultivar o café e de produzir queijo mudaram, dando lugar a técnicas que estão transformando a agricultura brasileira. Todo o conhecimento adquirido por meio de pesquisas e novas tecnologias fizeram com que o café brasileiro conquistasse o paladar do mundo, agregando mais renda e qualidade de vida a milhões de famílias de produtores do país.
Já o queijo passou a não apenas fazer parte do café da manhã, mas hoje eles possuem características únicas e sabores regionais, que são admirados e premiados em concursos mundiais. Tudo isso o tornou um item indispensável para as mais diversas ocasiões, agregando valor e levando mais renda a quem o produz.
E quando se fala em café e em queijo de qualidade e premiados internacionalmente, logo se pensa em Minas Gerais, essa potência do setor agrícola nacional. Para se ter uma ideia, 70% do café arábica produzido no Brasil na atual safra é cultivado em terras mineiras, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que estima uma produção de 39,59 milhões de sacas de arábica no país. Cafeicultores de Minas Gerais serão responsáveis pela produção de 27,69 milhões de sacas desta espécie.
As primeiras lavouras de café no Triângulo Mineiro foram registradas por volta de 1800. A partir daí, outras regiões do Estado passaram a cultivar café, como a Mata de Minas, devido a proximidade com o Rio de Janeiro, que era destaque no cultivo do grão naquela ocasião.
Desde aquela época até hoje, muita coisa mudou, a cafeicultura evoluiu, novas variedades foram desenvolvidas, pesquisas foram realizadas e o produtor passou a implementar novas técnicas nas lavouras. Um exemplo é o da família do jovem Fabiano Diniz, 28 anos, de Manhuaçu, na região da Mata Mineira.
Fabiano, que não pensava em permanecer na propriedade, se apaixonou pela cafeicultura, e em pouco tempo passou a ser referência na região com a produção de cafés de qualidade. Ele e a irmã Josiane Diniz, 24, tiveram total apoio dos pais e revolucionaram a forma de cultivar café. Hoje, a família coleciona prêmios de qualidade no município, no estado e no país.
E o que impulsionou os irmãos a se dedicarem nas lavouras foi o conhecimento. “Eu já fiz curso de barista, de torra e de prova de café especial. “Esses cursos ajudam a separar os lotes, entender o que deu errado e o que pode ser melhorado”, disse.
E foi comercializando os primeiros lotes de cafés especiais que Fabiano visualizou que a sua oportunidade de futuro não estava fora da propriedade, mas sim em suas lavouras. Ele chegou a trabalhar três anos dirigindo caminhão, e quando começou a cultivar cafés e perceber o potencial que tinha em mãos, voltou para as suas raízes na propriedade e hoje ele não pensa mais em outra atividade a não ser a cafeicultura.
“Teve ano que conseguimos vender lotes de cafés especiais com valor seis vezes superior ao pago a um café tradicional. Nossos pais sempre nos apoiaram, mas ter esse valor agregado foi um estímulo muito importante. Também me agradou muito a forma sustentável com que lidamos com as lavouras”, afirmou.
Fabiano, que é cooperado da Cooperativa Regional Indústria e Comércio de Produtos Agrícolas do Povo que Luta (Coorpol), contou que nunca imaginava ver um café produzido por ele e por sua família chegar à Europa e Ásia. “Sem contar os inúmeros concursos que vencemos. No mais recente, no último dia 31 de outubro, conquistamos cinco premiações de 11 em um concurso de qualidade do município. É muito gratificante”, comemorou.
Nessa busca por conhecimento, Fabiano encontrou no Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Administração Regional de Minas Gerais (Senar Minas) o aliado. Todos esses cursos citados por ele foram feitos por meio do Senar. Há dois anos ele participa também da Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), que tem contribuído com a gestão da propriedade.
Senar estimula jovem a permanecer na propriedade da família
Fotos: Divulgação
Terceira geração na produção de café na propriedade da família, que fica em Botelhos, no Sul de Minas, o jovem Gabriel Lima, 22 anos, não via na lavoura um futuro promissor, até que o técnico de campo João Mateus Ferreira, instrutor dos cursos do Senar/MG, mudou esse pensamento dele. Meio desconfiado e sem muito entusiasmo, já que ele não pretendia dar continuidade à produção de café, Gabriel resolveu participar do ATeG, e a empolgação com o que aprendeu logo no início reacendeu o desejo de permanecer na propriedade.
“O terreno passou do meu avô para meu pai, e eu estava indo embora para a cidade. Eu já faço outros trabalhos, e não tinha interesse em continuar com o café. Antes da chegada do João Mateus eu estava certo que iria abandonar tudo. No início nem queria participar do ATeG. Na época eu tinha pouco mais de mil pés de café, e a geada tinha destruído tudo. Eu estava muito desanimado”, relembrou ele.
Após o técnico apresentar algumas alternativas e mudanças na propriedade, Gabriel resolveu experimentar, e hoje já não pensa mais em deixar a propriedade, muito pelo contrário. “Ainda não tenho muito café. Estou plantando novas lavouras, mesmo contra a vontade do meu pai, que aos poucos está aceitando certas mudanças. Já comprei um trator e estou investindo nas lavouras, sempre com a orientação técnica”, contou o jovem cafeicultor.
Hoje a cafeicultura já é a principal atividade de Gabriel. “Cerca de 90% das minhas lavouras tem cerca de dois anos. Se não fosse o incentivo do João Mateus, hoje eu não estaria aqui, com certeza. Hoje em dia meu pai já vem aceitando algumas inovações, mas ainda meio resistente. Mas, aos poucos ele já está renovando lavouras dele também”, disse.
Cafeicultura recupera lavouras da família e vai do prejuízo ao lucro
Fotos: Divulgação
Outro exemplo da importância do apoio do Senar para a cafeicultura mineira é o de Daniela Abreu da Silveira, 56, também de uma família com tradição na produção de café em Botelhos. Ela contou que assumiu a gestão da propriedade em 2021. “Foi bastante desafiador, uma vez que estávamos com as lavouras depauperadas e com baixa produtividade”, recorda.
Ela disse que em agosto de 2022 surgiu a oportunidade de ingressar no programa ATeG, com o consultor João Mateus. “Foi uma transformação na propriedade. Através da assessoria, escolhemos os talhões que seriam conduzidos e foram implementadas várias ações técnicas e gerenciais que fizeram toda a diferença na propriedade, aumentando significativamente a produção”, relatou.
Daniela disse que com o acompanhamento dos custos e fazendo o correto gerenciamento, se tornou novamente viável a condução das lavouras. “O trabalho do João Mateus é excelente, tanto do ponto de vista técnico como gerencial, e esperamos continuar no programa o máximo de tempo possível, pois os resultados são notáveis”, afirmou.
João Mateus Ferreira destacou que os produtores que participam do ATeG conseguem transformar a realidade nas propriedades. “Seguindo as orientações técnicas, o Gabriel conseguiu um recorde de produção em uma lavoura de dois anos e meio. A Daniela também conseguiu melhorar as práticas na propriedade e mesmo sem muito recurso, tirou as lavouras do prejuízo para o lucro. É muito satisfatório alcançarmos resultados como esses”, afirmou o instrutor do Senar/MG.
João Mateus começou o trabalho em Botelhos em agosto de 2022. “Iniciamos coletando os dados dos produtores, fazendo uma análise das propriedades e vendo o que elas precisavam melhorar, tanto do ponto de vista gerencial, que é o financeiro do produtor, quanto do ponto de vista técnico, melhorando o manejo da lavoura para produzir mais. E nesses dois anos vemos muitos resultados positivos, como no crescimento da produtividade, com o manejo melhor e a melhora na qualidade de bebida do café”, contou o instrutor do Senar/MG.
Mais de 400 mil produtores foram beneficiados pelo Senar/MG
Foto: Senar/MG
Muito da evolução da cafeicultura de Minas Gerais se deve graças a inúmeros programas de apoio aos produtores rurais, que gerenciando melhor a propriedade, passam a produzir mais, com melhor qualidade, com sustentabilidade e, consequentemente, aumentam a renda familiar.
E nesse quesito entra o Sistema Faemg Senar, que anualmente capacita milhares de produtores rurais com cursos nas áreas de pecuária, tecnologia para o agro, maquinários, cultivo de hortaliças, frutas e legumes, produção de alimentos, educação, saúde, entre outros. Presente há 31 anos em todas as cidades de Minas Gerais, o Senar Minas, em parceria com os Sindicatos de Produtores Rurais, leva a sala de aula para as fazendas.
São cursos de formação profissional, ações de promoção social (saúde, educação), cursos de educação formal e de assistência técnica e gerencial, por meio do programa ATeG. Entre os resultados, estão a melhoria dos empreendimentos rurais e da qualidade de vida dos homens e mulheres no campo. Apenas com o ATeG são atendidos 14.124 produtores de 14 cadeias produtivas. Desde o seu início, em 2016, foram atendidos 36.483 proprietários rurais.
Outro destaque é a Formação Profissional Rural (FPR), que é um processo educativo, não formal, que tem como objetivo capacitar o profissional para o mercado de trabalho rural, possibilitando-lhe o domínio de tecnologia atualizada e o gerenciamento do próprio trabalho.
“São mais de 400 mil pessoas beneficiadas em cursos e programas desde 2022. Atualmente, são oferecidos 450 cursos e 26 programas de Formação Profissional Rural e Promoção Social. Além disso, são cinco cursos técnicos em Agronegócio, Fruticultura, Florestas e Agricultura e quatro cursos de graduação tecnológica pela Faculdade CNA em BH e Manhuaçu: Gestão do Agronegócio, Gestão Ambiental, Gestão de Recursos Humanos e Processos Gerenciais”, informou a assessoria de imprensa do Senar/MG.
Agricultura regenerativa é realidade na cafeicultura mineira
Foto: Agro Beloni
E não basta aumentar a produtividade e a qualidade dos cafés a qualquer custo, é preciso fazer isso preservando o meio ambiente. E esse tema tem trazido mudanças sem volta ao setor agrícola brasileiro. O sistema tradicional de cultivo está dando lugar a práticas agroecológicas, o que tem proporcionado mais saúde aos agricultores e consumidores – já que o uso de agroquímicos tem sido reduzido e até eliminado em muitas propriedades – e contribuído cada vez mais para o sequestro dos gases efeito estufa (GEE) da atmosfera.
São diversas iniciativas ambientais em prática atualmente, mas uma tem ganhado espaço em lavouras de café do Brasil. Trata-se da agricultura regenerativa, que vem se expandindo no país e já virou referência mundial, após uma lavoura do Cerrado Mineiro obter a primeira certificação no mundo para cafés produzidos nesse sistema.
Como o nome sugere, esse sistema de produção visa regenerar a terra, o meio ambiente e transformar as lavouras em armazenadoras de carbono, o que está de acordo com a meta da Organização das Nações Unidas (ONU), que aponta a restauração de ecossistemas como uma boa alternativa para sequestrar carbono e mitigar as emissões de GEE da atmosfera.
A Agro Beloni, que fica na fazenda Santa Cruz da Vargem Grande, localizada em Patrocínio, no Cerrado de Minas Gerais, se tornou a primeira produtora de café no mundo a receber a certificação de agricultura regenerativa Regenagri – programa internacional de agricultura regenerativa, que visa garantir a saúde da terra e o cuidado com quem nela vive.
“A agricultura regenerativa é aquela que busca melhorar o equilíbrio do solo e das plantas, através do desenvolvimento da vida biológica de ambos”, diz Fernando Nogues Beloni, diretor da produção cafeeira da Agro Beloni.
No município de Paraguaçu, no Sul de Minas Gerais, a Cooperativa Mista Agropecuária de Paraguaçu (Coomap) há alguns anos iniciou um projeto para estimular a agricultura regenerativa. O gerente de sustentabilidade da cooperativa, Rogério Araújo Pereira, explicou como está sendo esse processo de mudança nos tratos culturais das lavouras.
“Decidimos implementar a agricultura regenerativa porque o mercado exige cada vez mais cuidado com o meio ambiente, e também por conta da suspensão do uso do glifosato”, informou. Rogério explicou que o manejo requer a inserção de plantas forrageiras no meio da lavoura e o uso de produtos biológicos. Assim, segundo ele, os cafezais terão uma maior resistência às pragas e doenças, e os fertilizantes biológicos serão mais eficientes, pois o solo deixará de ser compactado.
A Coomap está subsidiando a compra de sementes de plantas de cobertura. A implantação em cada hectare gira em torno de R$ 300 a R$ 400 e a cooperativa custeia cerca de 50% desse valor. Rogério também destacou a importância da qualificação por meio do Senar/MG. “Temos uma importante parceria com o Senar desde 2015. Fazemos de 70 a 80 cursos por ano e temos um mobilizador dentro da cooperativa que estimula a participação dos produtores. O Senar contribuiu com cursos de aplicação de defensivos agrícolas, do uso das roçadeiras manuais, de tratorista e mais uma série de outros”, explicou.
Fabiano Diniz, de Manhuaçu, também é um exemplo de que as práticas sustentáveis trazem resultados para a lavoura e também para as pessoas. “Nós não usamos agrotóxicos e isso nos traz uma segurança para a nossa saúde. Ter práticas sustentáveis faz com que o próprio meio ambiente dê uma resposta positiva. Algumas pragas que dão problemas a outros produtores, não nos afeta, porque com o nosso manejo, a natureza dá conta de arrumar os inimigos naturais”, relatou.
ORIENTAÇÃO TÉCNICA – Em Botelhos, José Ricardo Albino, 48, juntamente com seu cunhado, há quatro anos reinventaram a forma de produzir café, após orientações do técnico de campo do Senar/MG João Mateus Ferreira. José Ricardo contou que as lavouras tinham várias deficiências nutricionais e mesmo com a correção de solo não alterava a situação, já que o manejo não era o adequado.
“Hoje as lavouras estão bem nutridas, pois fazemos uma boa correção, tudo com orientação do agrônomo, que por aliás um ótimo profissional. E também iniciamos o manejo da agricultura regenerativa, que tem trazido excelentes resultados”, conta.
O cafeicultor disse que já participou de diversos cursos oferecidos pelo Senar, que agregou ao trabalho na lavoura. “Agradeço muito ao Senar, porque o apoio da ATeG caiu como uma luva para nós. Conseguimos sair de 20 para 31 sacos de café por hectare, e a tendência é chegar a 35 sacos no ano que vem”, relatou.
Queijos com história, sustentabilidade e sabor regional
Fotos: Divulgação
A arte de se produzir um queijo atravessa gerações. Com o passar dos anos, as técnicas foram sendo aprimoradas, as receitas de família foram ganhando novas versões, mas a essência de cada região foi preservada e valorizada. Minas Gerais, Estado conhecido pelos seus famosos queijos, até emprestou seu nome a um dos queijos mais consumidos no país, o “queijo tipo minas”.
Mas, a grande joia mineira são os queijos regionais, com suas características e sabores únicos de cada localidade. Na cidade de Porteirinha, no Norte de Minas Gerais, a Associação dos Pequenos Produtores de Queijo Artesanal da Serra Geral (Aproqueijo) tem buscado efetivar ações de valorização do território produtivo da região, que congrega, atualmente, mais de 150 queijarias e outras 25 pequenas indústrias artesanais dedicas ao requeijão em barra.
A estimativa é de que o setor movimente anualmente cerca de R$ 70 milhões na economia local. A Aproqueijo possui 17 associados, alguns produzem o próprio leite – em média de 300 a 400 litros diários – e outros adquirem leite de parceiros, nesse caso, podendo chegar até a mil litros para a produção diária de queijos.
De acordo com o secretário da associação, Fernando Alves Souza, da Fazenda Lagoa Velha, a entidade agrega valores aos produtos dos associados, atua na busca por soluções de problemas do grupo e busca levar conhecimento e qualificação aos integrantes do grupo, muitos deles continuando a tradição familiar de produzir queijo.
“Eu montei uma queijaria e compro o leite produzido pelo meu pai e meu avô, que seguem na criação de vacas”, contou. Fernando informou que o Senar/MG é o parceiro nos cursos de qualificação que tanto tem contribuído para a melhoria nos métodos de produção dos associados. “Sempre que precisamos, o Senar está à disposição para nos ajudar. É um apoio muito importante”, afirmou.
EXPERIÊNCIA NA ITÁLIA – Neste mês de outubro, quatro integrantes da associação viajaram para a Itália, em uma visita técnica com o objetivo de conhecer queijarias tradicionais do país europeu e aperfeiçoar sistemas produtivos. O grupo de produtores, que são ex-alunos do ATeG, do Sistema Faemg Senar, tem se destacado na fabricação de produtos de excelência, conquistando vários prêmios nacionais.
Rubnei Santos Gomes, da Queijaria Rubi, foi uma das produtoras presentes na visita técnica. Ela, que passou pelo ATeG Balde Cheio e Agroindústria, destaca que o impacto dessa experiência na Europa será muito positivo para toda a região. “Estamos buscando novas técnicas de produção e novos produtos para agregar em nossas queijarias. Uma troca de experiências dessas, vindo de outro país, é muito valiosa, de um local onde se valoriza a tradição, o modo de fazer, a sucessão familiar, o cooperativismo e o subsídio do governo para com os pequenos produtores, entre outros”, comentou.
Agora, os quatro vão transmitir aos demais associados os aprendizados colhidos na Itália e, a partir disso, montar novos planos de ação para a valorização produtiva regional. Para Lucas Carvalho, da Queijaria Dona Saúde, a troca de experiências vai trazer muitas coisas boas que poderão ser aplicadas na realidade do Norte de Minas.
“Eu aprendi muito, tanto em conceito de personalidade e de como lidar com pessoas, quanto em conceito de produção. Eu entendi muitos dos erros que cometemos nos acertos deles. Cada detalhezinho que eu observei nas queijarias que visitamos eu trouxe e espero melhorar, de agora para frente, nessas questões”, afirmou. As visitas fizeram parte de um programa especial, chamado Jornada do Queijo, envolvendo produtores de outras regiões do país.
Características únicas garantem reconhecimento de queijos mineiros
A terra dos cafés e dos queijos não poderia deixar de ser a pioneira no país a conquistar registros de Indicação Geográfica (IG) para o café e o queijo. O café do Cerrado Mineiro foi o primeiro do país a ter suas características únicas reconhecidas, assim como o queijo do Serro, primeiro do Brasil a ter IG.
As IGs são concedidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) a associações, cooperativas e organizações que passam a ter a chancela de usar esses registros em produtos e serviços feitos por seus integrantes. As Indicações Geográficas são associadas à qualidade ou à maneira singular de se fazer um produto ou serviço. Pode ser pela tradição da região, pela técnica ou por alguma matéria-prima que só exista neste local. O principal objetivo é promover a história e a cultura de uma região. E isso é intransferível.
Um dos queijos mais conhecidos no país é o da região da Canastra, que também foi reconhecido com a IG. Produzido há mais de 200 anos, é primo distante do queijo de São Jorge, de Açores, em Portugal, e foi trazido pelos imigrantes da época do Ciclo do Ouro. O seu modo artesanal de produção dos queijos com leite cru é registrado desde 2008 como patrimônio cultural imaterial brasileiro, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O Queijo da Canastra obteve a sua Indicação Geográfica em 2012 e integra sete municípios que ficam aos arredores da reserva ambiental da Serra da Canastra. São eles: São Roque de Minas (com 42% de toda produção), Medeiros, Tapiraí, Bambuí, Vargem Bonita, Delfinópolis e Piumhi. Essa região possui mais de 790 produtores mapeados, sendo atualmente 55 associados Associação de Produtores de Queijo da Canastra (Aprocan), que detém o direito do uso da IG.
O casal Lúcia e Ivair Oliviera é um exemplo de que preservar as origens e inovar é a chave para o sucesso. A propriedade do casal fica em São Roque de Minas e foi herdada de geração em geração, desde os bisavôs de Ivair. O queijo deles foi premiado internacionalmente com medalha Super Ouro no Concurso Mundial da França em 2019 e 2021 (Mondial du Fromage) e nacionalmente com quatro medalhas de bronze e uma de prata no Concurso Prêmio Queijo Brasil.
“Ele é feito com muito carinho. Produzir queijo precisa de fazer com amor, não fazer por fazer. É muito emocionante saber que fazemos parte de uma história. Quando as pessoas elogiam e vemos que gostam do nosso queijo, ficamos felizes e vemos que temos que preservar a história da Canastra. É uma pedra de diamante que temos, e precisamos passar de geração em geração. A tradição veio do meu bisavô, meus avós, dos meus pais e agora está com a gente, e queremos passar para nossos filhos e não podemos deixar acabar, temos que crescer”, diz entusiasmado Ivair.
O queijeiro Guilherme Ferreira conta que o terroir do queijo da canastra o torna uma iguaria única e apreciada. “Eu sou a quinta geração de produtores de queijo na família e depois que me formei em veterinária resolvi voltar para a propriedade e resgatar a produção. O que torna o queijo único é essa tradição, é o saber fazer que passa de geração em geração. Quando as pessoas provam o queijo, viajam pensando que estão aqui na Canastra. A qualidade da água, os tipos de minerais do solo, o pasto e o gado que se desenvolveu na região reflete no produto final, que é o queijo”, explicou.
De acordo com o Senar/MG, ao promover a capacitação dos produtores rurais, bem como a assistência técnica e gerencial, são algumas das ações do Sistema Faemg Senar que impactam diretamente na qualidade dos produtos. “Além disso, a atuação da Faemg, entidade que defende os interesses políticos, econômicos e sociais dos produtores rurais mineiros, também é importante neste contexto, ao reivindicar políticas públicas que favoreçam as práticas produtivas de Minas Gerais”.
E a intenção desses treinamentos é mostrar que à medida em que os cursos e programas permitem o acesso a novas tecnologias e inovações, o trabalho no campo é atualizado. “O Sistema Faemg Senar desenvolve programas e conduz comissões para estimular a permanência dos jovens no campo e formar uma nova geração de empreendedores, viabilizando economicamente a propriedade a partir de uma abordagem voltada para a gestão eficiente das atividades”, concluiu a assessoria do Senar/MG.